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Ministro Magala volta a mentir sobre a real situação da LAM

Como que a tentar retirar a cabeça para não assar ao sol, o ministro de Transporte e Comunicações, Mateus Magala, decidiu vestir o manto que esconde toda e qualquer vergonha e sem nenhum remorso, nem medo de pecar aos olhos do senhor, fez um balanço positivo do desempenho da Fly Modern Ark (FMA), ao afirmar que esta cumpriu com o seu mandato, que era devolver a sustentabilidade das Linhas Aéreas de Moçambique e torná-las mais competitivas no mercado. As intervenções de Magala são feitas num momento em que a LAM está operacional e financeiramente falida e a gerir os efeitos desastrosos da intervenção daquela empresa sul africana, cujos resultados não estão documentados em nenhum relatório público. Na última sexta-feira (29), no mesmo dia em que Magala fazia balanço positivo, a LAM era arrancada a Boeing 737- 700 C9- BAR, o único avião com capacidade acima de 100 passageiros, por causas da dívidas, o que pressionou a sua reduzida frota e provocou cancelamento de voos para Lusaka, Dar-es-Salam e Harare. No próximo dia 19 do mês em curso, será devolvido o cargueiro anunciado com pompas e circunstâncias pela FMA, com apadrinhamento do ministro, mas que passado um ano, não chegou a fazer nem um voo sequer, enquanto obrigava a LAM a pagar 95 mil dólares mensais, por um período de 11 meses. Além deste legado desastroso, há desvio de 100 mil dólares pagos pelo Banco de Moçambique depois de alugar um voo Charter, cujo valor não entrou nas contas da LAM. Este é o legado da FMA, exaltado por Magala, o mesmo que teria mentido sobre o portfólio da FMA.

Nelson Mucandze

Da boca do mesmo governante, em Março do ano em curso, quando pairavam dúvidas sobre a continuidade da FMA, Magala apareceu a dissipá-los, afirmando que diante de resultados positivos a empresa gestora irá permanecer e quem tivesse evidências de mau desempenho devia apresentar as provas. Os trabalhadores da LAM, que ainda hoje se ressentem da passagem da FMA, arrolaram todos os problemas que a empresa tem e deixaram na mesa do governante. Mesmo diante de evidências, Magala tentou resistir ao dar a estes alcunha de agitadores, consolidando uma percepção de relações promíscuas com a empresa que em Janeiro passado teria autorizado pagamento de suas férias em Cape Town, África do Sul.

Mas foi em Julho que a FMA foi enxovalhada – começaram por retirar-lhes o gabinete e depois não eram dadas nenhumas tarefas, mesmo assim recebiam os cinco milhões de meticais por mês – e foram definitivamente afastados da LAM em Setembro. No entanto, o legado destrutivo, consequência de uma gestão que manipulava informações que permitiam medir seu desempenho, como se desse eco a postura do ministro, marcava as conferências de imprensa que, quase sempre, resumiam-se no lançamento de recados aos críticos de gestão e em apontar dedos aos resistentes das mudanças, enquanto eximia-se de apresentar soluções aos problemas da companhia. O mês de Julho coincide com a nomeação de Américo Muchanga ao cargo de Presidente do Conselho de Administração (PCA) e, cinco meses depois, mostra sérias dificuldades de imprimir uma gestão eficaz.

No dia em que o ministro vestiu o manto que retira qualquer vergonha

Nesta sexta-feira (29), o ministro veio novamente, com vícios à mistura, fazer um balanço positivo sobre a intervenção da FMA. Para Magala, aquela empresa sul-africana que esteve à frente das LAM com a missão de revitalizar e tornar a companhia de bandeira mais competitiva no mercado, cumpriu sua missão.

“A companhia estava insolvente. Significa que ia fechar as portas. E eles, em menos de um mês, mostraram que não, não estava insolvente. Só isso é muito. São milhões de dólares. Milhões de dólares, em um mês. Então, se nós não conseguimos apreciar isso como um passo positivo, penso que não seremos razoáveis”, disse, em uma declaração que mostra-se longe da realidade da empresa.

E mais. Magala disse que a Sul-africana introduziu novas rotas sem, no entanto, mostrar a outra faceta dessa medida.  “Estamos aí em Portugal, mas não só ao nível nacional. Há mais frequência, etc. Na verdade, nós fizemos uma pequena análise na semana antepassada. E constatamos que todas as rotas nacionais, com exceção de uma, que penso que é Tete-Maputo, numa ida ou numa direção, é que ainda tem uma pequena deficiência em termos de lucro ou rendimento. As outras são rentáveis”.

A realidade deixada pela FMA sem adorno de Magala

Quando a intervenção da FMA iniciou, a LAM contava com dois Boeing 737- 700 C9- BAR, três Q400 e três Embraer 145. De imediato, com vista a introduzir novos fornecedores, esta estrutura foi desfeita e ficaram apenas um Q400 com capacidade de 73 pessoas, um Embraer 145 com capacidade para 50 lugares e entraram dois CRJ 900 da CEM Air com capacidade para 90 passageiros cada.

