- Todos os condenados do caso Cardoso tiveram mortes estranhas depois de saírem da cadeia
- Apenas Nini e Anibalzinho estavam ainda vivos para contarem a história. Agora resta um
Conhecido em meandros castrenses e carcerários como “Génio do Crime”, Momade Satar, vulgarmente tratado por Nini Satar, foi a enterrar na semana passada, depois de ter sido encontrado estatelado na sua cela no Estabelecimento Penitenciário de Máxima Segurança (BO). Preso no dia 13 de Março de 2001 e condenado no dia 31 de Janeiro de 2003 a 24 anos de prisão, pelo envolvimento no assassinato do jornalista Carlos Cardoso, morto a tiros no dia 22 de Novembro de 2000, em que foi considerado autor moral, Nini devia, em princípio, iria sair em liberdade, pelo menos em conexão com este crime, este ano. Este facto tem estado a alimentar, na opinião pública, teorias de conspiração, incluindo a de um provável assassinato em jeito de queima de arquivo. Sustenta essa teoria o facto de a maior parte dos condenados em conexão com este crime, incluindo Ayob Satar, terem sido mortos em circunstâncias estranhas depois da sua soltura
Depois de algumas horas de especulação, o Serviço Nacional Penitenciário (SERNAP) confirmou já a princípio da tarde da passada sexta-feira a morte de Nini Satar, por muitos considerado a mente por detrás do assassinato de Carlos Cardoso.
“Ο Serviço Nacional Penitenciário lamenta o sucedido e continua a acompanhar as diligências em curso com vista a apurar as circunstâncias da sua morte”, lê-se na nota de imprensa.
Preso em 2001 e condenado em 2003 a 24 anos de prisão morre em circunstâncias estranhas a um passo da liberdade, levantando a possibilidade de um possível assassinato, o que não seria de estranhar, já que em em 2022 terá sofrido uma suposta tentativa de assassinato no Estabelecimento Penitenciário Especial de Máxima Segurança, tendo sido, em conexão com o crime, detidos e condenados dois agentes da Unidade de Intervenção Rápida.
Nini Satar foi preso no dia 13 de Março de 2001 e veio a ser condenado no dia 31 de Janeiro de 2003 a 24 anos de prisão, após ser considerado culpado na qualidade de autor moral do assassinato do jornalista Carlos Cardoso, morto a tiros no dia 22 de Novembro de 2000.
Com ele foram também condenados Ayob Satar, seu irmão mais velho, também a 24 anos; enquanto Vicente Ramaya, Manuel Fernandes e Carlos Rachid Cassamo, autores materiais, apanharam 23 anos e meio de prisão.
O sexto acusado, Anibal António dos Santos Júnior, conhecido por Anibalzinho, também foi condenado a 24 anos de prisão e 15 anos de privação dos direitos civis. É considerado o mastermind de toda operação que silenciou aquele que é considerado o símbolo do jornalismo investigativo em Moçambique e não só.
Quase todos morreram em circunstâncias estranhas
Após a morte de Nini, Anibalzinho é, neste momento, o único réu do caso Cardoso ainda sobrevivo. Todos os que tinham experimentado o ar puro fora das celas morreram em circustâncias estranhas, o que levanta suspeitas de que Nini possa ter sido executado para que não pudesse ver o sol de junho a partir de fora da cadeia.
O crime expôs teias perigosas e conexões suspeitas entre o crime organizado e a política, tendo sido no julgamento sido citados alguns governantes, o que faz com que haja sempre suspeitas de queima de arquivo.
É que o seu irmão Ayob Satar, que também tinha sido condenado a 24 anos de prisão no “caso Cardoso”, foi morto a tiros, em 2014, no Paquistão, para onde se deslocara, depois de sair em liberdade condicional, após o cumprimento de metade da pena.
O primeiro tinha sido Vicente Ramaya, que também morreu assassinado, em Maputo, quando se encontrava em liberdade condicional, no dia 21 de Fevereiro de 2014. Foi crivado de balas em plenas avenidas da capital do País.
Dos envolvidos no “caso Cardoso”, continuam vivos Anibal António dos Santos Júnior (Anibalzinho), Manuel Fernandes (Escurinho) e o Carlos Rachid.
Nini Satar encontrava-se em regime de reclusão no Estabelecimento Penitenciário Especial de Máxima Segurança da Machava, no âmbito do processo n°66/2020. Tinha uma cela especial no pavilhão de máxima segurança, que limitava o seu contacto com outros detentos e os seus banhos de sol eram por via de um SunRoof no tecto da cela.
Refira-se que no dia 05 de Setembro de 2014, após cumprir quase a metade da pena, Nini tinha saído em liberdade condicional, tendo fugido do país em 2015. Depois de ficar aproximadamente quatro anos foragido, Nini Satar foi capturado na Tailândia e trazido a Moçambique no dia 25 de Julho de 2018, e em 2019 foi condenado a um ano de prisão revertida em multa pelos crimes de roubo, falsificação de documentos e sequestros.
De 13 de Março de 2001, data da sua prisão até ao dia 28 de Março de 2025, data em que foi anunciada a sua morte, somam-se 24 anos e 15 dias. Evidências sabe que o seu corpo foi submetido a exames pelo SERNIC e médicos legistas, antes de ser entregue à sua família, contudo as autoridades ainda não divulgaram o laudo

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