Protecção espiritual do negócio _ Parte 2

OPINIÃO

Felisberto S. Botão

Dissemos no último artigo que o grande desafio hoje é encontrar um curandeiro verdadeiro, que trabalha de acordo com as leis tradicionais africanas. Os pais e os avós, deviam ajudar os mais jovens neste processo, primeiro explicar o que é a tradição africana, segundo, mostrar o caminho do curandeiro verdadeiro, e terceiro, alertar dos estereótipos sobre a tradição e o curandeiro, movidos pela igreja e o ocidente, pelos motivos óbvios. No passado, os curandeiros herdavam os dons e poderes, e eram treinados para adquirem a sabedoria para cuidar das pessoas e da natureza. E quando um jovem ou uma jovem eram escolhidos, atendiam o chamado com muita honra, pois o curandeiro era uma pessoa respeitada pela sociedade, e considerada pelo poder tradicional, ou a administração, se assim o preferir.

Hoje, por causa da escola e a civilização ocidental, herdadas do colonialismo, a administração não considera mais o papel do curandeiro, e o jovem africano passou a ter vergonha do curandeirismo, e foge do chamado. Em famílias conservadoramente tradicionais, não aceitam a negação, e pressionam os jovens a aceitar, havendo mesmo casos de pagar com demência, desgraças, e até mesmo com a vida, para quem teima em rejeitar. É uma forma de os ancestrais garantirem a continuidade, pois neste caminho negacionista, a raça africana arrisca-se a desaparecer, a se extinguir, tal como os índios das américas e os aborígenes na Austrália. Não acredito que lá no fundo da sua consciência esta seja uma possibilidade que você aceite.

O facto é que, quando em negação, o jovem se cansa de sofrer e se rende aos factos, se submete ao treinamento, mas de seguida se esconde. Vai exercer o seu curandeirismo onde os amigos não lhe possam ver, onde as pessoas “civilizadas” não se aproximam, pelo desconforto por finalmente ser ele mesmo. Este é o nosso maior problema, a captura da mente africana pelo ocidente.

Isso tudo abre espaço para os charlatões, falsos curandeiros e falsos profetas ou pastores. Estes estão em todas as esquinas e em muitas igrejas, ao alcance de um bip. O jovem sem informação, quando entra numa aflição inexplicada, sem enquadramento na ciência, na medicina e na lógica de tudo o que ele aprendeu, acaba caindo nas mãos destes charlatões, com o resultado não satisfatório, como é de esperar, o que faz com que muita juventude valide a ideia de que o curandeiro é uma figura má e demoníaca.

Portanto, quando a sociedade mudar a sua postura perante o curandeiro, este irá se aproximar às pessoas e ajudar de forma aberta, e os falsos, automaticamente irão se esconder. Hoje o que temos é o contrário.

Devo realçar que por se manter a espiritualidade e o curandeirismo no segredo, muitas pessoas ficam vulneráveis a burlões e charlatões, os falsos curandeiros que abundam nos dias de hoje, que encontram terreno fértil na sociedade que quer manter segredo da sua ida ao curandeiro. Por conta deste segredo, nunca irão denunciar os abusos sofridos por estes.

Como resultado, por conta dos abusos, as pessoas fogem dos curandeiros, e vão desesperadamente para as igrejas receber promessas que nunca se cumprem. Agora os falsos curandeiros já perseguem as pessoas nas igrejas, disfarçados de pastores, obreiros, diáconos, conselheiros, etc., falando mal dos curandeiros, tornando as igrejas um antro de feitiçaria, e todo tipo imaginável de abusos à pessoa humana, especialmente as mulheres. Mas como tem a capa da civilização europeia, a sociedade tolera sem questionamento, e se desgraça. É um cenário muito triste, que só ficará resolvido com a libertação das mentes dos africanos.

Você não é branco. A sua tradição não é inferior, não é má. Se ela é desconfortável para si, ajude e participe na sua modernização, use a sua formação e conhecimento moderno, e faça da tradição algo confortável para si e objecto de conversa aberta. É tudo o que você precisa para se libertar, prosperar, e viver feliz.

