Cuidado com os políticos

OPINIÃO

Hedson Masssinga

O fiasco dos 100 dias e a aparente volta à normalidade levantam questões cruciais sobre a eficácia do governo e a resposta da população. Embora o Estado, através da FRELIMO, tenha conseguido controlar temporariamente as manifestações, isso não significa que os problemas subjacentes tenham sido resolvidos. As audiências e notificações e mortes em relação aos apoiantes de Venâncio Mondlane podem ter sido estratégias de contenção, mas a insatisfação popular permanece latente.

O fracasso do Dia Nacional dos Heróis do Povo, formulado pelo ex-candidato Venâncio Mondlane, pode ser interpretado como um sinal de falta de obediência por parte da população ou como uma evidência da crescente consciência cívica diante das lamúrias do VM7. Essa situação reflecte um descontentamento, o qual pode levar a uma elevação do tom nas reivindicações populares, caso as necessidades e expectativas dos cidadãos continuem a ser ignoradas.

A retoma gradual da actuação policial e a retirada da protecção de 20% da indústria de cimento são medidas que impactam directamente o cidadão. A expectativa de uma redução no preço do cimento é vital para aqueles que desejam retomar obras paradas, como a construção das suas casas. Essa retirada pode ser vista como um sinal ambíguo: enquanto se busca fomentar a concorrência; diante dos lóbis da indústria dos cimentos que é controlada pelas elites políticas que determinaram os preços sufocantes sem olhar para as necessidades dos muitos pacatos cidadãos que se sentem desamparados em meio à crise económica. Para mitigar essa situação, o governo poderia implementar subsídios temporários ou incentivos fiscais para tornar o cimento mais acessível.

Num momento inesperado por muitos, enquanto ainda ruge o debate da incompetência do actual governo de Daniel Chapo, bem como o anúncio do plano quinquenal, do famoso governo do povo, liderado por VM7, com a introdução do imposto (IPOVO); os moçambicanos são colhidos com uma notícia de gelar qualquer um pelas 23h do dia 23 de Março de 2025: o anúncio de um encontro, entre o Chefe do Estado e Venâncio Mondlane. E agora o que, diremos? Em vez de trazer esperança, deixou muitos moçambicanos com um leve puxar de ar nos pulmões. Em meio à polarização de discursos e à crescente divisão entre as famílias e comunidades, parece que finalmente os políticos decidiram apertar as mãos. Mas a que custo? O preço foi alto: vidas perdidas, laços quebrados e um clima de desconfiança. Como é possível que tenhamos chegado a esse ponto? A política não pode ser uma arena onde o ódio e a retórica inflamável prevalecem sobre o bem-estar do povo. As famílias que hoje estão em luto, aquelas que perderam os seus entes queridos ou foram despojadas das suas fontes de renda têm o direito de questionar: será que vale a pena confiar nos políticos? O que dirá aquela senhora que ficou sem o seu marido? E aquele cidadão que destilou ódio durante meses por conta das disputas políticas? A dor não se apaga com acordos superficiais.

É inaceitável que tragédias humanas sejam necessárias para que haja um entendimento entre os líderes. O povo merece uma política séria e robusta, uma política que priorize a vida e a dignidade humana, acima de interesses pessoais ou partidários. A confiança na política é algo frágil e deve ser reconstruído com acções concretas, não apenas palavras vazias.

O desafio agora é enorme: reconstruir os laços quebrados, curar as feridas e promover um diálogo verdadeiro entre todos os moçambicanos. Precisamos urgentemente de líderes que entendam o impacto das suas decisões nas vidas das pessoas e que estejam dispostos a agir com responsabilidade e empatia.

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