Na mesma sexta-feira (29), enquanto o ministro Magala defendia com unhas e dentes a FMA e o seu sucesso na recuperação de uma companhia de bandeira que, nas suas palavras já está estabilizada, a LAM era obrigada a devolver para Espanha o Boeing 737- 700 C9- BAR por causa da incapacidade de pagar aos fornecedores da aeronave, cujas dividas são insustentáveis.

Este era o único avião com capacidade máxima de 132 lugares. Em consequência disso, a companhia da bandeira teve de cancelar voos de Harare (Zimbabwe), Lusaka (Zâmbia) e Dar-es-Salam (Tanzânia), transformando os aeroportos em paragens onde entra no avião quem chega primeiro.

Ainda a nível operacional, em consequência da administração de Theunis Crous, o executivo da FMA, que chegou a diretor geral interino da empresa nacional, a LAM tem pago mensalmente 95 mil dólares pelo cargueiro anunciado com pompas e circunstâncias. No entanto, desde que foi alugado em Dezembro de 2023 nunca saiu do Hangar, onde foi anunciado com pompas e circunstâncias com direito a uma doação de uns quilos de carga ao Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD). Até o momento, foram pagos cinco facturas e o resto está em dívida. A sua volta está agendada para 29 de Dezembro, como consumação de plano falhado, que o ministro se recusa a assumir.

O Evidencias apurou que as autoridades da aviação civil não autorizaram e nem a Boeing que o avião voasse porque tem uma série de irregularidades e os trâmites normais para a sua conversão de passageiros para cargas não foram observados. O cargueiro sofreu alterações sem autorização da Boeing, é como levar um carro para o bate-chapa e sofrer alteração de um ligeiro para pick up sem autorização do fabricante.

Magala continua a esticar a corda do suicídio (voo) “Maputo-Lisboa”

Outra decisão da FMA anunciada com apadrinhamento político para imprimir o retorno de uma companhia que esteve insolvente, foi a introdução da Operação Maputo – Lisboa, apontada como uma das causas do estágio actual da LAM. As sucessivas falhas da operação, aliadas com o facto deste serem submetidas a uma longa espera, afugentou os passageiros e, em consequência, influenciou nas receitas de uma operação que, segundo apuramos, tem um custo operativo de quatro milhões de dólares por mês e apenas uma facturação de 500 mil. Lembre-se que aquando a abertura dessa operação houve promessas de que os gestores ou governo iam injetar dinheiro à LAM.

Há três meses que o voo Lisboa-Maputo sai nos dois percursos com 39 a 50 passageiros, num avião com capacidade para 300 pessoas.

Fora de limitações operacionais, retrata-se, administrativamente, uma LAM cheia de dívidas com fornecedores em Portugal relacionadas com a operação Lisboa – Maputo. Um retrato que se repete em Maputo onde vem somando dívidas com MHS, Aeroportos, SMS Catering, Petromoc, entre outros.

Em Outubro passado, a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) suspendeu a LAM por falta de pagamento. Em consequência, algumas companhias internacionais, que davam prestígio a companhia da bandeira, suspenderam a colaboração. Internamente, Amadeu, um sistema de reservas de bilhetes, também suspendeu seus serviços à LAM.

A tripulação da LAM, que se hospedava no Hotel VIP, foi corrida para um outro hotel (omitimos o nome por questões de privacidade) por causa do aumento das dívidas. Os salários que eram pagos pontualmente até dia 25 de cada mês, até ao fecho desta da reportagem (02/12), era antes de serem processados para todos os trabalhadores.

Desapareceram 100 mil dólares que FMA nunca fez chegar às contas da LAM

A margem deste legado desastroso da FMA, consta o desvio de um negócio direcionado a LAM, cujo valor não entrou senão o envio de um bordereaux falso, feita na internet, ao departamento financeiro da LAM. Segundo o Evidências apurou, a LAM foi solicitada, em Março, para prestar serviços de um voo Charter ao Banco de Moçambique que tinha um evento em Joanesburgo, África do Sul.

Esta operação ia resultar num faturamento de 100 mil dólares para LAM. Para efeito, foi solicitado um avião na África do Sul, que fez o voo, no entanto, o dinheiro deste aluguer não entrou nas contas da LAM, apesar de ter saído do Banco de Moçambique. Inicialmente, foi apresentado um bordereaux que comprovava o pagamento, no entanto, semanas depois, veio a confirmar-se que se tratava de um comprovativo falso. Este é o legado exaltado pelo ministro, que desde o princípio mentiu, e de forma compulsiva, sobre as capacidades da FMA.

Enquanto isso, a nova administração da LAM, ainda não mostrou competência para tirar a companhia da bandeira da crise que, apesar dos adornos políticos, tende a agravar-se.

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