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A era de Chapo: Um salto forçado e incerto

Os desafios que questionam nossa capacidade de superação nunca foram tão prementes quanto na actualidade. A primeira edição do Evidências, para o ano de 2025, sai num contexto de incerteza, uma incerteza na qual o país esteve sempre assentado, mas teve o seu estopim na crise pós eleitoral que, de forma cíclica, caracteriza o país devido às evidenciadas fraudes e a falta de confiança nos órgãos eleitorais.

 

Embora aparentemente se trata de efeito de um evento recente, a crise actual é consequência de anos de uma governação problemática, sobretudo no ciclo que amanhã termina, de um Governo que se mostrou incapaz de acompanhar as dinâmicas que poderiam conduzir o país ao desenvolvimento e decepcionando uma juventude que se vê ignorada por essas políticas pouco aglutinadoras e sem qualquer criatividade. Estamos diante de problemas conhecidos, precipitados por actores conhecidos, que tiveram a oportunidade de experimentar os efeitos desastrosos das suas decisões que, talvez na altura de tomada, se mostravam razoáveis.

 

Ainda bem que o pico dessa crise (insatisfação generalizada) ocorre num contexto de transição, favorável ao restart do país, que serve de cama aos que poderiam ser associados, numa indicação a dedo, a responsabilidade de o país estar no actual insatisfação colectiva.

Uma vista à lupa, denuncia o quanto as políticas (incluindo leis) estiveram voltadas a atender um grupo de privilegiados, cujo horizonte é a própria barriga, é o monopólio das suas empresas; é a incapacidade de separar o Estado do Partido, de redistribuir riqueza, de construir infraestruturas públicas, de robustecer tecido social e econômico. E de matar quem ousa questionar, excluir quem é de partido diferente, redimensionar Moçambique a Maputo e demonizar os demais com aqueles cânticos de doa quem doer. É disto que derivam a instabilidade em Cabo Delgado, as ameaças de Naparamas no Centro e os movimentos das ruas em Maputo. Não há feiticeiro que tenha poder de entrar em casa sem nenhum membro da família abrir a porta. Este será, sem dúvidas, o legado palpável do consulado Nyusi, que apesar da vontade demonstrada em discursos, não teve muita sorte (ou nenhuma) nas suas decisões.

 

A promessa de fazer diferente para resultados diferentes sugere que os sinais de desgosto já não podem ser ignorados e tem agora atenção de quem deverá incidir a maior responsabilidade de conduzir a resposta certa. Ainda bem que houve essa consciência. Mas é uma promessa questionada quando as primeiras pedras usadas para a construção do próximo consulado são as velhas, as mesmas usadas no edifício que está agora a desmoronar. Leva-nos isto a uma questão básica: será Chapo incapaz de conhecer o básico, a impossibilidade de construir o novo a partir do velho? Ou estaríamos errados em julgar o consulado de Chapo pela nova configuração da Assembleia da República?

 

A semana está voltada a este primeiro passo para construção das pedras de Moçambique para os próximos cinco anos. Os problemas já são de todos conhecidos e Venâncio Mondlane, cujo legado está patente na Assembleia da República, exprimiu-os bem. Resta apenas ao próximo timoneiro da Ponta Vermelha, certificar-se de que o seu salto seja sobre um chão firme, reconciliar as suas promessas de pacificar e rejuvenescer essa pátria com as suas acções e, nestes momentos de incerteza, dar nos, ao menos, um horizonte certeiro. Adeus Nyusi e que venha o Chapo!

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