Dom Carlos Matsinhe acusa partidos políticos de serem machistas e patriarcais

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  • O que desencoraja candidatura de mulheres ao nível dos partidos políticos

Desde que se conhece como democracia, o País nunca foi governado por uma mulher e apenas uma única vez é que uma mulher teve oportunidade de concorrer ao cargo de candidato a Presidente da República dentro da sua formação política. Trata-se de Luisa Diogo, que concorreu com quatro homens no Comité Central da Frelimo que confirmou Filipe Nyusi como candidato da Frelimo em 2014. Para o presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), Dom Carlos Matsinhe, há ainda um longo caminho a ser percorrido pelas mulheres para a sua eleição à cargos políticos, pois a maior barreira está justamente nos partidos que elas representam. O dirigente, que falava na cidade de Maputo, acusa as instituições partidárias de serem machistas e patriarcais.

Esneta Marrove

Este Domingo celebrou-se o dia da Mulher Moçambicana, uma efeméride vivida em apoteose em todo o país, num contexto em que esta camada social ainda enfrenta vários desafios para a sua afirmação no espaço político.

Apesar de Moçambique ter alcançado a paridade no que concerne a composição do Governo Central, com uma proporção de 50 por cento igual entre homens e mulheres a frente dos ministérios, ainda persistem estereótipos que não permitem que os direitos políticos da mulher sejam exercidos na sua plenitude.

É que se em cargos por indicação foi fácil garantir a paridade, em cargos que precisam de candidatura e eleição ainda se verifica fraca participação da mulher nos processos de eleição interna nos partidos político, fazendo com que apesar de estaticamente as mulheres serem a maioria a sua representatividade dentro de órgãos partidários e do Estado seja abaixo de 50%.

Falando durante um seminário organizado por organizações lideradas por mulheres, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, através do seu projecto de Democracia e Eleições e a ONU Mulheres, Dom Carlos Matsinhe fez questão de dissecar em torno de um tema que ainda é encarrado como tabú dentro dos próprios partido político.

“Grande parte dos partidos políticos ainda não assumiu que muitas mulheres são politicamente capazes. A falta de oportunidades gera desmotivação das mulheres na participação política, na construção da Paz e Desenvolvimento equitativo”, disse Dom Carlos Matsinhe, apontando que práticas tóxicas como o machismo e patriarquismo estão a desencorajar a candidatura das mulheres dentro das suas próprias formações políticas.

Clamar pela maximização do espaço de participação política da mulher foi de resto um posicionamento assumido pela maioria das intervenções durante o encontro que tinha como objectivo definir estratégias da participação efectiva da mulher nos processos eleitorais, tendo juntado para o efeito várias outras organizações da sociedade civil moçambicana.

Para o representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Edo Stork, embora Moçambique tenha avançado no alcance do Índice do Desenvolvimento Humano, ainda persistem desafios relacionados ao efectivo poder de influência das mulheres na resposta aos desafios globais de governação.

“As mulheres devem ser consideradas nas eleições como candidatas”

Por seu turno, a representante deste organismo das Nações Unidas em Moçambique, Marie Kayisire, garantiu que as iniciativas que visam dar abertura ao espaço cívico da mulher devem manter, mas mais do que isso, clama pela mudança de paradigma do papel do chamado sexo fraco.

“As mulheres devem ser consideradas nas eleições como candidatas, tal como os homens. Continuaremos a fazer advocacia para que se materialize este desejo ao nível dos países”, comentou.

A instrumentalização da mulher pelos actores políticos é parte da preocupação do Alto Comissariado do Canadá em Moçambique, pelo que tem estado a financiar várias organizações da sociedade civil no País na defesa das mulheres.

“Nas eleições autárquicas de 2023, a participação da mulher melhorou consideravelmente. Porém, pelo que foi veiculado por alguns relatórios de observação que algumas mulheres foram instrumentalizadas, o que nos leva a questionar de que forma a participação da mulher constitui mais-valia para a democracia”, disse Lindsey Partridge, directora-adjunta de Cooperação do Alto Comissariado do Canadá em Moçambique.

Por outro lado, o Fórum Mulher mostrou-se satisfeito pelos desenvolvimentos jurídicos de Moçambique relativamente ao papel da mulher, mas quer muito mais. De acordo com Lídia Ngulele, da Fórum Mulher, ainda existem espaços não visíveis a serem explorados.

“Queremos que mais mulheres participem, estejam nos devidos locais, não apenas para subirem camião para ir fazer campanha eleitoral, receberem camisetas, lenços e capulanas, não é isso só que queremos. Queremos ser eleitas, queremos trabalhar, sermos envolvidas em todo o processo eleitoral, pois uma nação sem mulher não vive”, considerou.

Em Mocamique, as eleições presidenciais estão marcadas para 9 de Outubro do presente ano e a sociedade civil espera ver candidatura de mulheres ao cargo de Presidente da República, o que seria a primeira vez.

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