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Reflexão Sobre Inclusão Financeira das Comunidades Rurais de Baixa Renda (3)

Por: Teodósio Camilo

A disponibilização de crédito acessível ao consumidor por parte de instituições financeiras deve ser feita simultaneamente com a assessoria financeira, estes serviços permitem ao consumidor fazer o uso sustentável dos produtos financeiros ofertados. Um sector financeiro inclusivo e vibrante é caracterizado por diversidade de instrumentos e serviços financeiros que operam de forma eficiente, providenciam distintos produtos e serviços financeiros que se integram de forma efectiva às acções económicas do país. Os bens e serviços financeiros não devem ser somente ofertados pelos bancos comerciais, mas sim, integra-se uma cadeia de instituições financeiras não bancárias, existência de pessoal técnico financeiro qualificado em altura de fornecer assistência técnica financeira aos consumidores.

Assim, pode-se admitir que a existências de muitos cientes inadimplentes nos Bancos Comerciais, pode ser motivada, em parte, pela falta de assessoria financeira por parte da instituição bancária, por forma a orientá-los no devido uso do produto financeiro, não somente a quando da consumação do empréstimo, assim como ao longo do desenvolvimento do negócio do cliente. 

A este respeito, o pilar pagamentos ou investimentos ganha campo através de pacotes destinados a investimentos realizados pelas instituições financeiras não bancárias, não se cingindo aos empréstimos bancários. Diversas instituições financeiros, bancárias e não bancários, podem criar instrumentos financeiros como grants, Result Based Fundings (RBF), Catalyst Fundings para alavancar um determinado sector, a título de exemplo, agrário, energias renováveis, prevenção da biodiversidade ou mesmo sobre economia azul.  

Educação financeira e Literacia financeira

Os pilares Poupanças, Educação Financeira e Literacia Financeira são responsáveis pelo sucesso ou fracasso de muitas pessoas na melhoria das condições de vida em todos os segmentos sociais, não somente a classe baixa desfavorecida, assim como as de média e alta rendas. Entretanto, as poupanças respondem pela acumulação de capital financeiras de famílias, de pequenas e médias empresas no sentido de se acautelar às futuras necessidades face às crises ou mesmo para investimento. Em alguns países onde a Educação Financeira faz parte da cultura das pessoas ou famílias, poupar está noDNA” do consumidor, as pessoas estão a par deste facto, só é possível gerar capital de investimento próprio quando se poupa. O fenómeno poupança é contraposto ao consumismo e ostentação que se verifica em muitas pessoas.

Concomitantemente, pesquisadores de Inclusão Financeira divergem quanto ao conceito de Educação Financeira (EF) e Literacia Financeira (LF). Alguns consideram a EF e LF como termos sinónimos, outros analisam-nos como termos complementares, mas não necessariamente sinónimos. Neste ângulo de abordagem, considera-se a perspectiva de complementaridade não de sinonímia.

A Educação Financeira e Literacia Financeira influem no comportamento do consumidor, no mercado de bens e serviços financeiros, apura o conhecimento sobre como administrar as finanças individuais, tornando-os mais conscientes nas decisões financeiras. A Educação Financeira aperfeiçoa as atitudes e comportamentos perante o mercado de bens e serviços financeiros cada vez mais competitivo, convincente, apelativo e é uma ferramenta necessária na tomada de decisões financeiras (Borges, 2013).

Noutra visão, a Educação Financeira é um conceito mais amplo do que Literacia Financeira, refere-se às capacidades, conhecimento e habilidades necessários na gestão de recursos financeiros de forma eficaz que conduz ao bem-estar financeiro. É acção por meio do qual o conhecimento financeiro e as competências são adquiridos em vez de conhecimento e habilidades próprias. Estas acções podem ser prestadas pelos Bancos Comerciais, Organizações Não-governamentais e outros stakeholders, não necessariamente o Banco Central, cabendo este a supervisão destas actividades.

A Educação Financeira é um conceito que promove a Literacia Financeira, este último deve ser compreendido como o produto final da educação financeira. Apesar de algumas diferenças terminológicas muitos teóricos usam ambos alternadamente, na proposição de que uma pessoa financeiramente educada definitivamente detém elevado grau de literacia financeira. Infelizmente, esta percepção não constitui a verdade. Um indivíduo pode ser financeiramente educado, mas sem alto nível de literacia financeira, inversamente ou possuir as duas vertentes.

Qualquer indivíduo formando em uma área financeira seja Contabilidade, Gestão Financeira, Ciências Económicas, ou seja, Economia tem, sem dúvida, alto nível de Literacia Financeira. A LF refere-se a ao conhecimento, domínio da linguagem e termos usados no campo financeiro que podem ser adquiridos, através da formação ou experiência na esfera financeira. Por seu turno, a Educação Financeira está relacionada com o conhecimento ou capacidade que um indivíduo pode ter e necessária na tomada de decisões financeira. Por exemplo, saber quando, como, onde e para que finalidade deve aplicar uma determinada quantia de valor, a cultura de poupança, realizar investimentos acertadas sustentáveis e consumo adequado. Nesta ordem, é possível alguém possua alto nível de educação financeira, mas com baixo nível de literacia financeira (Vita, 2017).  

Entretanto, a Educação Financeira não é um campo reservado apenas à Contabilidade, Gestão Financeira e Economia, deve ser compreendida como uma área transversal, susceptível de uma análise holística. A Sociologia, Antropologia, Linguística e a Psicologia, entre outras áreas, podem contribuir na promoção da Educação Financeiras principalmente nas comunidades rurais desfavorecidas. Tanto que a EF é uma área nova, comparada com outros campos de saber, alguns pesquisadores defendem ser uma área integrada nas Ciências Humanas alicerçada pela Teoria de Finanças Comportamentais e a Psicologia desempenha um papel importante.

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