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Wilker Dias diz que Nyusi finge procurar soluções enquanto o povo está a ser martirizado

Numa altura em que se assistem constantes violações dos Direitos Humanos em Moçambique, o  activista social (moçambicano) Wilker Dias foi, recentemente, distinguido, em Haia, pelo Reino dos Países Baixos, como um dos dois defensores dos Direitos Humanos mais destacados a nível global. Numa entrevista concedida ao Evidências, Dias, um dos membros fundadores da Plataforma Eleitoral Decide, mostrou-se feliz com a distinção, mas, ao mesmo tempo, não escondeu o seu desagrado pela violação dos Direitos Humanos no contexto pós-eleitoral. Se por um lado, criticou a postura do Chefe de Estado que parece que está afincadamente a procurar soluções para acabar com a onda de instabilidade no país, enquanto as Forças de Defesa e Segurança fuzilam cidadãos indefesos, por outro, antevê que as próximas fases das manifestações serão agressivas e sangrentas, chamando, por isso, atenção para o respeito pelos Direitos Humanos.

Duarte Sitoe

Foi através das redes oficiais que Wilker Dias tornou público que foi distinguido como um dos defensores dos direitos humanos a nivel global. Corriam apenas alguns dias depois de ter escapado a uma suposta tentativa de envenenamento com recurso a gás arsénico.

“E nesta noite o nome de Moçambique escreve-se nos anais da história dos defensores dos direitos humanos no mundo”, lê-se na publicação.

Esta distinção, a segunda em menos de seis meses, serviu de gatilho para um dedo de conversa com o Evidências, na qual o jovem activista social diz que veio conferir mais credibilidade ao seu trabalho e encoraja não só a si como os outros activistas a lutarem mais para defender os direitos dos cidadãos, o que vai despertar a comunidade internacional sobre os constantes atropelos no país

“Este prémio é repartido por todos os activistas e defensores dos direitos humanos em Moçambique e que tem feito muito para salvaguardar este lado. Segundo, traz-nos uma responsabilidade acrescida para que continuemos a lutar e a batalhar por aquele que é um direito fundamental que a plataforma Decide foi envergado que foi por direito a participação política através da inclusão e outros sistemas de monitoria que nós temos praticamente evidenciado ao longo desses anos e dá-nos esta maior primazia de lutar unificadamente para que o anseio de todos que precisam possam ser resolvidos, falo de assistência para os que estão detidos em contextos eleitorais aos que foram mortos ou até ferido e baleados ao longo desse processo. Isso nos leva a continuar a lutar para que o Governo e a comunidade internacional possam despertar o que vem acontecendo em Moçambique”, disse Dias.

Wilker elogiou o trabalho dos defensores dos direitos humanos no país, contudo, entende que existem barreiras na língua na hora de pedir apoios para levar a cabo iniciativas que defendam os direitos nos países lusófonos.

“O nosso trabalho desperta a comunidade internacional. Mas a língua tem sido uma das grandes barreiras para apoios a estas iniciativas ou para que prestem atenção para aquilo que vem acontecendo. Esta distinção de forma automática o mundo vai perceber que em Moçambique e nos outros países falantes de língua portuguesa que há defensores promissores dos direitos humanos”.

Desde o arranque das manifestações em reivindicação da verdade eleitoral, convocadas por Venâncio Mondlane, mais de 100 pessoas foram assassinadas pela Polícia da República de Moçambique. Olhando para as fases que estão à porta, o activista social antevê um cenário catastrófico e pede, por isso, respeito pelos direitos humanos.

“Acredito que as próximas fases das manifestações serão agressivas e sangrentas. É só olharmos para o número de mortos na última fase. Foi um número astronómico que supera todas as outras fases, ou seja, a quarta fase da quarta etapa acabou sendo mais sangrenta do que todas as três fases anteriores. O que se espera lá mais para frente é um cenário catastrófico se a polícia continuar a agir dessa forma. São vários antecedentes que a polícia vai provocando e cada acção tem a sua reacção. Creio que se tivermos manifestações pacíficas e mais pessoas a morrerem durante estas manifestações as consequências poderão ser catastróficas e faz com que o nosso índice dos direitos humanos tenha uma redução drástica”, sublinha.

Wilker antevê cenário catastrófico se o Conselho Constitucional validar vitória da Frelimo

Para Wilker Dias, o povo indefeso está a ser martirizado, enquanto o Alto Magistrado da Nação finge que está a busca de soluções para acabar com a onda de instabilidade, em encontros com partidos políticos, organizações da sociedade civil, jornalistas e confissões religiosas.

“A postura do Presidente da República é lamentável. Isto quando na tentativa da resolução desse problema parece que se busca algumas vozes da sociedade que é “para o inglês ver” do que propriamente para resolver o problema. Aqui é importante que o próprio Executivo tire os tampões dos ouvidos, deixe a centralização partidária de lado e olhe para aquilo que está a acontecer e, sobretudo, os erros que são os seus que tem estado a ocorrer. Que se busquem alternativas para a resolução disso. Das alternativas por mais que haja diálogo ainda não verificamos nenhuma consequência directa relevante ou tomada de decisão imediata para resolver este assunto, é algo que se torna um pouco preocupante quando temos o povo a ser martirizado e, por outro lado , o PR fingir sentar com o povo para resolver isso”.

Embora seja prematuro conhecer o desfecho do processo movido por algumas organizações da sociedade civil contra o Comandante – Geral da Polícia da República de Moçambique, Bernardino Rafael, Dias acredita que o mesmo tem pernas para andar, tendo ainda referido que a decisão do Conselho Constitucional terá implicações.

“Não sabemos qual será o desfecho. Esse é o grande dilema. A PGR já nos convidou para uma audiência e actualmnte estamos num processo de perceber quais são os contextos subsequentes inerentes ao caso. Dependendo das decisões a serem tomadas pelo CC, podem ter as suas implicações. São três prováveis cenários que são abertos neste preciso momento em que o primeiro pode ser a vitória do partido Frelimo com base naquele que é o edital teria um cenário catastrófico. O segundo cenário é mesmo a reversão dos resultados e basear-se nos dados apresentados nas diversas vertentes. O terceiro seria ouvir as diversas vozes da sociedade para que se pudesse anular as eleições”, disse o jovem activista.

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