- Quando o diagnóstico precoce, apoio emocional e a resiliência salvam vidas
Na senda do Outubro Rosa, mês dedicado à conscientização sobre o câncer de mama, nesta Edição, o Evidências mergulha em histórias emocionantes de duas mulheres moçambicanas que enfrentaram o desafio de um diagnóstico de um nódulo mamário, que marcaria um ponto de virada que moldou suas vidas. Com uma taxa crescente de casos em Moçambique, a importância da detecção precoce, do apoio emocional e da resiliência não pode ser subestimada. Aqui, conhecemos Atália João, que enfrentou o câncer de mama, e Lígia Elias, que, ao detectar um nódulo em estágio inicial, evitou complicações graves. Essas narrativas não apenas reflectem a luta pessoal, mas também destacam a necessidade de um apoio mais robusto e acessível na luta contra essa doença.
Luísa Muhambe
O câncer de mama se tornou um problema de saúde pública significativo em Moçambique, com mais de 1.500 novos casos diagnosticados anualmente, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Apesar da crescente conscientização, muitos factores, como a falta de acesso a serviços de saúde, a desinformação e o estigma social, dificultam o diagnóstico precoce. Isso leva a um número alarmante de diagnósticos em estágios avançados, onde as opções de tratamento são limitadas e os prognósticos, muitas vezes, são sombrios.
Neste contexto, campanhas de conscientização, como o Outubro Rosa, têm ganhado destaque, promovendo a importância do autoexame e da detecção precoce. No entanto, é fundamental que essas campanhas sejam acompanhadas por melhorias no acesso à saúde, especialmente em áreas rurais, onde os serviços médicos são frequentemente limitados.
Atália João viveu, na primeira pessoa, os desafios que o câncer de mama impõe. A descoberta de um nódulo aos 15 anos foi o início de um caminho repleto de medos e incertezas, mas buscou no seu interior a força para se manter resiliente.
“Quando descobri que tinha câncer, minha vida virou de cabeça para baixo”, lembra, para depois acrescentar que “fui ao hospital sabendo que algo estava errado, mas a confirmação foi devastadora. O medo de perder meus seios e, pior, minha vida tomou conta de mim”, desabafou.
O tratamento foi um processo difícil e longo, lembra Atália, que passou por duas unidades de saúde e enfrentou dificuldades financeiras e momentos de desespero.
“Em um hospital, depois de concluir o tratamento, pediram dinheiro para a operação. Eu não tinha, e isso me deixou arrasada, mas, em vez de desistir, procurei ajuda em outro lugar, onde finalmente consegui realizar a cirurgia sem pagar nenhum centavo”, conta Atália, agora com 23 anos, para quem o apoio da família foi um pilar fundamental em sua jornada.
“Minha família estava sempre comigo, me dando força. Foi essa rede de apoio que me ajudou a não desistir”, compartilha, acrescentando que o amor e a solidariedade que recebeu foram determinantes para que ela mantivesse a esperança viva.
O encontro de Lígia com o medo
Lígia Elias acabava de sair da adolescência quando, aos 18 anos, descobriu um nódulo durante um autoexame. Apesar dos receios, buscou ajuda, mas a jornada até o diagnóstico adequado foi longa e angustiante.
“Eu não sabia o que fazer e o medo tomou conta de mim. Pensei que perderia meu seio e não sabia como iria lidar com isso. Demorei quase seis meses para me decidir a ir ao hospital. Quando finalmente fiz isso, o nódulo já havia crescido. Foi um alívio quando soube que era benigno, mas esse medo me acompanhou por muito tempo”, recorda.
Sua história ressalta a importância da conscientização sobre a necessidade de não ignorar os sinais do corpo e da urgência de buscar ajuda médica assim que algo parece fora do normal.
“Ter uma rede de apoio sólida e um acompanhamento psicológico é fundamental”
A psicóloga Georgina Mabuia destaca a carga emocional que um diagnóstico de câncer pode impor às mulheres, por isso diz ser fundamental um trabalho conjunto entre a sociedade, médicos, psicólogos e familiares, para garantir que essas mulheres saibam que não estão sozinhas.
“O impacto de saber que você pode perder um seio ou, pior, sua vida, pode ser esmagador. Muitas mulheres enfrentam sentimentos de insegurança, medo e, às vezes, até vergonha”, explica, destacando que o suporte emocional adequado, tanto da família quanto de profissionais, é crucial para ajudar as mulheres a lidarem com essas emoções.
“Descobrir o câncer é um momento de ruptura na vida de qualquer pessoa. Por isso, ter uma rede de apoio sólida e um acompanhamento psicológico é fundamental para navegar por esse caminho doloroso”, enfatiza Georgina.
As experiências de Lígia e Atália sublinham a importância do autoexame como uma ferramenta de detecção precoce, para evitar que a doença atinja estágios mais graves, mas também são testemunhos poderosos da resiliência feminina diante do medo e da adversidade.
“Eu não sabia o que era um nódulo até encontrá-lo. Foi isso que me salvou. Agora, sempre incentivo outras mulheres a se examinarem regularmente”, afirma Lígia, antes de ser secundada por Atália, que acredita que “as mulheres precisam prestar atenção aos seus corpos e não hesitar em procurar ajuda. A detecção precoce realmente pode salvar vidas”.
O Outubro Rosa serve não apenas para promover a conscientização, mas também para encorajar mulheres a serem proativas em relação à sua saúde.
“Vencer o câncer não é apenas sobre tratamento físico, mas também sobre superar o medo e a dúvida que vêm com o diagnóstico”, testemunha Atália.
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