A cada ano que passa o custo de vida tende a subir nos principais centros urbanos do país, e a Cidade da Beira, província de Sofala, não é a excepção. Naquele ponto da Zona Centro do país, este fenômeno condiciona a participação das mulheres no espaço cívico, na medida em que as mulheres que ganham a vida no sector informal não conseguem tempo para se engajar no espaço cívico.
Jossias Sixpence – Beira
As perspectivas de curto prazo apontam para ligeira aceleração da inflação, segundo o banco central. Os efeitos dos choques climáticos e do aumento dos preços de combustível e da tarifa de portagens na África do Sul constam do rol dos factores que contribuem para o elevado custo de vida que se faz sentir no país.
Numa altura em que o grosso das mulheres que advogam sobre os direitos das mulheres luta para que a mesma tenha mais participação no espaço cívico, ao nível da Cidade da Beira, província de Sofala, as mulheres referem que o elevado custo de vida condiciona sobremaneira a sua participação cívica.
Isto porque, para fazer face à necessidade de incremento da renda familiar, viram-se obrigadas a aderir o sector informal, sobretudo o comércio, actividade à qual dedicam quase todo o seu tempo, sobrando pouco para algum activismo político ou cívico.
A título de exemplo, Sandra Libeiro, vendedeira no Mercado de Maquinino, disse que com o actual cenário econômico e social passa mais tempo no mercado, daí que não tem tido tempo para ser mais activa no espaço cívico.
“Antes eu vendia até aos sábados, às vezes nos feriados trabalhava até às 12 horas, mas agora, com custo da vida elevado, sou obrigada a permanecer no mercado até último minuto, incluindo dias como Domingo, que era reservado para repousar, para conseguir responder às necessidades de casa”, disse Sandra Libeiro.
Quem também queixa-se do elevado custo de vida para justificar o seu fraco engajamento no espaço cívico é Marta João, para quem garantir o sustento dos filhos está no topo das suas prioridades.
“No passado conseguíamos fazer poupanças até investir. A casa que tenho foi através das poupanças, mas nestes últimos seis anos o custo de vida não permite isso, vendemos só para comer e algumas vezes nem conseguimos fechar as refeições. Como é possível ir participar da marcha, por exemplo, enquanto em casa tem fome?”, indagou Marta.
Para o economista Francisco Luís do Rosário, a inflação torna a vida dos moçambicanos mais difícil porque na medida que o custo de vida sobe, a capacidade de compra fica comprometida.
De acordo com Rosário, os vendedores são afectados directamente porque os seus lucros dependem do volume de vendas, e quando a capacidade de compra baixa, o volume de venda baixa, e isso é uma cadeia que compromete toda estrutura financeira a todos níveis.
“Na medida que o custo de vida sobe, a capacidade de compra fica comprometida. Com isso, os vendedores são afectados directamente porque os seus lucros dependem do volume de venda, enquanto os volumes de vendas baixarem, a capacidade de compra também vai baixar”, explicou Francisco Luís do Rosário.
Prosseguindo, o economista, reagindo aos dados do Instituto Nacional de Estatística, defendeu que mesmo que alguns produtos mostrem tendências de baixar ligeiramente, com aumento dos outros a vida dos moçambicanos continuará desafiante.