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Ibrahim Traoré, Bassirou Faye e a 3ª Revolução Africana _ Parte 5

Felisberto S. Botão

A morte de Ebrahim Raisi, presidente do Irão, e a 3a revolução africana

Na semana passada já afirmamos que o ocidente não sabe coexistir, prefere destruir o planeta, a deixar que todos prosperem, incluindo eles. África não deve deixar-se continuar a arrastar por este sistema parasita e autodestrutivo, a sua auto libertação será a libertação do mundo todo.

África é a peça que falta para a restruturação da ordem mundial, de unipolar para multipolar. Apesar de ser o continente que mais sofre os impactos negativos do sistema unipolar ocidental, África é o continente que mais apego tem ao sistema, e se amarra a si mesma na pobreza e subdesenvolvimento.

A boa notícia é que o sistema neocolonial ocidental está a desmoronar-se sobre o efeito do seu próprio peso. A consciência global está a aumentar, o dólar está a perder relevância com a campanha da “desdolarização”, a hegemonia militar do ocidente já não é a mesma, a China, a Correia do Norte, a Rússia, o Irão, a Turquia e outros, já podem juntos superar o bloco ocidental. África é que precisa levantar-se, e já, contra o neocolonialismo, mas para que este combate tenha sucesso, deve ser acompanhado com a construção da “percepção de força”, que é possível através de exércitos regionais fortes, e arsenal de armas nucleares, em associação geopolítica com a Rússia e o bloco Sul Global.

O seu explorador de ontem, nunca será seu amigo e parceiro de hoje. É uma grande ingenuidade esperar que um dia o ocidente vai ter um posicionamento diferente perante África.     

Ebrahim Raisi, presidente do Irão, morreu última segunda feira, 19 de Maio, num acidente de despenhamento, dizem que foi por falha técnica do helicóptero. Mas também sabe-se que as condições climáticas não eram das melhores. O mesmo já foi substituído pelo seu vice-presidente, Mohammad Mokhber.

É importante notar que o irão aproximou-se muito de África, reforçada com as visitas efectuadas em 2023 a países como Uganda, Quénia, Gana, Africa do Sul, Zimbabwe, Moçambique, entre outros, com projectos na educação, cultura, e comércio, tecnologias, incluindo nucleares, e recentemente, anda a negociar com o Níger para aquisição de urânio, o que a França e os Estados Unidos se opõem.

O presidente Raisi era um aliado estratégico do Vladimir Putin, o maior protetor de África, superando muitos dirigentes africanos. O presidente do Irão era uma peça fundamental no jogo do Putin para um mundo multipolar, o melhor modelo para todos, que permite uma coabitação de troca. Com o interesse do Putin para que África desenvolva soluções nucleares para fins civis, nomeadamente electricidade, o Irão aparece como um parceiro estratégico para partilhar a tecnologia com o continente, e também para abrir opções de parceiros de cooperação para África, diversificando da europa e estados unidos.

Nos últimos meses, a África tornou-se um campo de “batalha” diplomática mais intenso entre o Ocidente e a Rússia, que têm estado em desacordo desde o início da guerra na Ucrânia e que estão a tentar conquistar os países africanos para o seu lado, que foram duramente afectados pelos aumentos acentuados dos preços dos alimentos e de outros produtos desde o início da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, a 24 de Fevereiro de 2022. Embora a mim me cause sempre uma confusão ao entender a indefinição dos africanos, sendo que o ocidente sempre explorou e maltratou África, e a Rússia, ao contrário, sempre ajudou.

Não surpreenderia que a morte do presidente Raisi tenha sido um assassinato por agentes ocidentais. É assim que eles actuam quando o adversário é forte, agem na surdina. O presidente do Irão agravou a sua situação ao confrontar o Israel e EUA no mês passado de Abril, e ter levado a cabo um ataque directo ao território israelita com centenas de drones e misseis, pondo em causa a hegemonia do Israel na região.

A posição do Irão, liderada pelo seu presidente, Ebrahim Raisi, passa um conforto especial para África, e especialmente aos pioneiros da 3a revolução, que estão no Sahel e na África ocidental. Esta morte deve aumentar o nosso nível de alerta.

