Com o objectivo de melhorar o desempenho escolar de crianças e contribuir para a sua retenção na escola, Organizações da Sociedade Civil têm colaborado com o governo moçambicano no fornecimento diário de lanche escolar, sobretudo nas zonas rurais, onde as crianças enfrentam graves problemas de desnutrição devido à escassez de alimentos.
Neila Sitoe
Entre as organizações que promovem o lanche escolar destaca-se a World Vision-Moçambique (WV-Moç), que implementa nos distritos de Muecate e Nacarôa, na província de Nampula, um projecto denominado “Juntos Educamos as Crianças (ECT-3)”, financiado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, através de um programa denominado McGovern-Dole International Food For Education.
Benjamim Capito, coordenador de comunicação do projecto, disse que o projecto ETC-3 considera que a provisão de lanche escolar às crianças é uma intervenção central para o alcance da retenção escolar. Mas porque não é factor exclusivo, o projecto ECT-3 é integrado, e engloba melhoramento nas habilidades de leitura e escrita, criação de ambientes atractivos nas unidades de ensino para que os alunos permaneçam mais tempo a aprender, provimento de água e saneamento, higiene e infra-estruturas.
“A escolha dos distritos de Muecate e Nacarôa foi feita em colaboração com o Governo, e, para o efeito, foram ponderados vários aspectos como os altos índices de pobreza, desnutrição crónica, insegurança alimentar, baixo desempenho nos indicadores de educação e fraca cobertura da alimentação escolar”, explicou.
O projecto ETC-3 colabora com 90 associações de agricultores que recebem treinamento em técnicas de produção e 30 % da sua produção por época é oferecida às escolas para reforçar a alimentação escolar.
Anastácia Agapito, residente no distrito de Muecate, na província de Nampula, mãe do pequeno Lucas, que frequenta a 3ª classe, enaltece a iniciativa, pois dois dos seus filhos não tiveram a mesma oportunidade e por várias vezes foram obrigados a faltar a escola devido a falta de alimentação.
“Com este projecto, tanto eu como o meu filho somos beneficiados. Sou agricultora e recebi treinamento em técnicas de produção, e da minha produção separo uma parte para reforçar a alimentação escolar. É satisfatório poder contribuir para a retenção das crianças nas escolas”, sustenta.
Melhoria do rendimento escolar
De acordo com o nutricionista Nazir Chibwa, se um aluno se alimenta de forma adequada durante o período lectivo, estará mais atento e com mais chances de ter um rendimento pedagógico satisfatório.
“O lanche escolar feito a base de papas de CSB, uma mistura de farinha de milho e soja, e outros alimentos confeccionados nas escolas tem alto valor nutritivo, visto que é composto por carbohidratos, gorduras, proteínas, vitaminas e minerais que são essenciais para o desenvolvimento da criança, ajudam a melhorar a energia, o foco e o rendimento escolar”, sustenta.
O nutricionista acrescentou que as refeições nutritivas e diversificadas fornecidas nas escolas podem contribuir para moldar gostos e preferências das crianças e a demanda futura por alimentos saudáveis e nutritivos de forma a combater a desnutrição crónica que ainda é uma realidade no país.
“O nível de desnutrição crónica no país é de 54%, e sendo que Moçambique está em via de desenvolvimento, em termos de segurança alimentar e nutricional está longe das metas preconizadas pela FAO, mas os lanches escolares em muito tem contribuído para que as crianças não desencadeiam doenças como desnutrição e gastrites, por exemplo”, afirmou.
De referir que o ETC-3 é um projecto de alimentação escolar, que faz parte de um consórcio liderado pela WV-Moç e que conta com parceiros como o Programa Nacional de Alimentação Escolar, o Centro de Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil (CESC) e o Instituto Internacional de pesquisa em Política Alimentar (IFPRI), está orçado em 25 milhões de dólares, e é implementado em 160 escolas e abrange mais de 80 mil alunos.
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