- Venâncio Mondlane dispara contra académicos e intelectuais moçambicanos
Numa altura em que um grupo de proeminentes académicos e personalidades nacionais tem se esmerado em busca de soluções para a crise que o país atravessa, Venâncio Mondlane, candidato presidencial suportado pelo partido PODEMOS, decidiu criticar profundamente aquilo que chamou de académicos e intelectuais parasitas, abutres e hienas, alegadamente por não se identificarem com as causas e apoiarem ideias “frelimistas” em detrimento da verdade eleitoral.
Mondlane, que convocou as manifestações gerais em protestos aos resultados eleitorais de 09 de Outubro, diz que os intelectuais se furtam de debater assuntos socialmente relevantes e, simplesmente, querem se beneficiar da luta do povo. Não se referiu directamente ao grupo de Reflexão de Paz que, recentemente, apresentou um “manifesto cidadão”, mas a referência a “conferências” faz depreender que se refere ao mesmo que propôs a realização de uma Conferência Nacional de Paz.
“Ninguém está preocupado em debater os problemas do povo, estão sempre preocupados em promover conferências. Infelizmente, é esta intelectualidade que nós temos, parasita, esta intelectualidade que nós temos de abutres, é esta intelectualidade que nós temos de hienas, daqueles que comem carne putrificada e querem sugar e estão comer para depois se exporem em cima dos corpos daqueles que morreram, eles aparecem e querem glória por cima dessas mortes”, lamentou.
“O presidente eleito e vencedor”, como se proclama, manifestou sua indignação pelo facto dos académicos e intelectuais não discutirem o nível de violência que muitas vezes culmina em mortos e feridos.
“Ninguém está preocupado com as noventa almas perdidas, todos falam disso mas não oiço ninguém da classe da elite, a tal chamada classe média, dos académicos, intelectuais, professores universitários a dizerem que há esses direitos que serem respeitados, vocês podem se manifestar mas não impeçam o direito de não manifestar, mas não oiço nenhuma dessas pessoas da elites a vir falar de perdas de vidas cujos sonhos foram interrompidos por uma violência extrema exagerada”, sublinhou.
Mondlane lembrou da morte do saudoso advogado Elvino Dias, de quem actualmente pouco se fala, aliás “caiu” no esquecimento e os intelectuais não discutem isso e nem pressionam o Governo, especificamente a FRELIMO, para parar com o jorramento de sangue nas estradas, apenas estão preocupados com o fim das manifestações para livre-trânsito.
“Elvino Dias, o advogado, deixou uma viúva que se chama Esmeralda, com três filhos, ninguém se recorda disso, ninguém fala disso, os intelectuais esqueceram. Ninguém fala deste que era chamado advogado do povo que perdeu a vida, mas dizem que as manifestações devem parar porque estão a atrapalhar a circulação livre. Mas ninguém diz que o Governo deve parar de matar pessoas, esses mesmos intelectuais não falam sobre isso”, recordou.
O candidato presidencial, mais uma vez, levantou outros episódios que merecem atenção, mas carecem da intervenção dos académicos. Deu exemplo de má actuação da PRM em vários pontos do país que culmina com detenções, feridos e mortes, por isso, é desta tese que questiona a valentia da intelectualidade moçambicana.
“Onde é que está a intelectualidade, onde estão os professores universitários, onde é que estão os académicos, onde é que está a elite, que agora quer fazer conferências, quando o povo está a morrer na rua. Querem andar em simpósio quando o povo está a morrer na rua, onde está essa elite, se encontra aonde?”, questionou Mondlane, acrescentando que “são os mesmos professores universitários, académicos, que vem falar mal das manifestações e dizem que os miúdos não podem ficar na rua (…) porque querem circular livremente”.
Venâncio Mondlane diz que todo esforço empreendido pelos académicos e intelectuais não tem em vista defender o povo “oprimido”, se não ser conotados de “super homens” em mesas redondas para pacificar o país.
“São esses que se dizem intelectuais, professores universitários e se intitulam académicos que nada fazem pelo povo que sofre há anos, desde a independência deste país. Querem ganhar protagonismo, querem aparecer como salvadores, são esses que querem resolver a miséria, a verdade eleitoral na base de um seminário, na base de conferências, são esses que nós temos hoje, fazer mais o quê?”, desabafou.