PM activa “modo Pinóquio” e nega, mas ministro da Defesa assume e diz que pedido abrange a todos no TON

DESTAQUE POLÍTICA
  • Governo em contradição sobre Novo pedido de EUR 20 milhões para as tropas ruandesas
  • União Europeia não quer que seu dinheiro financie “insurgentes” no RDCongo
  • Outro receio é do dinheiro pedido por Moçambique financiar campanha de Kagame

Às escondidas, o Governo apresentou, há algumas semanas, um novo pedido de ajuda de 20 milhões de euros para o exército ruandês que opera em Cabo Delgado e recentemente acaba de aumentar o seu contingente para assumir as posições deixadas pela Missão Militar dos Países da SADC (SAMIM). A informação é avançada pela agência de inteligência, África Intelligence, que adianta que alguns Estados-Membros da União Europeia estão particularmente desconfortáveis com a ideia de aceitar dar dinheiro ao Ruanda, acusado de financiar “insurgentes” do M23 na República Democrática do Congo. Confrontado com a informação no parlamento, o Governo apresentou duas versões contraditórias. Ao seu estilo, o primeiro-ministro, Adriano Maleiane, tirou da cartola mais uma “mentira” e desmentiu ter havido qualquer pedido de ajuda para as tropas ruandesas, apenas alguns minutos depois do ministro da Defesa, Cristóvão Chume, ter assumido o pedido alegando que o mesmo não se destina somente às botas ruandesas, mas também as tropas nacionais e da SAMIM.

Como tem sido apanágio, mais uma vez uma informação estruturante sobre a vida do país chega aos moçambicanos através de fontes estrangeiras e o governo, ao seu estilo bombeiro, já está a tentar debelar as chamas, mesmo que para tal tenha que recorrer a mentiras, como aconteceu no caso das dívidas ocultas e, aliás, um dos “pinóquios” continua o mesmo, ou seja, Adriano Maleiane.

Segundo escreve o África Intelligence, o novo pedido de apoio de 20 milhões de euros  de Moçambique a favor das tropas ruandesas insere-se no âmbito da Facilidade Europeia para a Paz (FEP), destinada às tropas ruandesas instaladas na província de Cabo Delgado, que agora contam com um contingente de mais de 2500 homens.

Alguns países membros da UE consideram que o momento deste pedido não é o mais adequado, pois ocorre algumas semanas antes da eleição presidencial em Ruanda (15 de julho) e especialmente no meio da guerra no leste da RDC, onde Ruanda é acusado nos relatórios das Nações Unidas de apoiar o M23.

Em outras palavras, alguns estados europeus não querem que o seu dinheiro doado para apoiar o combate à insurgência em Moçambique seja usado pelo Ruanda para financiar outros insurgentes na República Democrática do Congo, pelo que o portal que temos vindo a citar dá como nulas as chances do desembolso.

“Hoje, com a situação muito volátil no leste da RDC, e apesar das múltiplas tentativas de mediação – Quênia, Angola, Catar -, um novo desembolso em benefício do exército ruandês não é evidente para a UE. Apesar da dificuldade dos debates, e tendo em conta as questões energéticas do LNG de Moçambique que permitiriam a diversificação do abastecimento da Europa, o envelope ainda deve ser aprovado”, lê-se no artigo.

A Bélgica parece ser o Estado-Membro que mais se opõe à ajuda ao exército de Ruanda em Moçambique. O reino também se recusou a aceitar o embaixador nomeado por Kigali, Vincent Karega, acusado de ter sido o embaixador em Pretória na época do assassinato de Patrick Karegeya, ex-chefe dos serviços de inteligência de Ruanda, em 1º de janeiro de 2014 em Joanesburgo. A África do Sul sempre suspeitou que Ruanda estava por trás desse ato.

Ainda segundo o Africa Intelligence, uma missão liderada pelo director de parcerias para a Paz e Gestão de Crises do Serviço Europeu de Ação Externa (SEAE), o romeno Cosmin Dobran, viajou para Ruanda em 21 de Fevereiro para avaliar a situação.

Refira-se que o custo da operação para Ruanda é considerável e pode exceder 100 milhões de dólares. Em 2023, a UE tinha desembolsado um primeiro cheque de 20 milhões de euros através da FEP para a missão do Ruanda em Moçambique, depois de um consenso que se seguiu a debates intensos, entre prós e contras, a 01 de Dezembro de 2022. O dinheiro destinava-se à compra de armas, munições e outra logística da força que garante a proteção de interesses da Total e franceses na bacia de Afungi.

Em caso do novo pedido de 20 milhões de euros ser aprovado, as tropas de Paul Kagame, ao todo, somarão 40 milhões de euros, enquanto as Forças de Defesa e Segurança nacionais continuam a lamentar-se pela falta de logística, tal como reconheceu, há dias, o ministro da Defesa.

As versões contraditórias do Governo

Após o assunto ser despoletado em primeiro mão no programa Quarto Poder, o deputado da Renamo, António Muchanga, durante as perguntas de insistência em sede da secção de perguntas e respostas ao Governo, quis saber por que o Governo foi pedir dinheiro em nome dos ruandeses em vez das nossas FDS e como se explica que com a saída da SAMIM em vez de ser nosso exército a assumir as posições, seja o Ruanda que acaba de aumentar seu contingente. Quis saber, igualmente, o que o exército moçambicano andou a fazer nesses dois anos em que a SAMIM esteve em Cabo Delgado.

Em resposta, o ministro da Defesa reconheceu o pedido, ressalvando, no entanto, que o mesmo não se destina somente às tropas ruandesas, mas também às FDS e à SAMIM, esta última que está a deixar o teatro operacional até Julho próximo, por falta de dinheiro para custear a missão.

“O Governo já veio ao terreno informar que grande parte do esforço empreendido pela forças que combatem o terrorismo no Norte do país é suportado pelos próprios governos, apoiados por parceiros interessados no combate ao terrorismo. Nesta senda, Moçambique solicitou o apoio da União Europeia não só para o Ruanda, mas também para Moçambique e para a SAMIM“, confirmou Chume.

Mas a informação foi contrariada por Adriano Maleiane, que ao seu estilo característico desmentiu qualquer pedido de Moçambique para o Ruanda, nem agora, nem antes e nem nunca.

“Não tenho dados, por isso é que não vou avançar (…). O país nunca funcionou como intermediário do ruanda. Eu já ouvi essa história, mas se o Ruanda não tiver dinheiro para fazer o trabalho que deve ser feito, só eles podem contactar quem quer que seja. Quer dizer, como é que as suas operações são sustentadas já não é assunto de Moçambique”, negou Maleiane, ignorando que há 01 de Dezembro de 2022, a União Europeia aprovou o primeiro financiamento a pedido de Moçambique para as tropas ruandesas.

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