Venâncio Mondlane: De marginalização à derrota final… e agora? Novo partido?

EDITORIAL

A liderança da Renamo não controlou sua fúria e nem se preocupou em disfarçar a mágoa das afrontas sofridas e optou por exibir sua força e a fraude de um controlo total, de uma liderança que no seu curto percurso (seis cinco anos) pariu mais inimigos, mais fragmentação e sérias derrotas em todas as eleições que liderou. Até quando o povo votou na Renamo para vingar-se da Frelimo não se mostrou capaz de capitalizar este voto, consolidando a “especulação” de que “se vendeu”.

 

A julgar pelas intervenções dos órgãos sociais, parece que esse percurso não está a merecer um olho mais atento do Conselho Nacional daquele partido, montado à imagem do seu líder, que se limita a martirizar Venâncio Mondlane, dando seus adjectivos mais pesados, uma posição que acaba por capitalizar mais esta figura e expor uma liderança com sérias incapacidades de gestão de conflito, pois para um bom gestor político, depois de muita agitação e troca de acusações, seria este um momento de imprimir muita calma e tratar dos seus opositores sem alarmismo.

 

Basta lembrar de Nhongo para ver a fórmula usada por Ossufo Momade na gestão de conflitos internos. Num momento em que já isolou o suficiente Venâncio Mondlane, retirando-lhe todos os subsídios e reduzindo-lhe a um simples deputado e agora, com controlo do Conselho Nacional, afastando qualquer possibilidade de este concorrer, não fazia mais sentido continuar com um discurso de medir forças.

 

Colocou Venâncio Mondlane no topo das discussões, talvez por ser um Conselho Nacional que é produto da luta deste. Não que estivesse lá escrito “Venâncio” na agenda, mas os discursos dos órgãos sociais sugerem isso. Não seria nenhum erro pensar que até o perfil do candidato da Renamo foi concebido numa perspetiva de combater o fenómeno venancismo.

 

É que os 120 membros do Conselho Nacional aprovaram, entre outros, que para presidir o partido é preciso ter militado 15 ou mais anos, sem interrupção; ter exercido alguma função de relevo, como ser membro do Conselho Nacional, para além de nunca ter demonstrado comportamento de indisciplina. Tudo isso Venâncio, qual paraquedista, não tem, ficando evidente que qualquer esperança que este tinha de se candidatar a Presidente da Renamo morreu, um “Hoyee para Frelimo”, mas morre também a Renamo se aceitar que Ossufo Momade continue no cargo, o que seria um segundo “Frelimo Hoyee”.

 

As dúvidas que subsistem é se Venâncio consegue permanecer qualquerizado na Renamo, ou vai saltar para outras forças políticas, mais hospitaleiras ao sangue jovem. Uma equação que só seria possível fora dos três principais, que à semelhança da Renamo ainda são pensados numa perspectiva dos anos 90. A ver vamos, até porque em jeito de último suspiro, VM7 voltou ao tribunal e aventa-se uma nova providência cautelar, que poderá novamente agitar águas na perdiz.

 

Mas o fenómeno Venâncio Mondlane transcende a ideia de um jovem ambicioso, egocêntrico ou revolucionário. Representa uma luta geracional nos principais partidos do país, se inclui a Frelimo, onde os jovens buscam uma maior participação num mundo onde os desafios de ontem, não podem nortear as políticas públicas de hoje. Os desafios não são mais os mesmos, e os jovens parecem ter as melhores receitas, apesar de serem facilmente corrompíveis, mas não têm a humildade de aceitar quando as suas fórmulas de fazer política esgotam-se. Basta olhar para a intervenção de Victor Viandro, presidente da Associação dos Combatentes da Luta pela Democracia (ACOLDE), para se ter uma ideia mais clara da mentalidade dos heróis de ontem, face aos desafios de hoje.

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