Veteranos querem resgatar poder das mãos dos civis e já têm seu próprio pré-candidato

DESTAQUE POLÍTICA
  • Generais e ala Nyusi em guerra aberta
  • “Velhotes” dispostos a corrigir um erro de casting chamado Filipe Nyusi
  • A demora actual visa, em parte, fintar a estratégia dos veteranos
  • Ala actualmente no poder negou a formação do Conselho de Anciões no Congresso

Determinantes, mas com um papel cada vez mais decorativo, os veteranos da Luta de Libertação Nacional, na sua maioria generais, tentam a todo custo recuperar algum protagonismo num partido pincelado e com órgãos formados à medida dos interesses de Filipe Nyusi e Roque Silva. Com efeito, os “velhotes”, que outrora foram a reserva moral de um partido em crescente degradação de valores, têm estado em constantes concertações nos últimos meses, visando impor um general como solução para resgatar a credibilidade do partido diante do povo e dar um novo rumo ao país. Tem sido ventilado o nome do general António Hama Thay como sendo a aposta, mas este, numa entrevista recente à TV Sucesso, não confirmou, até porque a sua potencial candidatura vem sendo gerida secretamente para não se tornar alvo a abater pelos grupos que já tomaram a dianteira.

Evidências

Continua a incógnita em torno do próximo candidato da Frelimo, quando faltam apenas sete meses para as eleições de 09 de Outubro próximo. A aparente indefinição não se deve apenas à aflição de Filipe Nyusi, que busca um candidato que lhe possa garantir imunidade depois de deixar o poder, mas também a uma guerra aberta dentro do partido, com vários grupos a buscarem mais protagonismo.

Entre os grupos que cintilam, há um que neste momento está remetido a um grande silêncio, mas Evidências sabe que tem estado activo nos bastidores da busca por um candidato presidencial. Trata-se do grupo de Veteranos da Luta de Libertação Nacional, que tem estado em cimeiras de concertação.

Segundo corredores apurados pelo Evidências, os “velhotes” estão revoltados com a forma como o país está a ser governado e procuram resgatar a confiança do povo. A estratégia passa, segundo apuramos, por devolver o partido e os destinos do país às mãos dos generais.

É que os veteranos culpam os civis pelo actual estágio das coisas. Filipe Nyusi foi, até aqui, único presidente civil e sua governação tem sido um total desastre, marcada, dentre outros pecados, na visão dos generais, pelo fraco investimento no exército, que se mostra cada vez incapaz de lidar com os desafios do país, sobretudo em Cabo Delgado, para além daquilo que chamam de desmantelamento do SISE.

Ao nível da administração do Estado culpam a actual liderança pelos problemas estruturais, como a crescente das condições de vida, o aparente vazio de ideias, fracassos a vários níveis das iniciativas do governo, tendo como ponto mais alto a atabalhoada Tabela Salarial Única, má gestão do dossier das dívidas ocultas, entre outros.

Hama Thay propalado como proposta dos velhotes

Para substituir Filipe Nyusi, na óptica da ala conservadora, o nome que tem sido apontado como aposta dos velhotes é o do general António Hama Thay, um homem com passado de dirigismo no Governo, desde os tempos de Samora Machel, e que tem andado discreto nos últimos anos, mas permanece o mais capaz mental e fisicamente quando comparado com seus pares do seu tempo.

O seu nome tem sido gerido com alguma cautela, por isso raras vezes aparece nas listas dos prováveis, muito por receio de que se possa tornar alvo a abater por parte dos “entusiastas de ocasião”, remetidos a um silêncio induzido, enquanto avaliam o cenário interno, que é, por estas alturas, tudo menos previsível.

Quem não vê com bons olhos a movimentação dos velhotes é a ala dirigida por Filipe Nyusi e Roque Silva, que semana passada convocou a sua própria orquestra, aquela que garante o sucesso da estratégia das eleições à moda coreana. Trata-se dos primeiros secretários provinciais, que estiveram em retiro este fim de semana.

Este grupo, directamente controlado por Roque Silva, tem sido determinante na manipulação dos membros para forjar consensos em torno dos ditos “candidatos únicos”. Nos últimos tempos, este grupo tem mais poderes, em termos objectivos, até que a própria Comissão Política, pois usa a influência na província para impor as vontades de Roque Silva e Nyusi nos membros do Comité Central. Vai daí que surpreendentemente Roque Silva sobreviveu no último Congresso quando tudo indicava a sua queda.

Aliás, no último Congresso, este grupo foi determinante para chumbar uma proposta dos veteranos que pretendiam que fosse criado um Conselho de Anciões, uma espécie de regularização da reserva moral do partido, como acontece, por exemplo, com o ANC. A proposta foi liminarmente chumbada na ocasião.

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