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Dono da FMA expõe a LAM e acusa nova administração de má gestão e incapacidade

Enquanto sucumbem as Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), com atrasos, diminuição da frota, perda de confiança e dívidas com os fornecedores, problemas crônicos que se agudizaram no decurso da intervenção, há uma tendência de se forçar a ideia de que a Fly Modern Ark cumpriu sua missão. Depois do ministro de Transporte de Comunicações, Mateus Magala, que chegou mesmo a mentir e falar de milhões de dólares em receitas como parte de desempenho da empresa sul-africana, responsável por uma intervenção que durou 16 longos meses de medidas atabalhoadas, na semana passada, foi a vez de Theunis Crous, dono da FMA, fazer o seu sumário da intervenção. Agora, por fora e talvez com uma visão melhor, Crous, enquanto gaba-se, enumera os problemas e os indica a dedo: “má gestão e incapacidade de implementar medidas de controlo de custos introduzidos pela Flymodernark”. Para ele, a saída da FMA não foi substituída por uma administração à altura, daí conclui que, para além de sinais de incompetência e má gestão, há vazio da liderança na LAM.

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Theunis Crous fez seu sumário no seu perfil de LinkedIn, onde debruça sobre os problemas conhecidos da LAM. No entanto, ao que constatamos, ele peca por não assumir que são problemas que foram registados também na sua passagem pela companhia de bandeira, onde de dono da empresa gestora da LAM, passou para director-geral interino durante três meses.

No total, esteve na gestão da LAM por um período de 16 meses e depois cedeu às pastas para Administração de América Muchanga, que não poupa de acusar de incompetente e de falta de capacidade para liderança. Neste percurso, cometeu muitos males, incluindo o aluguer de um cargueiro a ser devolvido na próxima semana, (19), sem nunca ter voado, depois de ficar no chão por 12 meses a pagar 95 mil dólares/mês. Esta inclui outras medidas que podem ser vistas na edição 187, de 03 de Dezembro, onde este jornal deu contextualização à intervenção do ministro de Transporte e Comunicações, que numa mentira premeditada, com recurso a informações distorcidas, fazia balanço positivo do desempenho da FMA.

A publicação de Theunis Crous sugere um esforço combinado com o governante, de forçar uma narrativa de sucesso, mesmo diante de fracasso palpável. Aliás, o ministro teria feito o desafio de que se a empresa sul-africana apresentasse bons resultados, não teria o porquê interromper a intervenção. Como já ficou evidente diversas vezes, o ministro que já tinha poder de manter a FMA não teve argumentos, a empresa de Crous tinha falhado em tornar a LAM sustentável. E saiu pela porta dos fundos sem pompas, em contraste com a sua entrada triunfal e sem nenhum relatório técnico que permitisse medir, sem paixões, o (in)sucesso do seu desempenho.

Na sua publicação, Theunis Crous escreve que quatro meses depois de a FMA ter concluído a sua parceria de reestruturação de 12 meses (teve mais três meses como diretor interino) com a LAM, a transportadora nacional encontra-se numa posição precária. “Apesar de um período de estabilidade e optimismo durante o mandato da Fly Modern Ark, a companhia aérea parece estar lutando, mais uma vez, com ineficiências operacionais, perdas financeiras e um declínio na satisfação do cliente”, gaba-se o gestor controverso.

De acordo com Theunis Crous, quando a FMA saiu de sua função de reestruturação, a LAM ficou com um plano para agilizar as operações, optimizar custos e melhorar a prestação de serviços. No entanto, observa que os desenvolvimentos recentes sugerem que a companhia aérea não conseguiu sustentar o impulso criado durante a fase de reestruturação.

“Os relatórios indicam cancelamentos e atrasos frequentes de voos, uma reminiscência do caos pré-reestruturação da LAM. O desempenho pontual antes melhorado, uma conquista importante durante o mandato da Fly Modern Ark, deteriorou-se significativamente, deixando os passageiros frustrados e manchando ainda mais a reputação da companhia aérea”, descreve, naquela  que pode a ser a visão mais fiel da empresa, mas que não é nova.

