A última eleição, à semelhança das demais, não foi excepção no que diz respeito à normalização de indicadores que sugerem a fraude, um desafio da CNE que se mostra crônico. Os observadores falam de enchimento. A oposição de fraude com todas as facetas antecipa a vitória. E, a Frelimo, fala da necessidade de confiar nos órgãos e autoridades de administração eleitoral. Todo este quadro configura um fiel eco das seis eleições até aqui realizadas. Mas nem com esses empecilhos repetitivos deixa de haver novidades mais desagradáveis ainda. O desempenho da Renamo, que pode anunciar uma nova configuração política, é disso um exemplo.
Embora figurava-se previsível uma derrota que coloca em causa a hegemonia da Renamo, enquanto segunda principal formação política no país, a gestão de Ossufo Momade será lembrada por conduzir uma gestão lesiva do partido, tornando aquele movimento num oposto de tudo aquilo que foi a liderança de Afonso Dhlakama. A presidência de Ossufo Momade foi caracterizada pela contestação por alas com poder de influência, tanto na Renamo civil, como também na militar, e a sua gestão não mostrou nenhuma capacidade de tornar o partido coeso, não teve em nenhum momento a humildade de chamar para junto de si os que se insurgiam contra ele, pelo contrário, foi a Frelimo, enquanto partido que governa, que encarou os problemas de Renamo (contestação de Nhongo) como problemas sociais, categorizando-os como problemas de ameaça à tranquilidade. Surge nesse contexto a caça à Junta militar. Essa estratégia de gestão de conflitos pode ter se mostrado funcional no que diz respeito a assuntos militares terem efeitos muito além da vida interna do partido. Mais vozes de contestação à presidência de Ossufo Momade, protegido pelos seus acólitos, cuja postura sugere que não hesitariam em vender o partido em troca de manutenção dos cargos na AR, não encontraram neste presidente a mínima capacidade de gestão. Assumiu sempre postura de mediocridade, alérgico a temas estruturantes do partido, rendido à bajulação, péssimo na escolha dos assessores e com apego exagerado ao poder. É a versão Nyusi, sem uma máquina forte para muito mais além.
Os dados isolados até aqui tornados públicos não disfarçam e mostram que, afinal, até os que estavam satisfeitos em manter-se como segundos podem perder o pouco se não fizerem o mínimo. É uma derrota legítima para quem acompanha o percurso da Renamo sob a presidência de Ossufo Momade. Uma presidência (usar liderança seria indecente) que exalta um DDR criticado pelos seus beneficiários, uma presidência que gazeta a campanha eleitoral, que aceita a fragmentação da Renamo, que se viu assombrada pelo fenômeno Venâncio, que levou consigo o que os primeiros deixaram.
O que faltou para que a Renamo se reinventasse e mantivesse a integridade de ser a segunda opção face à contínua descredibilização da governação da Frelimo, um contexto propício para uma maior consolidação da sua força? Faltou liderança, apenas uma liderança à altura da própria Renamo. Essa decadência depois de uma liderança forte, como foi o caso de Afonso Dhlakama, não é exclusiva da Renamo, nota-se em todos os principais partidos com assento parlamentar. Mas na Renamo, onde a contestação foi notória, o impacto também está a ser, e não deixa de ser, uma mancha que coloca em causa o legado deixado pelos antecessores da actual liderança.
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