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Três anos depois: Tropa ruandesa assume postura corporativa (mercenária) e começa a fazer responsabilidade social

Assinala-se hoje, dia 09 de Julho, o terceiro aniversário da chegada do contingente militar ruandês a Moçambique para ajudar as Forças de Defesa e Segurança (FDS) no combate aos ataques terroristas que semeiam luto na província de Cabo Delgado há sete anos. A data coincide com a saída, semana passada, da missão militar da SAMIM, que apoiou o País no combate ao terrorismo desde 2021.

 

Coincide ainda com a nova abordagem dos terroristas que, nas últimas duas semanas, concentraram ataques esporádicos no raio de cobertura da Força Ruandesa, que são os distritos de Mocímboa da Praia e Palma, o que colocou em causa o triunfalismo de que o território ruandês é mais seguro de Cabo Delgado, uma narrativa que vem sendo alimentado pelo Executivo, que mostra tendências de solicitar militares ruandeses em Moçambique, uma postura que sugere que se dependesse exclusivamente deste não teríamos mais forças se não apenas ruandesas. Até porque neste período, o efetivo ruandês aumentou duas vezes, na primeira, passou de mil para dois mil. E na segunda o número não foi avançado e aventa-se a possibilidade de estarem no TON cerca de sete mil homens de Paul Kagame, com vista a cobrir o défice que se cria com a saída dos militares da SAMIM.

 

Em termos de evolução no campo, os grandes ataques sempre ocorrem fora dos radares do “território” ruandês. O que denuncia os medos dos terroristas. E é evidente que em termos de equipamentos, a Força ruandesa, com apoio ocultado da França e Total, está melhor abastecida que as demais forças, sejam da SADC ou FDS. Em Palma, tem as bases mais sólidas, feitas de betão (ao contrário das FDS que atrás de trincheiras), além de ostentar armas mais sofisticadas.

 

E combina essa musculatura bélica com uma convivência simpática com as comunidades locais. Conjugando estas qualidades com acções de responsabilidade social, como construção de infraestruturas básicas como escolas, mercados e distribuição de alimentação.

 

Comparado com os militares ruandeses, as FDS encontram-se na cauda, tanto a nível operativo, debatendo com questões de armamento ultrapassado, até na convivência com a comunidade que protege, havendo fortes indícios de violência dos direitos humanos, extorsão e outras formas de violência mais bizarras, com argumentos acusatórios de que as comunidades locais corroboram com os terroristas.

 

E a nível operativo, é como se houvesse uma expressa sabotagem a nível mais alto. No passado não muito recente, um áudio de um militar, denunciava casos em que as armas usadas apresentavam falhas. Aliás, até já houve denúncias de problemas de alimentação. Todo esse retrato, contribui para uma projecção triunfalista das Forças Ruandesas e de maior aceitação a nível das comunidades. É preciso anotar a vantagem que estes têm de comunicar-se com as comunidades, que falam Swahili, língua dominante no norte de Cabo Delgado, uma habilidade que as FDS não têm.

 

Mas se analisada à lupa essa tendência de uma abordagem militar de “conquistar corações”, num terreno em que aqueles (FDS) que têm o dever de conquistar por obrigação soberana, rasga-lhes, não se isola a possibilidade de estarmos diante de um lobo em pele de cordeiro. Ruanda tem relações com rebeldes que actuam na RD Congo. Isso cria muitas especulações sobre as reais intenções de Ruanda na sua política de expor forças. Não se isola a possibilidade de Kagame, na sua astúcia, criar problemas a fim de vender soluções, pois a guerra em Cabo Delgado tem sido lucrativa, não só para o seu exército que actua claramente como uma força mercenária empenhada numa guerra por procuração, como para empresas ligadas ao regime de Kigali e ao partido no poder, que abocanharam quase todas as oportunidades. Um segundo factor é que Ruanda, antiga colônia francesa, está em Cabo Delgado a defender interesses franceses. Não se conhece nenhum país colonizado pela França que não tenha histórico de actuações de terroristas.

 

Longe daquilo que uns chamariam de correntes conspiratórias, o facto é que a presença Ruandesa está inteiramente mais voltada aos negócios e tem forte apoio do Executivo que se abre por inteiro sem levar em conta questões de segurança nacional. Por exemplo, em Mocímboa da Praia, Ruanda controla o Porto e o aeródromo, num território de muitos minerais. Essa abertura permite a entrada e saída de Ruanda sem verificação.

 

E por outro lado, Ruanda tem a sua presença compensada com a entrada das suas empresas nos negócios de Oil e Gas. Em três anos de operação, a principal holding da RPF, sigla inglesa do partido Frente Patriótica de Ruanda, a Crystal Ventures, através da Macefield Ventures, seu braço internacional, passou a controlar as principais linhas de negócio em Palma, ao assumir, através de sucursais e participadas, os principais negócios dentro e fora de Afungi. São empresas que entraram na construção civil, na segurança e com interesses na exploração de minerais. Todos os contornos dessa amizade com Paul Kagame, são conhecidos pelo amigo, o Presidente da República, Filipe Nyusi, que graças ao terrorismo, que inicia no seu mandato, colocou o país inteiramente à disposição de Ruanda. E os ganhos seguem somando. 

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