Tudo na mesma na Frelimo

OPINIÃO

Alexandre Chiure

A esperada III Sessão do Comité Central da Frelimo reuniu-se, semana passada, em Maputo, mas tudo continua como era antes. O partido no poder ainda não tem candidato. Mais uma vez, a expectativa do público ficou defraudada. O que se pensava era que o assunto sucessão fosse arrumado neste encontro e isso não aconteceu.

O que levou a opinião pública a acreditar na possibilidade de eleição do candidato da Frelimo nesta reunião foi a intervenção bombástica do veterano da Luta Armada de Libertação de Moçambique, Óscar Monteiro, destacando a necessidade de incluir o assunto na agenda.

Apesar de ter atiçado o fogo e influenciado os membros do Comité Central a debater a sucessão, a análise feita acabou por não ser produtiva e conclusiva porque nada estava organizado que pudesse permitir tal facto.

Desde o início da preparação do CC ficou claro que a direcção do partido não estava, não sei por que razão, interessado em que, a levantar-se a questão da sucessão, o debate se esgotasse nesta que foi a III sessão do Comité Central.

O indicador de que não havia vontade política para esse efeito foi a exclusão do tema em si da agenda.

Na sessão de abertura, a liderança acolheu, com tranquilidade, a proposta de debate, mas estava consciente de que não se chegaria a lado nenhum com isso porque a Comissão Política não fez o seu trabalho de casa.

Os membros do CC, por muita vontade que tivessem, não tinham como, do nada, produzir o candidato da Frelimo às eleições presidenciais de 9 de Outubro porque a CP tinha que ter submetido, antes, um expediente ao CC com propostas de nomes dos pré-candidatos. Aquele órgão reuniu-se várias vezes e não produziu nenhuma lista até à convocação desta sessão do Comité Central.

Por isso, os membros do CC foram para este encontro com as mãos atadas e sem qualquer possibilidade de fazer nada, pois, nestas condições, os estatutos da Frelimo não oferecem alternativas que não fosse esperar até que a CP cumpra com as suas obrigações estatutárias.

O que o público queria, o CC não estava em condições de oferecer no final dos trabalhos de dois dias: o candidato. Não havia espaço para qualquer tipo de milagres, mesmo compreendendo a preocupação das pessoas a cerca do assunto.

Ficou muito feito que o assunto sucessão, tema de extrema importância na vida do país, tenha sido remetido ao terceiro plano, ao cair para os diversos, a favor de temas de interesse restrito, nomeadamente questões sobre a organização interna do partido.

É estranho que a direcção do partido não tenha aproveitado esta sessão para resolver tudo, incluindo a escolha do candidato e tenha que recorrer, desnecessariamente, a uma sessão extraordinária do CC para o efeito, a realizar-se dentro em breve, em Maputo.

Quer dizer que a Frelimo terá de mandar de volta para a capital do país, dentro de duas ou três semanas, os 250 membros do CC para fazerem o que podiam ter feito na sessão ordinária da semana passada, com os custos onerosos que isso representa ao próprio partido em termos logísticos

A demora na indicação do candidato pela Frelimo não só está a criar um desconforto no seio dos membros e simpatizantes do partido e do público em geral, como vem demonstrar, uma vez mais, as divisões internas existentes dentro daquela formação política. Partido a braço com a crise de impopularidade, resultante do desgaste da sua imagem por conta do custo de vida, da falta de emprego, habitação e oportunidades para jovens.

A escolha tardia do mesmo vai atrair muita atenção da comunicação social e do público em geral, à sua volta. Todos procuraram saber o que é que ele tem de especial em relação aos outros para tanto tempo de espera, levando com que seja escrutinado, buscando o seu passado e presente.

Além disso, o “sortudo” terá muito pouco tempo para viajar pelo país e dizer aos moçambicanos qual é o valor acrescentado que trás à governação do país. O que vai fazer para a melhoria da qualidade de vida de todos nós e como espera abordar a questão do terrorismo e dos raptos.

Devia viajar para o estrangeiro e visitar os principais parceiros do país, oferecendo-lhes garantias de que o seu governo não irá pôr em causa os seus interesses em Moçambique. O tempo está escasso. Faltam cinco meses para as eleições e destes, estão inclusos 45 dias de campanha eleitoral.

A oposição só não tirou proveito desta situação porque, no lugar de organizar-se e ocupar espaço no país, colocando o seu candidato a girar pelas províncias, a Renamo está a autodestruir-se, debatendo questões sensíveis sobre a vida do partido em público, num período destes. Não está a poder explorar estas fragilidades a seu favor. O mesmo que o adversário oferecer-lhe uma grande penalidade e não converter. Muita pena.

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