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Bernardino Rafael reconhece abusos das FDS contra civis

Enquanto os terroristas adoptam, nos intervalos entre o terror e barbaridade, estratégias visando conquistar corações das comunidades locais, as Forças de Defesa e Segurança (FDS) têm estado a fazer o caminho contrário. Mal abastecidos e com a moral em baixo, numa altura em que há relatos de que vivem a base de sopas e papas por falta de ração de combate e alimentação condigna, alguns agentes das FDS têm descontado as suas frustrações nas comunidades locais, o que tem resultado numa relação conflituosa. Em Julho passado, dois militares foram mortos por civis em reação contra as barbaridades dos membros da FDS, que mataram sem razão aparente um comerciante local. Na semana passada, Bernardino Rafael, comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), reconheceu o suposto desvio de comportamento das FDS e pediu desculpas às populações de Macomia, em Cabo Delgado.

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As comunidades da nortenha província de Cabo Delgado estão longe de encontrar nas FDS o amparo que era suposto terem. Se de um lado fogem dos terroristas, de outro precisam fugir dos militares que frustrados por não terem assistência logística adequada descontam suas amarguras em pacatos aldeões.

Por essa razão, não conseguem ter inserção e uma relação pacífica no seio das comunidades. Em Macomia, a população vem se queixando continuamente de má actuação das Forças de Defesa e Segurança instaladas no distrito, onde, supostamente, há constantes violações dos direitos humanos.

As violações vão desde cobranças ilícitas e roubo de alimentos nas machambas e currais à torturas sob pretexto de violação de recolher obrigatório. A situação é de tal sorte grave que num acto de desespero, as comunidades chegaram a sugerir que as autoridades substituíssem as FDS pelas forças ruandesas, consideradas mais disciplinadas e com política semelhante a dos insurgentes, ou seja, ganhar corações através de acções de “responsabilidade social” e ofertas de bens.

A preocupação da população de Macomia em relação a suposta má actuação das forças de Defesa e Segurança foi apresentada ao Comandante-Geral da Polícia da República de Moçambique, durante a sua recente visita ao distrito.

“Essa nossa Força, quando interpela alguém na via pública, não ouve nem ao chefe da aldeia, nem ao responsável do Comandante Distrital, muito menos da Força Local. Não quer saber se a pessoa é daqui ou não. Só espanca e pede dinheiro. Essa situação até onde vai? É por isso que dizemos que essa Força nos maltrata”, denunciou um residente, citada pela imprensa local.

Regra geral, a população denuncia um padrão de cobranças ilícitas e coercivas, o que mostra o desespero dos agentes das FDS em obter dinheiro, corroborando com a ideia de que se debatem com grave falta de suprimento logístico, acabando por procurar outras formas de sobrevivência.

“Pedimos desculpas por todos aqueles erros que os nossos agentes têm cometido”

Bernardino Rafael, comandante da Polícia da República de Moçambique, vestindo a capa de político, reconheceu o suposto desvio de comportamento das forças de defesa e Segurança e pediu desculpas às populações de Macomia.

“Como dirigentes que somos das FDS, pedimos desculpas por todos aqueles erros que os nossos agentes têm cometido. Pedimos desculpas, porque não é nosso comando que alguém faça mal à população. Nenhum comandante, nenhum chefe toma essa decisão. Às vezes, os nossos colegas com algum ânimo chegam a estes incidentes, aqui e em outras zonas”, disse Bernardino Rafael.

O pedido de desculpas do comandante foi apresentado à população de Macomia cerca de um mês após a morte de um comerciante no distrito de Macomia, que acabou provocando tumultos e a morte de dois agentes da Unidade de Intervenção Rápida, assassinados pela população.

O tumulto de Julho foi causado devido a morte de um comerciante pelos militares sem razão aparente. “Um comerciante daqui da vila de Macomia saiu a noite para mijar e foi morto pelos militares, deitaram o corpo numa lixeira”, narra um dos nossos correspondentes na vila de Macomia, prosseguindo que “quando a população perguntou por que mataram o comerciante, os militares disseram que erraram e pediram desculpas”.

Não tendo gostado, a população decidiu fazer justiça pelas próprias mãos. “Pegaram em dois militares, mataram e queimaram os corpos”.

Esta reação fez com que os militares começassem a disparar contra a população, por isso “a população dos bairros de Nanga, Napulubo e Changane refugiaram-se para as matas”.

As violações dos Direitos Humanos pelas FDS não são recentes. O Relatório da Amnistia Internacional denunciou em 2021 as constantes violações de direitos humanos em Cabo Delgado, que são perpetradas não só por parte dos insurgentes como também de forças do Governo (FDS).

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