Troca constante dos gestores da ADIN revela desnorte do Governo em prover soluções criativas para Cabo Delgado

DESTAQUE POLÍTICA
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  • Jacinto Loureiro é o terceiro PCE da ADIN em quatro anos de existência

Em Março de 2020, com pompa e circunstância, o Presidente da República, Filipe Nyusi, lançou oficialmente a Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN), tendo na ocasião orientado aquela instituição criada para reerguer a província de Cabo Delgado para criar oportunidades de emprego e formação para os jovens e promover iniciativas de investimento para o desenvolvimento sócio-económico das comunidades, através de micro, pequenas e médias empresas. No entanto, a instituição tutelada pelo Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural (MADER), que, segundo Nyusi, poderia atrair 700 milhões de dólares do Banco Mundial, ficou de lá a esta parte abraçada a inércia. A ADIN caminha a passos largos para o quarto aniversário da sua criação e já teve três presidentes da Comissão Executiva (PCE), nomeadamente, Armando Panguene, Armindo Ngunga e agora Jacinto Loureiro, antigo edil de Boane. Para o Centro para Democracia e Direitos Humanos, a troca constante dos gestores daquela instituição pública revela o desnorte do Governo em prover soluções criativas e inovadoras para os desafios que se colocam no Norte de Moçambique.

O Executivo criou a Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN) para promover acções de carácter multiforme com vista no desenvolvimento socioeconómico das províncias de Niassa, Cabo Delgado e Nampula, ou seja, criar oportunidades de emprego e formação para os jovens e promover iniciativas de investimento para o desenvolvimento sócio-económico das comunidades com vista a desencorajar a adesão dos mesmos às fileiras dos terroristas.

Armando Panguene foi o primeiro confiado pelo Governo para dirigir os destinos da ADIN, mas no seu reinado aquela instituição pública esteve longe de responder aos objectivos para os quais foi criada. Panguene, veterano da Luta de Libertação Nacional, dirigiu a Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte até 27 de Abril de 2021, sendo que ao longo do seu mandato foi ofuscado pelo super-ministro, Celso Correia, figura confiada por Filipe Nyusi para a tutela administrativa e, sobretudo, mobilização de fundos.

Saiu Armando Panguene, por sinal antes mesmo da aprovação do plano estratégico da instituição denominado Estratégia Resiliente do Desenvolvimento Integrado do Norte, e para o seu lugar foi nomeado Armindo Ngunga.

Foi na vigência do mandato de Ngunga que foi aprovado, através da através da Resolução n.º 31/2022 de 3 de Agosto, o Programa de Resiliência e Desenvolvimento Integrado do Norte de Moçambique, um instrumento assente numa abordagem sobre 3 pilares, nomeadamente: restabelecimento e consolidação da paz e segurança; boa governação e incremento do espaço cívico; Recuperação, Reconstrução e Desenvolvimento socioeconómico e resiliência. Ainda durante o mandato de Ngunga, o Governo aprovou o plano de emergência para recuperação das zonas afectadas pelos terroristas na província de Cabo Delgado, orçado em 300 milhões de dólares

No entanto, apesar da aprovação daquele instrumento para funcionamento da ADIN, Armindo Ngunga andou perdido em combate, tendo apenas se limitado à distribuição de dezenas de kits de auto-emprego, insumos e chapas de zinco a alguns deslocados.

Ngunga, que teve a ousadia de dizer que os moçambicanos não conheciam o verdadeiro conceito de desenvolvimento em resposta aos que criticaram a sua inércia, saiu pela porta pequena tal como o seu antecessor, uma vez não conseguiu materializar o propósito da criação da ADIN, sobretudo, na província de Cabo Delgado. Aliás, as acções da instituição pública não saíram da teoria para a prática nas províncias de Cabo Delgado, Niassa e Nampula.

Jacinto Loureiro assume ADIN

Jacinto Loureiro, engenheiro de profissão, é o novo homem forte da Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte. Depois de não ter conseguido renovar o mandato no Município de Boane, Loureiro recebeu a confiança do Executivo para dirigir a ADIN.

Jacinto Loureiro sabe de antemão que deve fazer melhor que os seus antecessores. Contudo, terá a falta de fundos como principal entrave para criar oportunidades de emprego e formação para os jovens e promover iniciativas de investimento para o desenvolvimento sócio-económico das comunidades com vista a desencorajar a adesão dos mesmos às fileiras dos terroristas.

Quem se mostrou indignado com a constante troca dos Presidentes da Comissão Executiva (PCE) da ADIN é  o Centro para Democracia e Direitos Humanos, apontado que revela desnorte do Governo em prover soluções criativas para Cabo Delgado

“O Centro para Democracia e Direitos Humanos apesar de reconhecer que a ADIN só vai assumir o seu papel e desempenhar a sua importância estratégica se tiver uma liderança dinâmica e que aposta numa equipa capaz de prover soluções criativas e inovadoras para os desafios que se colocam no norte de Moçambique, sobretudo em Cabo Delgado, entende que a troca constante de dirigentes revela falta de clareza do ponto de vista do que se pretende em termos de liderança, o que revela algum desnorte por parte do Governo.

Aquela organização da sociedade civil observa, por outro lado, que Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte já teve três dirigentes, porém, “ainda não se faz sentir, principalmente por falta de fundos, mas também por falta de clareza do ponto de vista do que se pretende em termos de liderança”.

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