Numa altura em que há quase um consenso sobre a necessidade de se refrescar a máquina governativa para imprimir uma nova dinâmica no próximo ciclo de governação, a Comissão Política da Frelimo, reunida esta quarta-feira na sua 27ª sessão ordinária, decidiu reconduzir todos os governadores provinciais para renovarem mandato, concorrendo praticamente como candidatos únicos a cabeças de lista.
Costuma se dizer que “em equipa que ganha não se mexe”, mas, na Frelimo, parece que a equipa que não ganhou, a contar pelo saldo negativo da actual governação e o seu baixo nível de popularidade e aceitação popular, está a ser empurrada com a barriga para mais um mandato de cinco anos que, curiosamente vai ser sob aupício de um novo Presidente da República.
Com efeito, ignorando a directiva sobre as eleições internas aprovada na III sessão do Comité Central realizada em Abril último, a Comissão Política, sob direcção do Presidente do partido, Filipe Nyusi, decidiu impor que todos os governadores sejam cabeças de lista da Frelimo a nível das 10 províncias, com excepção da cidade de Maputo, pelo facto desta circunscrição não ter governador.
Dos actuais governadores provinciais, apenas Manuel Rodrigues, de Nampula, é que não foi chancelado pela Comissão Política para ser cabeça de lista, pelo facto de ter se recusado a concorrer como cabeça de lista da Frelimo na cidade de Nampula, nas últimas eleições autárquicas, uma indisciplina que Comissão Política – que o havia indicado – não perdoou.
A indicação por imposição de Filipe Nyusi, sem abrir espaço para que mais ninguém concorra internamente para o cargo, é vista nos corredores internos como uma espécie de intromissão no próximo ciclo de governação, não dando espaço ao candidato recentemente eleito para montar sua própria máquina para os próximos cinco anos.
Esta imposição dos actuais governadores provinciais, alguns dos quais implicados em casos de corrupção e nepotismo, viola o artigo 04 da directiva que postula que “todos os membros do Partido que estejam no uso pleno dos seus direitos e reúnam os requisitos estabelecidos na presente Directiva, podem eleger e serem eleitos candidatos a Deputados da Assembleia da República, a Cabeça de Lista e a Membros das Assembleias Provinciais”.
Indo mais longe, no seu artigo 15, a directiva estabelece que os secretariados devem submeter dois ou três nomes de candidatos a candidato a cabeça de lista para efeitos de confirmação antes da eleição pelos Comités Provinciais.
Entretanto, extrapolando as suas competências a Comissão Política apenas confirmou um nome por província para ser candidato a candidato a cabeça de lista e nesse caso são os próprios governadores, escangalhando qualquer chance de haver candidaturas livres. Com isso, prevalece a saga das candidaturas únicas, uma marca de ditatura interna de Filipe Nyusi e Roque Silva.
O artigo 29 da mesma directiva é claro em referir que compete aos Comités Provinciais do Partido eleger os candidatos a Deputados da Assembleia da República, a Cabeça de Lista e a Membros das Assembleias Provinciais, mas a Comissão Política já impôs quem deve ser cabeça de lista.
Uma vingança contra os primeiros secretários pela não eleição de Roque Silva?
Mais do que intrometer-se e minar a próxima governação, a decisão da Comissão Política, em fim de ciclo, é vista como sendo uma espécie de vingança contra alguns primeiros secretários provinciais que já estavam colocados como cabeças de lista, por não terem apoiado a estratégia da liderança da Frelimo no último Congresso, culminando pela não eleição de Roque Silva.
É que, segundo apurou o Evidências, pelo menos quatro primeiros secretários provinciais, nomeadamente, da província de Maputo, Avelino Muchine; de Gaza, Daniel João Matavele; de Inhambane, Adélia Ertina José Zaulombo Macucule e da Zambézia, Paulino Lenço, tinham “se querido”, ou seja, haviam colocado a si mesmos entre as propostas para cabeças de lista.
Para o seu desagrado, a Comissão Política decidiu homologar os nomes dos actuais governadores provinciais, eliminando qualquer chance de qualquer membro, ainda que tenha sido proposto pela base, chegar ao posto de governador.
Refira-se que decorrem, entre 31 de Maio e 02 de Junho, sessões extraordinárias dos comités provinciais, sob orientação dos chefes das brigadas, em que serão eleitos os candidatos a Deputados da Assembleia da República, a Cabeça de Lista e a Membros das Assembleias Provinciais.
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