A vitória da verdade contra o lambe-botismo

OPINIÃO
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Alexandre Chiure

De algum tempo a esta parte, o País deixou de ser palco de manifestações populares, convocadas pelo ex-candidato às presidenciais, apoiado pelo PODEMOS, Venâncio Mondlane. A pergunta que se faz é: O que é que aconteceu para, de repente, o VM7 parar com tudo? Será porque acha que a guerra foi ganha, o que é pouco provável, ou terá sido por outras razões, de domínio restrito, ou porque os manifestantes terão ficado intimidados com a caça ao homem envolvendo alguns agentes da polícia, visando jovens líderes das manifestações e apoiantes de VM7?

É que o custo de vida, um dos problemas que levaram homens e mulheres, jovens e crianças e adultos a saírem às ruas manifestar-se, está ao rubro. Nada mudou. Tudo está caro, muito caro. A título de exemplo, um saco de arroz de 25 quilos que antes custava 1.500, é vendido hoje, ao preço de pouco mais de dois mil meticais.

A cesta básica para uma família de cinco pessoas viver, com alguma dignidade, passou de 30 mil para 43 mil meticais, segundo a OTM-Central Sindical, valor este que está longe de ser o salário mínimo. Nenhum sector tem capacidade de o adoptar como tal. O salário mínimo mais elevado do país é de cerca de 17 mil meticais, pago na banca e seguros.

O governo do dia, pressionado pelos manifestantes, prometeu analisar o assunto do custo de vida, em Conselho de Ministros, e tomar medidas para o seu alívio. Não aconteceu nada de especial a esse respeito. O que fez foi reduzir, simbolicamente, os preços de combustíveis, sem impacto nenhum na vida dos moçambicanos.

Há poucos dias, o executivo anunciou novas taxas de portagem, tema constante no caderno reivindicativo dos populares no sentido de que elas eram altas e que, por isso, não as iria pagar. Os manifestantes queixaram-se da existência de portagens ilegais. O exemplo dado é o da de Maputo, alegadamente porque foi construída a menos de 50 quilómetros da cidade. Esse assunto não teve resposta por parte do executivo.

Em resposta à revindicação, as taxas baixaram e, em alguns casos, de uma forma significativa, sob alegação de que é para aliviar o custo de vida. Só que, infelizmente, a medida não trouxe nenhum benefício ao cidadão comum. Os chapeiros, esses que passam a pagar cinco meticais, depois dos anteriores 10, continuam a cobrar as mesmas tarifas e a fazerem, como sempre, o encurtamento de rotas. A medida acaba por não produzir efeitos em termos de alívio do custo de vida.

Então, o que foi que aconteceu para a paralisação das manifestações? Simples: o diálogo entre o Presidente da República, Daniel Chapo, e o Venâncio Mondlane, que os lambe-botas desaconselhavam. Estes diziam, de boca cheia, que o PR não devia receber o VM7. Algumas vozes, dentro da própria Frelimo, comungavam da mesma opinião. Defendiam, a pés juntos, que não havia nada para negociar.

Nós, os que tínhamos uma opinião diferente, éramos chamados nomes. Que o fim da crise política pós-eleitoral no País passava por um encontro entre os dois políticos, sendo que Mondlane era a cara das manifestações. Eu, pessoalmente, cheguei a ser considerado porta-voz de Venâncio Mondlane ou simplesmente venancista.

A pergunta que eu faço, agora,  é: quem tinha razão entre nós, que defendíamos o encontro entre o Chefe de Estado e o VM7,  e os lambe-botas que desaconselhavam o encontro? Quem, de facto, queria o bem do país? A resposta está diante de todos nós. A paz e tranquilidade que se seguiram a essa reunião. O regresso do país à normalidade. Os lambe-botas caíram no ridículo.

Alguns não tiveram mais coragem de aparecer em público, na televisão, com o medo de serem questionados pela tamanha asneira que cometeram. Fizeram de tudo para que o presidente Filipe Nyusi não recebesse Venâncio Mondlane e conseguiram. Agora, investiam no sentido de convencer o presidente Daniel Chapo a seguir o mesmo exemplo.