Alguns pais ignoram os factos da tradição africana, mas há muitos pais que escondem dos filhos esta realidade, para não serem conotados como “baixos e obscurantistas”, deixando os filhos expostos aos aproveitadores, que agradecem. Outros pais omitem esta verdade para esconder segredos de pactos de sangue que fizeram no passado.

Portanto, este conhecimento é importante e urgente. Quando você está protegido espiritualmente, tem muitas chances de não ser afectado pelos drogados no mercado, que não só podem ser os concorrentes de negócios, mas também seus parceiros e colaboradores. Acredite, há colaboradores que para eles, ficar sentado ao seu lado e assegurar que assistem a sua derrota, é muito mais importante que cuidar da sua própria vida e carreira.

Não devo deixar de dizer aqui, que tal como o médico do hospital, o curandeiro tanto pode curar assim como pode matar. Ele tem conhecimento profundo da energia vital do ser humano, à um nível que a ciência ocidental nem de perto se aproxima. Hoje, devido a ignorância sobre a espiritualidade, muita gente procura o curandeiro para fins não estruturantes, como matar o concorrente, roubar de terceiros, hipnotizar maridos alheios, etc., o que é conseguido através de drogas para soluções rápidas, que muitas vezes são acompanhadas de espíritos maus que a pessoa desconhece. Portanto, o curandeiro pode usar rituais para lhe ajudar a manipular a realidade, para influenciar uma mulher, um homem (muito usado hoje pelas mulheres), para ganhar dinheiro, para ser famoso, etc., que deve ser aquilo que o jovem que levantou este questionamento, chamou de drogados.

Devo deixar uma nota aqui, que muitos curandeiros não têm muita opção nos dias de hoje. Eles precisam se alimentar e cuidar de suas famílias, e, no entanto, o seu povo foge deles. Já não é como no antigamente, que a comunidade provia mantimentos para o curandeiro, e os consultavam regularmente para acompanhar as cerimónias familiares. Como os curandeiros sabem que o seu povo, o “preto branco”, está a busca de soluções rápidas, eles lhes fazem à vontade, e daí buscam o provimento para suas famílias. E eles sabem e tem consciência plena, que quando o povo fica com os problemas resolvidos, fogem de novo e vão a igreja, onde há “civilização” e boa imagem.

O que muitos drogados não sabem, pelo menos quando mais jovens, é que ao aceitarem estas drogas, eles estão a fazer pactos de sangue, uma prática que tem consequências futuras drásticas, muitas vezes se reflectem nos filhos e nos netos, com manifestações como mortes inexplicadas, problemas no casamento, problemas no emprego ou no negócio, etc. São os casos de pais que fazem tudo para empurrar os filhos para a igreja, e evitar com toda a sua criatividade que os filhos tenha contacto com o curandeiro, para que não tenham acesso aos seus segredos.

Para concluir, devo afirmar que o ataque espiritual é um dos maiores problemas que as empresas e os negócios enfrentam em Moçambique, e um pouco pela África.

A sua preocupação não deve ser os drogados, mas sim a sua protecção para que os drogados não lhe atinjam, e nem se metam no seu caminho e nos seus negócios. Encare isso de frente, como algo seu que não tem nada de vergonhoso nisso. Vergonhoso é você ir à igreja de dia, e a noite ir ao curandeiro escondido, sujeitando-se aos curandeiros aldrabões e falsos, que gostam de actuar na calada da noite, exactamente para apanhar os “pretos brancos”, como lhes chamam.

Portanto, o primeiro passo que recomendo, é desmistificar a figura do curandeiro e pensar nele como a chave para a sua vida equilibrada. Ele vai lhe orientar, como um verdadeiro assessor espiritual, e em caso de ataques espirituais, ele vai lhe ajudar a remover o feitiço do seu corpo e do seu negócio, que é muito real, quer você goste ou não, quer você aceite ou não.

Como sociedade, devo lembrar que não somos brancos, e nem se quer uma variante deles. Precisamos parar de buscar uma forma africana de ser europeus. Quando isso acontecer, esta conversa vai ser natural e suave, mas enquanto isso não acontece, vamos assistir irmãos a se levantarem com sensibilidade mexida…

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