Alexandre Chiure
O que foi feito no passado, não tem volta. Cometeram-se os erros que se cometeram e pronto. O que não se deve admitir é que, como país, voltemos a cair nos mesmos erros quanto à nossa visão sobre a indústria ou seja a ausência de políticas e estratégias que mostrem a direcção a seguir.
Se é para industrializar o país, vamos a isso, mas com cautelas e muita responsabilidade. É preciso apostar em indústrias viáveis. Unidades capazes de ser competitivos num mercado dominado, neste momento, pelo produto importado. Em sectores que vêm para ficar.
Podemos seguir em frente com o projecto, mas conscientes do que pretendemos fazer no concreto. Dos sectores a mexer. Das políticas a seguir para a dinamização de actividade industrial no país. Das prioridades e metas a atingir no processo.
O governo tem que avançar com o programa claro sobre o que tem a oferecer ao investidor, nacional ou estrangeiro, que queira comprar a sua ideia de industrializar Moçambique em termos de incentivos fiscais e outros.
É preciso desarmar a burocracia que afecta as instituições públicas e que torna lentos os processos de investimento, para além de que cria um ambiente propício para a ocorrência de corrupção.
Em última análise, é fundamental que haja garantias suficientes, particularmente junto de investidores estrangeiros, de que há um bom ambiente de negócios no país para que o projecto possa, eventualmente, interessar a um número significativo de empresários.
Por parte do executivo, já foi feita a declaração de intenções, mas é preciso ir a fundo da questão. Há várias perguntas que devem ser respondidas para clarificar as coisas e saber-se, exactamente, o que se pretende fazer.
Quando se fala de revitalizar a indústria, quer se referir concretamente a que sectores? Como está esquematizado o processo? Quais são as prioridades a cumprir? Os incentivos previstos para os investidores e as fontes de financiamento existentes, dentro e fora do país. Estas questões precisam de ser esclarecidas.
Além disso, os projectos de revitalização da indústria devem ser acompanhados de um estudo de viabilidade económica e do mercado. O ponto é que Moçambique irá competir com países cujas indústrias estão sólidas e com créditos internacionais.
Se a ideia é de reabrir a Mabor, temos que estar conscientes de que os pneus a produzir vão concorrer com os importados a ostentar marcas internacionais como Goodyear, Firestone, Dunlop, Pirelli e outras vendidas a preços competitivos.
O mesmo pode dizer-se em relação a outras indústrias. Podemos pegar no exemplo da TUDOR, produtora de pilhas e baterias para automóveis, que concorreriam com as cinco melhores marcas do mundo, designadamente Bosch, Varta, Magneti Marelli, Hella e Mapco. Isto, sem incluir os da linha branca, vendidos a preços acessíveis. Nas pilhas, com as marcas internacionais como National, Duracell, Energizer, Panasonic, Kodak e outras.
Quanto a mim, no lugar de reabrir as antigas, porquê não apostar no convite a grandes marcas estrangeiras para montarem fábricas em diversas áreas de actividade e produzirem, a partir de Moçambique, com a participação de empresários moçambicanos na estrutura accionista. O país ficaria a ganhar através de impostos, emprego para moçambicanos e da transferência de tecnologia.
Ao invés de olhar para a indústria no seu todo, o ideal seria seleccionar duas ou três áreas e focarmo-nos nelas. Uma das prioridades seria a indústria de produção de embalagens. Há produtos moçambicanos que já perderam o mercado porque as embalagens em que estão conservadas não são atractivas.
Para sanar o problema, algumas empresas moçambicanas são obrigadas a recorrer ao mercado sul-africano para a aquisição das mesmas.
A outra aposta devia ser na indústria de construção de estruturas metálicas. Esta que podia, muito bem, trabalhar com as companhias petrolíferas, a operar na Bacia do Rovuma, província de Cabo Delgado, no âmbito do conteúdo local. É que 70 por cento de infra-estruturas a erguer, no quadro de implementação de projectos de petróleo e gás será desta natureza, daí que há pano para manga.
A terceira é a indústria de conservas para o aproveitamento de tomate e outros produtos agrícolas que têm estado a apodrecer às toneladas, de campanha em campanha, sobretudo no sul do país, por falta de mercado, para além de ananás de Muchungue, em Sofala.
A quarta e a última, em termos de prioridades de momento, seria a indústria de bebidas, em particular a de produção de sumos, tendo como matéria-prima frutas que abundam no país, casos de manga, banana, limão, ananás e outras. Aqui estão as minhas dicas para o projecto “Industrializar Moçambique”.