ALEXANDRE CHIURE
Geralmente as pessoas que nos matam ou que nos fazem mal, estão bem próximas de nós. Mais próximas do que imaginamos. Pessoas a quem depositamos toda a nossa confiança. Conhecem-nos profundamente como a palma das suas mãos. Vivem connosco. Conhecem, a par e passo, todos os nossos planos ou projectos.
Passam connosco bons momentos na vida. Partilhamos com elas as nossas conquistas. Quando alguém nos alerta sobre o seu lado mau ou que estejam a armar alguma coisa para nos prejudicar, somos os primeiros a desmentir categoricamente ou a sair em defesa dessas pessoas. Não acreditamos que sejam capazes de nos fazer mal, “vender-nos” ou desejar-nos mal.
Porque a nossa relação com essas pessoas nos deixou cegos. Atravessou as fronteiras de amizade e alcançou o muro da irmandade. Têm a bênção dos nossos pais, familiares. Passam por cima de algum tipo de protocolo nas nossas vidas e são tratadas como verdadeiros filhos da casa.
Infelizmente, são esses irmãos adquiridos que nos apunhalam pelas costas e com muita facilidade porque conhecem sobejamente os nossos defeitos, as nossas fraquezas.
Alguns trabalham connosco. Outros, vivem no bairro onde moramos, na aldeia, na comunidade. Outros frequentam connosco a mesma escola ou faculdade. Estão na tropa connosco ou na instrução policial. Alguns têm a ver com a nossa infância e são testemunhas dos nossos primeiros passos na vida.
Outros surgiram do nada e tornaram-se nossos confidentes. Conhecemo-nos num convívio, numa viagem de autocarro ou de avião. Numa excursão turística ou num supermercado e, por alguma razão, deixamo-nos impressionar à primeira vista. Abrimos os nossos corações para essas amizades.
É verdade que alguns deles gozam do facto de nos conhecer bem para nos aconselhar quando nos desviamos. Quando não nos comportamos devidamente. Não nos deixam pecar, nem cometer falhas sobre as quais podemo-nos arrepender mais tarde. Esses são os nossos verdadeiros amigos. Aqueles que nos querem bem, mas esses são muito poucos.
A maioria é constituida por falsos amigos, mas que, infelizmente, são aqueles gozam da nossa maior consideração. Merecem a nossa total confiança. Alguns, na primeira oportunidade, entregam-nos aos nossos piores inimigos por uma simples inveja ou porque, com o nosso esforço, a nossa entrega abnegada ao trabalho, a nossa sinceridade, o nosso profissionalismo, a nossa criatividade, crescemos. Melhoramos a nossa qualidade de vida e somos vistos de forma diferente na sociedade.
Riem connosco. Ficam bem juntos de nós como quem está preocupado connosco quando, na verdade, não nos querem bem. Ao virarmos as costas, tudo muda e vinca o desejo de nos ver na lama, a atravessarmos a rua da amargura, a chutarmos latas.
Rogam pragas para que não encontremos saída para os problemas que enfrentamos ou para que percamos tudo que conquistamos ao longo da vida e nos tornemos pobres e tema de conversa.
Aqui fica uma forte chamada de atenção para todos vocês no sentido de que é preciso ter muito cuidado com as nossas amizades porque algumas podem nos afundar ou fazer-nos mal.
Amizades longe de serem verdadeiras. Amizades que não passam de uma autêntica “bomba-relógio” que, a qualquer momento, poderá explodir. Amizades que não deviamos nunca ter deixado entrar nas nossas vidas.
Na política, resolve-se este tipo de situação com a purificação das fileiras para varrer consigo os traidores, os infiltrados, membros que não são membros. Os falsos simpatizantes que se dizem defensores das cores de alguns partidos políticos quando, na verdade, é só para ganharem fortes influências políticas na sociedade e, por via disso, obterem benefícios na sua vida.
E nós, o que devemos fazer com as nossas amizades? Como termos a certeza de que todos quantos se identificam connosco são nossos verdadeiros amigos? Só há uma saida para isso: colocar a todos em prova. Aqueles que sobreviverem de uma crise financeira ou de fases críticas da nossa vida.
Aqueles que continuarem connosco, mesmo assim. Aqueles que nos estendem a sua mão quando mais precisamos. Que partilham connosco o pouco que têm. Tomam os nossos momentos difíceis como sendo deles.
Quando tropeçamos, têm a amabilidade de nos levantar ou pôr-nos em pé. Saem connosco mesmo sem dinheiro. Convivem connosco na pobreza. Senhoras e senhores, esses são os nossos verdadeiros amigos. Aqueles a quem podemos confiar e pôr mão no fogo por eles. Os restantes, nem por isso. É para esquecer.