Nyusi volta a contornar debate da sucessão e procura “conforto” no ocidente

DESTAQUE POLÍTICA
  • Agendas marginais colocam Chefe de Estado preenchido
  • Passou o mandato andando pelas “ditaduras” e na hora da saída…
  • Nos EUA fez-se acompanhar por Celso Correia e “coincidiu” com a ida de Chissano.
  • Bastou Chang falar para o Chefe de Estado dar duas voltas aos EUA em menos de duas semanas
  • ⁠No passado aproveitou uma viagem do Estado para gerir sua batalha judicial em Londres
  • Saiu para tomada de posse do Rei Carlos e aproveitou para constituir seus advogados

No dia em que inicia a inscrição de candidaturas para as eleições gerais de 2024, a Comissão Política da Frelimo reuniu-se em mais uma sessão (24ª) ordinária, que fez vista grossa aos assuntos estruturantes que vem dominando a vida do partido fora do círculo formal. O órgão que ficou de “apresentar nos próximos dias ao Comité Central a lista de candidatos à sua sucessão como Presidente da República”, segundo prometeu o Presidente da Frelimo, Filipe Nyusi, no encerramento do Comité Central, não fez referência ao processo da sucessão, contrariando a promessa de que este assunto era “prioridade”, depois de definidas as diretrizes. Enquanto isso, os movimentos de Nyusi no ocidente, por sinal as últimas vistas enquanto Chefe de Estado, vão criando alguma especulação de que tem mais motivações de protecção pessoal. É que tem agendada mais uma visita aos Estados Unidos num espaço de duas semanas, o que alimenta a teoria de que possa estar à procura de algum acordo, depois de ter sido citado por Manuel Chang. No passado, já aproveitou uma viagem do Estado para constituir seus advogados no processo das dívidas ocultas que corre em Londres.

Evidências

É um misto de acontecimentos que, mesmo que ocorram fora do círculo político, vão confluindo na sucessão de Filipe Nyusi. Um assunto que mesmo colocado fora de agenda, pode estar a justificar cada passo do actual Chefe de Estado e não só. Afinal, coloca, também, os aspirantes à sucessão deste, que proliferam nos corredores, em alerta, com uns a adotar uma estratégia mais ousada que outros.

Enquanto uns mantêm-se dependentes dos órgãos do partido, outros usam da própria força e projeção pessoal. Mas há também que  prefira namorar as lideranças, enquanto outros confiam cegamente na compra de consciências.

Depois de passar parte significativa do seu mandato se aconselhando com ditadores, chegando a fazer quatro visitas seguidas aos principais ditadores africanos, hoje, já conformado que, afinal, o seu reinado tem mesmo fim, os movimentos de Nyusi são conotados como tentativas de sobrevivência quando a imunidade presidencial não for mais aplicável para recorrer a ela como refúgio.

Sua visita recente aos Estados Unidos de América (EUA), despertou alguma curiosidade por ter sido o único presidente no mundo todo a participar da Conferência Internacional sobre o Maneio Sustentável e Integrado da Floresta do Miombo, que teve lugar em Washington, entre os dias 15 e 16 do mês em curso, arrastando todo um Governo, para um evento em que seus homólogos limitaram-se em mandar representantes, na sua maioria directores.

Há quem diga que este não era dimensão suficiente para arrastar um Presidente, o que justifica o facto de ter sido o único estadista a bater-se nos corredores com directores sectoriais enviados por uma pequena dúzia de países que aceitaram ir a uma conferência em que a delegação moçambicana fez questão de levar mais 80 membros, que era a principal e única plateia.

Uma das figuras presentes foi Celso Correia, que tem na carteira uma série de projectos financiados pelas instituições enraizadas nos EUA, como Banco Mundial, além de ser uma figura já referenciada na senda sucessão. Procurou ser mais discreto. Mas também não apareceu nas fotos o antigo Chefe de Estado, Joaquim Chissano, muito dado à diplomacia, que, coincidentemente, esteve na mesma altura nos EUA.

