É uma revelação bombástica. O pesquisador e académico británico, que durante mais de quatro décadas vem estudando a economia e política moçambicano, Joseph Hanlon, considera que o Estado está a ser controlado pelo crime organizado, de tal sorte que o tráfico de drogas é, no seu entender, controlado a partir da Presidência da República.
Segundo o Boletim informativo do Centro para a Democracia e Direitos Humanos (CDD) que cita o eletrónico “Canalmoz”, Joseph Hanlon não tem dúvidas de que o negócio da droga é gerido pela Presidência da República, gabinete de trabalho do Presidente da República, que neste momento é Filipe Nyusi.
Segundo Joseph Hanlon, Filipe Nyusi tem conhecimento desse negócio que há décadas tem, supostamente, na Presidência da República o seu centro de comando.
A publicação do pesquisador é feita em reacção a uma intervenção de Filipe Nyusi no Conselho Coordenador do Ministério do Interior, que teve lugar no dia 17 de Julho, no qual Nyusi exigia resultados no combate aos raptos e ao tráfico de drogas.
Nessa publicação, Joseph Hanlon afirma que, durante mais de duas décadas, o comércio de heroína foi controlado pelo Gabinete do Presidente. Isso significa que Joaquim Chissano e Armando Guebuza também sabem do negócio.
Nyusi, que subiu ao poder em 2015, continuou com o negócio. O pesquisador diz, no entanto, que nem todo o negócio da droga é controlado pela Presidência, o que justifica as operações de desmantelamento de pequenas fabriquetas.
A heroína e a metanfetamina orgânica (produzida a partir dos arbustos de éfedra), provenientes do Afeganistão, ainda são controladas pelo Gabinete do Presidente de Moçambique e raramente são apreendidas pela Polícia.
“Mas a fábrica na Moamba, invadida pela Polícia recentemente, tinha mexicanos e ni- gerianos que produziam metanfetaminas sintéticas ou P2P e, portanto, estava fora do controlo do Gabinete do Presidente”, afirmou.
Moçambique está no mapa dos países que servem de trânsito de droga, tendo nos últimos tempos passado para a lista dos países que também consomem droga.
Um relatório da Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional, publicado em 2022, indica que na África Austral os portos de Pemba e de Nacala estão entre os mais importantes no tráfico de droga.
De acordo com esse relatório, os países do Leste e do Sul da África podem estar a receber mais drogas em relação à América Lati- na. O Gabinete das Nações Unidas contra a Droga e o Crime alertou, em 2019, que Moçambique se tinha tornado num corredor de grandes volumes de substâncias ilícitas, principalmente heroína, e recomendou uma maior cooperação internacional para a prevenção.