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A vez de Feliciano Gundana governar o país

Alexandre Chiure

A dança pela indicação do candidato da Frelimo às presidenciais está a ganhar outros contornos políticos com a entrada, no jogo, de um novo actor, não como candidato, mas como reforço de peso no debate de que agora é a vez do Centro governar o país.

Quero, aqui, referir-me a Feliciano Gundana, antigo combatente da luta armada de libertação nacional e um dos poucos fundadores da FRELIMO, como movimento, ainda vivo e a residir em Sofala.

Depois da independência nacional, o poder estacionou na zona sul do país como que a premiar o facto de o primeiro presidente da Frelimo, Eduardo Mondlane, e o homem que comandou as forças populares de libertação de Moçambique até à vitória final, Samora Machel, serem desta região.

Com a morte de Mondlane, na década de 60, a quem caberia governar o país, o primeiro Presidente da República foi Samora Machel, natural de Chilembene, província de Gaza.

Com a sua morte, em 1986, no fim de 11 anos de governação, num acidente aéreo em Mbuzini, na África do Sul, a vez foi de Joaquim Chissano, natural de Maleice, em Chibuto, província de Gaza. Este governou durante 18 anos.

Na lista dos presidenciáveis, entre os combatentes na guerra dos dez anos, a seguir foi a vez de Armando Guebuza, proposto por Graça Machel e Marcelino dos Santos, numa reunião do Comité Central, igualmente do sul do país, apesar de ter nascido em Murrupula. Fez dois mandatos.

Após dez anos do reinado de Guebuza, a vez de governar foi do General Alberto Chipande. O  poder passou do Sul para o Norte. Este, porque não estava em condições de dirigir o país, indicou o seu sobrinho, Filipe Nyusi, agora em fim do segundo e último mandato.

Sendo que a lista dos presidenciáveis entre os que participaram na luta armada esgotou-se e sem perder de vista o modelo frelimista de privilegiar o equilíbrio regional nas eleições internas, a vez de indicar Presidente da República é do Centro do país. Justamente agora, as regras mudaram.

O certo é que a Frelimo diz que está à procura de um candidato de consenso e com reconhecida capacidade para governar Moçambique, dependentemente da sua origem, quer seja ele do sul, centro ou norte. Esta é a nova filosofia.

Esta viragem, que desvirtua o sentido das coisas, não foi bem acolhida no seio do partido, em particular de quadros originários da zona centro do país que desde cedo se prepararam para concorrer para o cargo de Presidente da República. Alguns deles têm, inclusive, gabinetes eleitorais montados e estão a trabalhar a todo gás, buscando alianças e bases de apoio.

São eles Luísa Dias Diogo, antiga Primeira-Ministra no governo do Presidente Joaquim Chissano, Basílio Monteiro, antigo ministro do Interior, e José Pacheco, ex-ministro de Agricultura e Segurança Alimentar e do Interior, ambos no governo do Presidente Armando Guebuza e outros.

Estes e outros quadros oriundos da região centro nunca esconderam o seu interesse e disponibilidade em concorrer para candidato do seu partido nas presidenciais.

Quando parecia que o debate acerca do assunto morreu, há um dado novo que pode alterar o rumo das coisas. O aparecimento público de Feliciano Gundana, este que é dos poucos fundadores da Frelimo em vida. Ele e Mariano Matsinhe.

A sua distinção com o título de Doutor Honoris Causa, ocorrida nesta terça-feira pela UniZambeze, sem argumentos plausíveis pode fazer parte de uma estratégia no sentido de aparição em grande para o reforço e o reacender do debate à volta da tese de que a vez, agora, de indicar Presidente da República pertence à região centro do país.

O outro lado da história é que o reaparecimento público desta figura emblemática da Frelimo, que esteve sempre longe dos holofotes, trás consigo uma espécie de mensagem reivindicativa de que a vez de governar é dele próprio na qualidade de fundador da Frelimo.

Caso o seu grito seja atendido pelo seu partido, a reunir em sessão extraordinária no dia 3 de Maio para decidir quem avança como candidato do partido às presidenciais, Feliciano Gundana, não podendo o fazer pessoalmente, poderá indicar José Pacheco.

Com este seu sinal, Feliciano Gundana quer dizer aos seus camaradas que “estou aqui, não se esqueçam de mim”.

Curiosamente, Pacheco, que depois de ter sido referenciado por alguns órgãos de comunicação social e nas redes sociais como um dos potenciais pré-candidatos a candidato da Frelimo, ficou aparentemente apagado. Quase que já não se dizia nada sobre ele.

Nas últimas duas semanas, o seu nome tornou-se viral. Voltou a circular, com muita intensidade, em várias plataformas de comunicação. É apontado, inclusive, como figura de consenso no seio do partido, apesar de o seu passado ensombrar, de alguma forma, o seu projecto de chegar à Ponta Vermelha.

O outro potencial candidato a ter em conta e que aparece, nestes dias, com força é o General Hama Thai, cuja base de apoio, segundo informações disponíveis, são os antigos combatentes. Um candidato descrito como limpo, com experiência militar e de governação. Temos também Gabriel Júnior, o filho do povo, que submeteu a sua candidatura na sede do CC das Frelimo. Estão lançados os dados, Caberá ao Comité Central escolher o melhor.

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