Onde andavam todos estes partidos?

OPINIÃO

Alexandre Chiure

Visitei, nestes dias, o Portal do Governo. Verifiquei que, afinal, Moçambique tem 47 partidos políticos registados. Fiquei assustado com o elevado número porque nunca vi, na praça, bandeiras ou insígnias que provem a sua inserção na sociedade.

Lembrei-me que em Angola, a lei preconiza que o partido que não conseguir eleger pelo menos um deputado, em duas ocasiões, é, automaticamente, erradicado. A nossa legislação é tolerante, não prevê esse tipo de penalização.

Curiosamente, mais de 90 por cento das formações políticas existentes estão inscritas na CNE (acima de 40) para participarem no sufrágio de 9 de Outubro próximo. A julgar pelos seus nomes, dá para ver que o país tem partidos para todas as necessidades.

Uns, defendem a unidade entre moçambicanos. Outros, promovem a democracia, justiça e humanismo. Outros ainda são pelo ambiente e patriotismo. Se cada um deles cumprisse o seu propósito teríamos um leque de ideias e projectos para a satisfação das preocupações das populações.

Haveria uma forte pressão sobre o governo por parte da oposição para que atenda os problemas das comunidades, apresentando soluções próprias que coloquem os seus partidos ou candidatos como uma alternativa para a governação do país.

Só que, fora dos períodos eleitorais, desaparecem da cena política do país, com a excepção da Frelimo, Renamo e MDM que estão representados no parlamento. Penduram as botas à espera de eleições seguintes, uma forma estranha e irresponsável de fazer política.

Temos, por exemplo, neste momento, uma grave crise humanitária em Cabo Delgado por conta do terrorismo. Centenas de famílias abandonaram as suas zonas de origem em busca de abrigo noutros distritos e províncias circunvizinhas, como Nampula.

Esta é uma matéria mais do que suficiente para o Movimento Humanitário de Moçambique intervir, não só no sentido de fiscalizar as actividades de assistência do governo às vítimas, mas também de mobilizar meios para a sua sobrevivência.

O número de deslocados chegou a atingir cerca de um milhão de pessoas, para não falar de mais de mil mortos e rastos de destruição de infra-estruturas públicas e privadas. Infelizmente, este partido nunca foi visto a sair em defesa dos necessitados.

O país tem, igualmente, problemas ambientais, como sejam poluição de alguns rios por parte de garimpeiros, algures no centro e no norte do país, exploração insustentável de florestas, causando problemas climáticos, e outras situações anómalas. O Partido Ecologista não diz nada, muito menos propor políticas para corrigir certas práticas que intentam contra o ambiente.

O Movimento de Reconciliação de Moçambique (MRM) é outro que fica no silêncio ante casos de discriminação envolvendo alguns dos ex-guerrilheiros da Renamo desmobilizados no âmbito de DDR. Eles que são excluídos dos processos de atribuição de terrenos para a construção das suas casas.

Devia ser sua preocupação, igualmente, a educação das comunidades para saberem viver na diferença, serem tolerantes e não violentarem alguém só porque é da Frelimo, Renamo, MDM ou de um outro partido, como acontece actualmente em algumas circunstâncias ou regiões do país. Essa é uma ameaça séria à paz e reconciliação.

Estes e outros partidos estão hoje na corrida eleitoral. Querem governar o país ou estar no parlamento, apesar de que não são conhecidos na sociedade. Dentro em breve estarão nas ruas a fazerem promessas atrás de outras, em campanha eleitoral, para convencer o eleitorado a votar neles, mas em nenhum momento mostraram ao público qual é o seu valor, mesmo em coisas simples como de exprimir a sua solidariedade para com as vítimas de qualquer coisa.

Com que base é que os eleitores poderão apostar em partidos como estes que só aparecem em tempos eleitorais para beneficiar de recursos financeiros do erário público que o Estado distribui pelos actores políticos participantes nas eleições, em detrimento da defesa dos interesses do povo moçambicano?

Tudo leva-me a crer que, na maior parte dos casos, não temos políticos no verdadeiro sentido da palavra. Pessoas com maturidade, credibilidade e a quem se pode depositar confiança. Estamos, sim, perante curiosos e irresponsáveis, vestidos de peles de líderes políticos que mais não fazem do que brincar de fazer política e de democracia.

Em última análise, estamos diante de indivíduos que, em nome da democracia, criaram partidos só para ficarem na história, pois, na prática, não têm nenhum projecto de fazer uma oposição séria e responsável à Frelimo, muito menos o sonho de chegar ao poder.

Não é possível eleger deputados para a AR num abrir e fechar de olhos. Se isso fosse assim, todos nós seriamos representantes do povo. É que não é em 45 dias de campanha eleitoral que um partido desconhecido pode estabelecer uma base de apoio sólida. É preciso desenvolver um trabalho político árduo, de anos, junto das comunidades para merecer o apoio ou granjear simpatias do público.

É fundamental que os políticos saibam que as coisas mudaram muito no país. Os eleitores de hoje são diferentes dos de ontem. Os actuais, esclarecidos e com acesso à informação, são difíceis de enganar e tendem a ser cada vez exigentes. Não pactuam com mentiras ou promessas bizarras. Essa não convence a ninguém.

O que conta para o voto é a idoneidade e a capacidade do candidato ou do partido político concorrente de poder prover soluções para os problemas do povo. No fim do dia o que queremos é ser bem governados, com políticas sociais e económicas claras, focadas em objectivos, e uma gestão transparente e responsável da coi sa pública.

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