Comercialização Agrícola: Como a Fragilidade do Quadro Legal e Institicional Compromete a Rentabilidade dos Pequenos Agricultores?

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A comercialização agrícola é crucial para a economia nacional e representa uma das principais fontes de rendimento para as populações rurais. Este sector não só liga a produção rural ao mercado urbano, mas também impulsiona a produtividade agrícola. Uma comercialização eficiente permite que os agricultores melhorem a sua rentabilidade, contribuindo assim para a segurança alimentar e a redução da pobreza em todo o país.

Nos últimos anos, o sector da comercialização agrícola tem sido uma prioridade em diversas políticas governamentais. A expansão da rede comercial, a criação de sistemas eficazes de venda e a promoção das exportações estão frequentemente destacados em documentos estratégicos, tanto a nível nacional como internacional. A Bolsa de Mercadorias de Moçambique, por exemplo, foi criada para facilitar o acesso dos agricultores aos mercados e está alinhada com o Plano de Acção para a Redução da Pobreza (PARP) e os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODMs).

Vários planos, como a Estractégia Nacional de Desenvolvimento e a Estratégia de Segurança Alimentar e Nutricional (ESAN), também destacam a relevância do sector. No entanto, apesar da importância reconhecida, a comercialização agrícola ainda enfrenta desafios significativos devido à falta de uma legislação adequada. A ausência de um quadro legal robusto dificulta o crescimento do sector, tornando as negociações entre compradores e comerciantes vulneráveis a conflitos.

Um dos principais instrumentos usados actualmente é a caderneta de comercialização, que visa facilitar de forma formal as operações. No entanto, este documento é restrito a agentes registados, o que exclui muitos pequenos agricultores que operam informalmente. Sem uma regulamentação adequada, estes produtores enfrentam dificuldades na resolução de litígios e na defesa dos seus direitos, o que pode levar a práticas comerciais desleais e à exploração comercial.

Embora existam estractégias institucionais como o Plano Estratégico de Desenvolvimento Agrário, a sua implementação muitas vezes falha. Frequentemente, estes documentos são elaborados sem consultar as comunidades locais, resultando numa desconexão entre as políticas e as necessidades reais dos pequenos agricultores. Além disso, a falta de informação sobre esses planos contribui para a sua subutilização, fazendo com que muitos agricultores fiquem à margem das oportunidades que poderiam surgir.

A realidade é que, apesar da atenção dada à comercialização agrícola, ainda falta uma legislação eficaz. Um quadro legal robusto poderia não apenas melhorar os sistemas de comercialização, mas também assegurar que todos os agentes, independentemente da sua formalização, tenham os seus direitos respeitados.

Implementar uma legislação adequada é, portanto, uma necessidade urgente para garantir a segurança alimentar, aumentar a rentabilidade dos agricultores e ajudar na redução da pobreza nas zonas rurais. Com um ambiente jurídico justo, pequenos agricultores poderiam competir em igualdade de condições, acessando mercados e melhorando a sua qualidade de vida.

Fortalecer o sector da comercialização agrícola representa uma oportunidade valiosa para transformar a vida de milhões de pessoas. Com um quadro legal robusto, a agricultura pode não apenas impulsionar a economia, mas também promover o bem-estar social nas comunidades rurais. É fundamental que os responsáveis políticos e as instituições do sector agrícola trabalhem juntos para desenvolver e implementar uma legislação que atenda às reais necessidades dos agricultores, garantindo que todos possam beneficiar dos frutos do seu trabalho. (Salvado Raisse – pesquisador do CDD)

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