Renamo que está a deixar de ser a Renamo

OPINIÃO
Share this

Alexandre Chiure

A Renamo está, desde as eleições de 9 de Outubro do ano passado, em convulsões internas. Tudo porque teve os piores resultados na história da democracia moçambicana. Além de perder, mais uma vez, as eleições, no sufrágio, ficou, pela primeira vez, em terceiro lugar.

Com esta classificação final, a “perdiz” cedeu o lugar de segundo partido mais votado ao PODEMOS e, por via disso, o presidente da Renamo, Ossufo Momade, deixa de ser o líder da oposição, posto que lhe conferia um conjunto de regalias.

Com as funções que desempenhava, tinha direito a um gabinete de trabalho, dinheiro (mais de 70 milhões de meticais por ano), carros (três, dos quais um de afectação, um protocolar e outro para assistir a mulher), onze funcionários pagos pelo Estado e demais benefícios.

Os membros e simpatizantes da Renamo não gostaram dos resultados e desde que foram anunciados a esta parte têm manifestado, de diversas formas, a sua insatisfação.

Uns a não se conformarem com o terceiro lugar, a exemplo de Arnaldo Chalaua, deputado da Assembleia da República pela Renamo, que continua a acreditar que nada está perdido e que o seu partido continua na mesma posição de segundo mais votado. Outros, que caíram na real, já deram conferências de imprensa em algumas províncias do país a exigirem a convocação urgente do Conselho Nacional e, por via deste, o congresso extraordinário para a reorganização do partido com vista às próximas eleições.

Está claro que o que os membros e simpatizantes da Renamo querem são mudanças. Uma nova forma de ser e estar no partido. Uma nova forma de fazer política. Um novo dinamismo. Uma nova cara na liderança da “perdiz”, com créditos para levar o partido a voltar a sonhar em governar Moçambique.

Há o entendimento, dentro daquela formação política da oposição, de que a reestruturação que se pretende ver concretizada só será possível com a demissão imediata de Ossufo Momade, o qual não me parece disposto a deixar o cargo.

É verdade que foi eleito democraticamente para ser presidente da Renamo em Janeiro de 2019, depois da morte, por doença, de Afonso Dhlakama, e reconduzido no ano passado num congresso turbulento realizado em Alto Molócuè, na Zambézia, com 57 por cento dos votos. Isso não está em discussão.

O que está em causa é a legitimidade de Ossufo Momade como líder da Renamo. Será que depois de tudo que aconteceu; do ambiente que se vive, neste momento, dentro da Renamo, está em condições de continuar à frente do partido? A resposta é não.

Para o bem da Renamo, apesar de que o seu mandato está em dia e depois de todos os sinais possíveis emitidos pelos membros e simpatizantes de que as coisas não estão bem, Ossudo Momade devia deixar o seu lugar à disposição e permitir que o seu partido se regenere.

Hoje, a Renamo está, praticamente, paralisada. Não há nenhuma actividade política que se esteja a desenvolver. A única vitalidade do partido é o grupo parlamentar da Renamo na AR. A base está desconectada do topo. O que se ouve é só barulho por tudo o que é canto envolvendo, ultimamente, os ex-guerrilheiros.

Algumas das suas delegações políticas estão encerradas, com as portas trancadas a sete chaves pelos desmobilizados da Renamo como uma medida de pressão para que seja convocada uma sessão do Conselho Nacional para discutir a sucessão de Ossufo Momade.

Os ex-guerrilheiros da Renamo, ao invadirem algumas sedes distritais e provinciais do partido e queimarem materiais de propaganda que sobraram das eleições de 9 de Outubro, em particular cartazes contendo a imagem de Ossufo Momade, significa que perderam a confiança e credibilidade que tinham com o seu líder.

O Conselho Nacional até chegou a ser convocado para os dias 7 e 8 de Março, em Maputo, para, entre outros assuntos, analisar a situação política do país e do partido. Surpreendentemente, o encontro foi desconvocado nas vésperas e o porta-voz do partido, Marcial Macome, disse, publicamente, que é “por razões ponderosas”.

Desde essa altura, o assunto deixou de ser assunto na Renamo. Ninguém mais voltou a falar do Conselho Nacional. Ficou por esclarecer a dúvida sobre que razões ponderosas são essas que terão ditado o adiamento da reunião.

Ossufo Momade parece estar completamente cego. Não consegue ler os sinais que os membros e simpatizantes da Renamo e a sociedade em geral emite de que o partido está de mal a pior e que algo deve ser feito para o salvar da bancarrota.

Continua a olhar para a Renamo do mesmo jeito. O que me parece grave é que esteja a encarar a situação de ânimo leve. Está a olhar para as convulsões internas com uma total indiferença, como se nada estivesse a acontecer. Para ele, a Renamo goza de boa saúde.

A própria Renamo não deve ter percebido, ainda, que está a afundar-se a cada dia que passa. Que a Renamo está, a pouco e pouco, a deixar de ser a Renamo. Aquele partido histórico, com estrutura e quadros à altura de fazerem uma oposição responsável. Um partido com potencial para estabelecer equilíbrio na Assembleia da República.

Quando a Renamo, que já teve 117 deputados, e o seu líder acordarem e quererem ir atrás do prejuízo, pode vir a ser muito tarde. Nas próximas eleições, a realizarem-se daqui a quatro anos e qualquer coisa, há o risco de ela não conseguir manter os 28 lugares que tem na AR, caso não consiga gerir da melhor forma a crise interna. Todos nós poderemos ser chamados a testemunhar o desaparecimento da Renamo da arena política do país, o que seria mau para a democracia.

Promo������o
Share this

Facebook Comments