Entraram despreparados e hoje não estão preparados para sair

EDITORIAL

A corrida eleitoral iniciou antes que os partidos estivessem preparados. Nesta segunda-feira (22), iniciou-se a inscrição dos partidos e a apresentação das candidaturas a deputado da Assembleia da República, Membro da Assembleia Provincial e Governador da província, processo que irá terminar no dia sete de Maio. Em paralelo, decorre no mesmo prazo a apreciação das denominações, siglas e símbolos. De seguida, entre os dias 13 de Maio a 10 de Junho, irá decorrer a apresentação das candidaturas a Presidente da República.

O processo eleitoral encontra os partidos ainda não organizados, sem candidatos e, pior que isso, ainda em crise. É o cúmulo da desorganização que sugere a incapacidade de gestão de crises e de organização das suas lideranças, o que justifica a actual crise dos principais partidos, Frelimo, Renamo e MDM, quem sofrem da mesma pandemia, caracterizada de desunião, proliferação de grupos, confronto às lideranças e lideradas por figuras cada vez mais populares e sem capacidade de mobilização. O desnorte que caracteriza os partidos políticos é produto da própria representatividade, e como consequência, a actividade política é conotada a sindicatos criminosos e cada vez menos visto como um conglomerado de actores responsáveis por promover mudanças. Pelo contrário, a percepção que se tem da política moçambicana, vista de dentro e de fora, é de uma fonte de riqueza sem nenhum esforço.

É quase que impossível desfazer esse retrato, enquanto os partidos políticos não deixaram dúvidas, nas suas lutas internas, que os interesses colectivos não se sobrepõem aos interesses individuais, principalmente quando são interesses das lideranças. Até porque toda a desorganização resulta da tentativa fracassada de manter o poder, mesmo que limitado pelos estatutos dos partidos. Além de ser o primeiro a responder um processo judicial ainda em exercício, mesmo depois deste ciclo, figura na história que Filipe Nyusi é o primeiro presidente da Frelimo a indicar seu sucessor depois do início do processo eleitoral, ao tentar ir até ao último momento na busca de manipular qualquer oportunidade para manter-se no poder, uma empreitada fracassada, dirão os apóstolos da desgraça.

Ouvira-se o mesmo de Ossufo Momade, ou quase o pior, que este é o primeiro a ceder agendar um Congresso por pressão de tribunal, bem antes de conseguir pelo menos dois ciclos cheios de governação. Dado curioso é que, à semelhança de Nyusi, que foi indicado para sucessão por ser filho de um combatente e não por ter mostrado capacidade, Momade também recebeu o poder por acidente. Mesma coincidência com Lutero Simango. Não jogou a seu favor, senão o facto de ser o irmão do finado, que foi um líder. E no fim todos os partidos sofrem da mesma doença: estagnados, grupinhos, lideranças autocratas, excludentes e sem capacidade de inovação num mundo cada vez mais exigente.

É mesmo para dizer que não há líderes mais perigosos do que aqueles inocentes, que foram indicados para entrar no poder despreparados e hoje não estão preparados para sair.

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