Manuel Chang e as viagens do PR

Em meio a nova configuração da geopolítica, com o mundo numa divisão tímida em dois blocos, não há dúvidas que os EUA podem ter palavra nesse processo, principalmente com Chang a arrastrar Nyusi para um escândalo financeiro que não apenas lesou Moçambique, mas também os americanos.

Curiosamente, Nyusi tem agendada mais uma visita aos Estados Unidos num espaço de duas semanas, o que alimenta a especulação de que possa estar a procura de algum acordo ou buscar se proteger, depois de ter sido citado por Manuel Chang no tribunal de Nova York como sendo a figura central da contratação das dívidas ocultas.

O antigo ministro das Finanças moçambicano Manuel Chang começará a ser julgado em 29 de Julho em Nova Iorque, nos Estados Unidos, no caso das dívidas não declaradas de Moçambique. Na sua primeira audição, ex-ministro das Finanças rejeitou todas as acusações e apontou o actual Presidente (Nyusi), à data ministro da Defesa, como sendo quem o mandou assinar as garantias bancárias que viabilizaram as dívidas ocultas.

Recorrer às viagens do Estados para arranjos em processos judiciais não seria uma novidade. No passado, já aproveitou uma viagem do Estado para constituir seus advogados no processo que corre em Londres. Foram esses advogados que o defenderam nas audiências preliminares e conseguiram evitar o embaraço de ter um Presidente no banco dos réus por via da imunidade diplomática.

Comissão Política contorna “prioridade”, mas data para CC

Na sua última comunicação sobre o processo eleitoral, Nyusi deu garantias de que, já com diretrizes, o processo de sucessão seria conduzido como prioridade e que a comissão política do partido iria apresentar com brevidade ao Comité Central a lista de candidatos à sua sucessão como Presidente da República.

Já passaram duas semanas e a vigésima quarta sessão ordinária da CP, por sinal a primeira depois do CC, não se pronunciou sobre o processo de sucessão, apenas marcou a data do CC. Neste momento restam somente duas opções, ou seja, o anúncio a meio da semana de uma lista que se diz já existir, ou uma nova reunião da Comissão Política já à porta do Comité Central.

Nesta segunda-feira (22), iniciou-se a inscrição dos partidos e a apresentação das candidaturas a deputado da Assembleia da República, Membro da Assembleia Provincial e Governador da província, processo que irá terminar no dia sete de Maio. Em paralelo, decorre no mesmo prazo a apreciação das denominações, siglas e símbolos. De seguida, entre os dias 13 de Maio a 10 de Junho, irá decorrer a apresentação das candidaturas a Presidente da República.

E dentro da Frelimo os aspirantes a candidatos já começaram a dispensar apoio de Nyusi e avançar em nome próprio, José Pacheco e Samora Machel Jr. são disso um exemplo e outros a limitar-se em manifestar a abertura como são os casos de Hama Thai.

Enquanto cresce a incerteza, o candidato presidencial da Frelimo poderá ser conhecido no dia 3 de Maio próximo, na sessão extraordinária do Comité Central do partido. O evento terá lugar na Escola Central da Frelimo, na cidade da Matola. O anúncio foi feito no fim da sessão da CP  pela porta-voz do partido, Ludmila Maguni, depois de mais uma sessão da Comissão Política do partido no poder.

Do resto, referir que a sessão da Comissão Política da Frelimo, que retomou as suas tradicionais saudações ao líder no Comunicado de Imprensa, enquanto fazia vista grossa ao processo da sucessão, avaliou a participação de Filipe Nyusi na Conferência Internacional sobre o Maneio da Floresta de Miombo, realizada nos dias 16 e 17 de Abril, em Washington, evento que produziu uma Carta de Intenções e de forma consensual.

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