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Homens perderam vergonha e são os que mais denunciam violência psicológica em Maputo

No primeiro trimestre do corrente ano, o Departamento de Atendimento à Família e Menores Vítimas de Violência na Cidade de Maputo (DAFMVV) registou mais de 90 casos de violência psicológica contra homens, o que representa um aumento significativo comparado com o período anterior. Para a DAFMVV, esta situação mostra que homens têm deixado de lado os preconceitos e denunciam mais as suas parceiras.

Esneta Marrove

Engane-se quem pensa que em Moçambique a violência doméstica atinge apenas mulheres e crianças, uma vez que o homem, que no grosso das vezes está na pele de agressor, também consta do rol das vítimas deste fenómeno.

Nos últimos tempos houve um aumento de casos de violência psicológica, e a principal vítima é o homem. De acordo com Júlio Vinho, inspector principal da polícia afecto no Departamento de Atendimento à Família e Menores Vítimas de Violência na Cidade de Maputo, mais de 90 homens denunciaram as suas parceiras por este tipo legal de crime.

“No primeiro trimestre de 2024 tivemos um aumento de 30 casos de violência psicológica comparado com período anterior, o que significa que em 2023 houve registo de 60 casos e este ano 91, e mais de 70% são homens que denunciam as suas parceiras”, explicou Júlio Vinho.

O inspector do DAFMVV referiu que os homens despiram da vergonha e, ao invés de agredir as parcerias quando estas pautam pelo desprezo e falta de respeito, preferem transferir o assunto para as autoridades da lei e ordem.

A título de exemplo, Carlos Abdul (nome fictício) decidiu denunciar a sua parceira depois de 10 anos de violência, grande parte dos quais decidiu sofrer calado.

“Eu vivi com a mãe dos meus filhos por muito tempo e no início tudo era bonito, não havia problemas, sempre estávamos em harmonia. Posso dizer que a felicidade era o nosso pão do dia-a-dia. Em 2020, com o pico da pandemia da Covid-19, muita gente perdeu emprego e infelizmente eu fui um dos afectados. Não sabia que, afinal de contas, aquele era o início do meu terror. Mal perdi o emprego, o comportamento da minha esposa começou a mudar e todos os dias passaram a haver insultos que chegavam a agressões físicas”, desabafou.

Quando Abdul foi perceber a mudança de comportamento da sua esposa preferiu ficar calado por vergonha.

“Preferi manter-me calado porque as pessoas iam falar mal de mim, iam rir-me porque eu sou homem e o normal do homem é não levar desaforos para casa e muito menos tolerar, só que o facto de eu calar matava-me por dentro”, lembrou com um sorriso estampando no rosto.

E antes que fosse tarde, Carlos Abdul decidiu deixar a vergonha de lado e denunciar a sua esposa pelos maus tratos que estava a passar, apelando, por isso, aos homens para perderem a vergonha e denunciar as esposas abusadoras.

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