É gente como esta que atrasa o País com o seu lambe-botismo. Durante a guerra dos 16 anos entre o exército governamental e os guerrilheiros da Renamo, estes entendiam que o governo não devia dialogar com o movimento porque eram bandidos armados, cheios de piolhos. Por culpa deles, porque essa situação podia ter sido evitado logo no início, a guerra alastrou-se por todo o País e atingiu proporções alarmantes. Só depois de milhares de mortes e de destruições de infra-estruturas públicas e privadas é que o executivo aceitou negociar a paz com Afonso Dhlakama, em Roma.

No dia-a-dia, os lambe-botas perdem tempo a elogiar a mediocridade para estarem bem com o regime e, por via disso, serem premiados com nomeações para alguns cargos públicos. Enganam os dirigentes com discursos alinhados. Vendem a estes uma imagem de um país perfeito, onde tudo está a correr a mil maravilhas, quando, na verdade, estamos perante erros de governação, promessas eleitorais não cumpridas. Alguns deles já são deputados da Assembleia da República. Outros, indicados como administradores não executivos de algumas instituições públicas. Outros, ainda, dirigentes de alguns sectores económicos e sociais.

Há tantos outros que andam de canal em canal de televisão a defender o indefensável. Nas suas aparições públicas, procuram dar a entender que todos aqueles que criticam o PR, o governo, no seu todo, o parlamento, a Procuradoria-Geral da República, a polícia, os tribunais ou simplesmente a má governação, não prestam. São inimigos a abater ou são menos moçambicanos do que outros.

Infelizmente, esses fulanos, bem conhecidos na praça pública, têm acesso fácil à figura do Presidente da República, aos ministros, Primeiro-Ministro e aos dirigentes do partido Frelimo a vários níveis, e os conselhos que lhes dão são de arrepiar o cabelo. Por incrível que pareça, alguns dos assessorados, salvo um e outro, parecem gostar de ser bajulados e de viver num mundo de ilusões.

Chamar a essas pessoas de lambe-botas é muito pouco. Dizer que são anti-democratas por, em alguns casos, desencorajarem o diálogo, também não basta. Diria que eles são responsáveis morais pela morte de centenas de moçambicanos nas manifestações que saíram às ruas exigir os seus direitos. Mortos por balas disparadas por alguns agentes da polícia. Polícias-assassinos que nada lhes aconteceu. Ninguém se dignou a responsabilizá-los por matar cidadãos. Foi como se nada tivesse acontecido.

Os lambe-botas deviam ser responsabilizados por tudo o que aconteceu durante as manifestações que iniciaram a 21 de outubro do ano passado, entre mortes, destruições e saques, porque se o o PR, antes Filipe Nyusi, tivesse recebido VM7 e dialogassem em torno da situação que se vivia na altura, a crise política pós-eleitoral não teria chegado onde chegou. Teriam sido poupadas vidas humanas e evitado a vandalização de estabelecimentos comerciais, bancos, indústrias, etc. Os manifestantes foram vistos como vândalos e não cidadãos que lutavam pelos seus direitos.

Do encontro entre o PR e o VM7, realizado no dia 23 de março, à noite, saíram pouquíssimas coisas. Os quatro pontos em que houve entendimento entre ambos, até aqui por implementar, fazem parte do acordo político entre o governo e os partidos políticos. Para dizer que, na prática, não houve nenhuma novidade. As discussões giraram à volta dos preliminares.

O objectivo do encontro, tido como o primeiro de uma série deles, era para criar um ambiente de confiança entre os dois políticos, para, numa outra ocasião, entrarem nos assuntos arrolados na agenda. Até aqui não voltaram a encontrar-se para o efeito. Mesmo assim, o “meeting” surtiu os efeitos desejados: a paz.

Em última análise, a magia que levou ao fim das manifestações foi o diálogo, que terminou com o aperto de mão, e não os resultados propriamente ditos do encontro. O diálogo entre dois moçambicanos.

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