Luca Bussotti
Uma das questões que passou despercebida no debate do VII Congresso da Renamo foi a grande responsabilidade que seu presidente, Ossufo Momade, assumiu ao excluir o seu principal antagonista, Venâncio Mondlane, da corrida para a liderança do partido. Fora das questões legais – sem dúvidas relevantes, mas que não deveriam ultrapassar a essência do debate político -, Momade se propôs como o candidato mais forte e que, nas condições que ele próprio tinha determinado no congresso, só podia ser derrotado por Venâncio Mondlane. Eliminado o perigo número um, o resto veio de consequência, de default, como diriam os britânicos.
Entretanto, as vitórias esmagadoras e sem um debate efectivo são sempre perigosas. O caso do Nyusi e do Roque Silva ensina…Neste momento Momade é o líder da Renamo, mas a sua reeleição Ad excludendum do Venâncio Mondlane e de todos os jovens que ele representa trouxe aspectos de responsabilidade que talvez não tenham sido devidamente destacados.
- O primeiro é que ele, como líder do partido, assumiu a responsabilidade de levar a Renamo a perda do seu representante neste momento com maior impacto popular, Venâncio Mondlane. E, consequentemente, a uma divisão ou saída do partido de um número ainda indefinido de inscritos, e certamente muito elevado de simpatizantes. Não conseguir, mas melhor seria dizer não querer manter a unidade do partido representa uma primeira responsabilidade que Momade deveria assumir de forma honesta e explícita.
- O ponto anterior leva de imediato a outro aspecto não menos problemático: o possível resultado eleitoral da Renamo nas próximas eleições de Outubro. Ainda é prematuro traçar cenários, mas o que parece certo é que Momade tem renunciado ao potencial eleitoral de Mondlane de forma por assim dizer gratuita. Em outras palavras, é sempre possível que um partido resolva mudar suas estratégias eleitorais, por exemplo posicionando-se mais a esquerda ou mais a direita para atrair os votos desta ou daquela parte de eleitorado, implicando uma possível perda do lado mais descoberto. Nesse caso não houve nada disso: simplesmente, resolveu-se perder o potencial eleitoral do Mondlane, sem ganhar nenhum outro alternativo a ele. E esta é outra grande responsabilidade que Ossufo Momade tem de assumir diante da plateia congressual que lhe deu o voto de confiança pó ara liderar o partido e se apresentar como alternativa ao Dr Chapo na corrida para a presidência da República.
- Finalmente, Momade assinou um contrato com a Renamo, cuja duração é de 5 anos, mas cujo termo poderá variar consoante os resultados eleitorais. É preciso ter a honestidade de dizer qual seria o resultado abaixo do qual a Renamo deve declarar-se derrotada e, portanto, a sua liderança deixar o comando do partido. Uma vez que ninguém, nem o mais renamista do mundo, pode acreditar neste momento que a Renamo possa ganhar as próximas eleições, é necessário ficar um resultado mínimo abaixo do qual a liderança de Momade deveria ser rediscutida. Nas últimas presidenciais Momade conseguiu quase 22% dos votos, e o resultado foi considerado insatisfatório. É, portanto, lógico afirmar que abaixo deste resultado a Renamo teria o direito de escolher outra liderança.
Não se trata de assuntos pessoais, mas sim do sentido de responsabilidade que qualquer liderança política deveria exercer, na vitória assim como na derrota, sempre tirando consequências racionais, tendo como primeira preocupação o bem do partido
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