Para Crous, apesar dos esforços para controlar os custos e aumentar as receitas, a situação financeira da LAM parece ter piorado. “Fontes dentro da companhia aérea sugerem má gestão e incapacidade de implementar medidas de controlo de custos introduzidas pela Fly Modern Ark. Os fluxos de receita de rotas internacionais, como o serviço Maputo-Lisboa, também diminuíram devido à redução da confiança dos passageiros”, escreve.

Crous entende que os problemas de gerenciamento de frota da LAM ressurgiram com relatos de aeronaves aterradas devido a atrasos na manutenção. E acusa que as operações simplificadas da frota estabelecidas no âmbito do FMA estão sendo prejudicadas, levando ao aumento dos custos operacionais e à redução da confiabilidade da rota.

Um dos contratempos mais significativos “parece ser o vazio de liderança”

“Um dos contratempos mais significativos parece ser o vazio de liderança deixado pela saída de Fly Modern Ark”, sentencia Crous, prosseguindo que a administração interna da companhia aérea, agora totalmente responsável pela execução das estratégias estabelecidas, “parece não ter experiência ou força de vontade para impulsionar as mudanças necessárias. Os observadores constataram um regresso às ineficiências burocráticas e à resistência à modernização, comprometendo os progressos realizados durante a fase de reestruturação”.

Ainda na senda dos problemas, aponta o que todos já sabem: a perda da confiança. Mas ele gaba-se que essa confiança existia aquando da intervenção da FMA, e não mente, mas isso foi antes de se ter o portfólio da FMA, quando a imagem da empresa gestora era aquela apresentada pelo ministro.

“O declínio acentuado na LAM levanta questões sobre a governança da companhia aérea e sua capacidade de manter as reformas”, aponta, gabando-se que “embora a FMA tenha lançado as bases para um futuro sustentável, a falta de acompanhamento da administração da LAM destaca problemas sistêmicos que vão além de correções temporárias”.

Crous fala ainda da falha na implementação de reformas, na reestruturação operacional e financeira. Ele fala de interferência política. “Como empresa estatal, a LAM permanece suscetível a interferências políticas, que muitas vezes entram em conflito com as boas práticas comerciais”, anota.

Concluiu que a “ausência de liderança visionária e a dependência de práticas ultrapassadas sufocaram a inovação e o progresso”. No caso de Moçambique, esta é uma realidade que assombra quase todas as empresas públicas, que sucumbe às ordens políticas. Aliás, a própria entrada da FMA na LAM foi produto de interferência política, que fez grossa as sugestões dos antigos gestores da empresa, que tinham arrolado as possíveis saídas da crise.

O testemunho do ministro

Dias antes da publicação do Theunis Crous, no dia 29 de Novembro, o ministro veio novamente, com vícios à mistura, fazer um balanço positivo sobre a intervenção da FMA. Para Magala, aquela empresa sul-africana que esteve à frente das LAM com a missão de revitalizar e tornar a companhia de bandeira mais competitiva no mercado, cumpriu sua missão.

“A companhia estava insolvente. Significa que ia fechar as portas. E eles, em menos de um mês, mostraram que não, não estava insolvente. Só isso é muito. São milhões de dólares. Milhões de dólares, em um mês. Então, se nós não conseguimos apreciar isso como um passo positivo, penso que não seremos razoáveis”, disse, em uma declaração que mostra-se longe da realidade da empresa.

E mais. Magala disse que a Sul-africana introduziu novas rotas sem, no entanto, mostrar a outra faceta dessa medida.  “Estamos aí em Portugal, mas não só ao nível nacional. Há mais frequência, etc. Na verdade, nós fizemos uma pequena análise na semana antepassada. E constatamos que todas as rotas nacionais, com exceção de uma, que penso que é Tete-Maputo, numa ida ou numa direção, é que ainda tem uma pequena deficiência em termos de lucro ou rendimento. As outras são rentáveis”.

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