Na semana passada assistimos a uma tentativa de assassinato do Primeiro ministro da Eslováquia, Robert Fico, aliado de Vladimir Putin, que é contra o envio de armas a Ucrânia.

A mídia ocidental sempre se apressa a construir narrativas para influenciar a opinião pública. O grupo ocidental é perigoso, vai causar muita destruição antes de inevitavelmente cair inerte no chão.

Já perdemos vários excelentes líderes em África, por acções do que chamam de “deep state” nos estados unidos, uma forca secreta dentro da forca secreta americana, a CIA. É só contabilizar os assassinatos como os do Kwame Nkrumah, Samora Machel, Patrice Lumumba, Amílcar Cabral, Thomas Sankara, e muitos outros, e mais recentemente Muammar Kadhafi, que, tentando implementar mudanças com visão do pan-africanismo, pagaram com a própria vida, em actos cobertos de acidentes, motins, e outros eventos, longe da verdadeira razão, que é impedir que a África pare de ser roubada e o seu povo subjugado e humilhado.

Ser líder em África é muito perigoso, assim como ser activista pan-africano. O activista tem duplo jugo, o colono que não quer ver os seus esquemas expostos e o líder político local que não quer ficar exposto ao colono, por causa de um activista do seu país que chama muita atenção.

O caso do Muammar Kadhafi é típico desta discussão. O ocidente não o assassinou porque ele era ditador e os Estados Unidos queriam proteger o povo líbio, não. O Muammar Kadhafi lançou um plano e convidou todos os estados de África e Árabes, para a criação da moeda única, o “gold diner”, a moeda de ouro, uma verdadeira partilha de riqueza com as massas. O plano incluía exigir dos países que quisessem comprar petróleo de África, que pagassem nesta moeda e não com o dólar americano, ou seja, pagariam com dinheiro real.

O ocidente não teria capacidade para pagar as suas necessidades nesta base, pois não tem riqueza real suficiente para isso, o que representaria uma mudança de forças a favor de África.

Recentemente tivemos mais um caso típico do presidente da Tanzânia, John Pombe Magufuli, um líder com as características que o povo africano precisa, que não se vergou à pressão do ocidente e preferiu dar a sua vida. Magufuli regulou a mineração e fez as multinacionais pagarem justo pelos recursos explorados, e com este dinheiro, em cinco anos mudou a face da Tanzânia, construindo infraestruturas que em outras circunstâncias só seriam possíveis através de dívidas amaldiçoadas dos países exploradores.

Ele usou o próprio dinheiro, resultado da venda de recursos que a Tanzânia possui, que até então eram roubados por algumas multinacionais.

John Pombe Magufuli resistiu à conspiração da Covid-19, pediu ao seu povo e aos africanos que vivessem com a Covid-19 como fazemos com a SIDA, com a Tuberculose, etc., que não obrigassem o uso da máscara, não entrassem em pânico, e muito menos que fechassem as suas economias.

Na semana passada tivemos mais um atentado contra a vida do Ibrahim Traoré, o mais vocal entre os três líderes da AES – Aliança dos Estados do Sahel, um revolucionário que, caso inédito, rejeitou a ajuda armadilhada do Fundo Monetário Internacional (FMI). A França e o ocidente não aceitam restruturar-se para construir uma relação “win-win” com África, preferindo introduzir novas artimanhas manipulativas, como atesta a antiga embaixadora francesa no Gana, Anne Sophie Avé, ao expor recentemente as técnicas usadas por ela quando em exercício, que podem ir até ao atentado da vida.

É importante os revolucionários construírem medidas de segurança à altura, e criar um distanciamento seguro dos ocidentais, para não perdermos mais 50 anos a espera de novos revolucionários, por conta de assassinatos encomendados pelo decadente ocidente.

É importante perceber quando é que o seu inimigo não está interessado em conversar ou negociar. Não perca tempo tentando conversar com ele, apenas age de forma contundente, ele vai recuar.

O seu comentário e contribuição serão bem-vindos. Obrigado pelo seu suporte ao movimento SER ESPIRITUAL  https://web.facebook.com/serespiritual.mz/

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