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Edmilson Mate
Durante vários meses, o País foi palco de uma movimentação política e social sem precedentes, liderada por um rosto que se tornou símbolo de esperança para muitos jovens: VM7. Através de transmissões ao vivo nas redes sociais e da mobilização de manifestações populares muitas vezes acompanhadas pelo som simbólico das ditas’’ paneladas’’ , VM7 galvanizou uma juventude sedenta por mudança. No auge do descontentamento pós-eleitoral, milhares saíram às ruas para contestar os resultados oficiais divulgados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) e validados pelo Conselho Constitucional, que proclamaram Daniel Chapo como Presidente da República.
Estas manifestações, embora tenham sido para muitos um sinal de despertar cívico, também trouxeram consequências trágicas: dezenas de jovens perderam a vida em confrontos com a Polícia de Intervenção Rápida. Foi um período intenso, marcado por emoções fortes, expectativas elevadas e uma crença generalizada de que a Frelimo poderia, finalmente, cair ao som das paneladas e apitos.
No entanto, passados alguns meses, o silêncio em torno de VM7 tornou-se ensurdecedor. Aquele que dominava os ecrãs dos telemóveis nos ‘chapas e My Loves ( Transportes Locais) e inspirava multidões parece agora ter desaparecido sem deixar rasto. A pergunta que fica é: estamos perante uma estratégia de recuo calculado ou simplesmente diante de um fracasso político e de liderança?
Muitos dos seus apoiantes sentem-se abandonados. Nas redes sociais, multiplicam-se os comentários críticos, com alguns a afirmar que o “VM7 dizia ‘anamalala’ (Vai acabar) e pra depois a ‘nhamalala’ (sumir em changana)”. Estas expressões, usadas com ironia, revelam a frustração de quem acreditou profundamente na sua liderança e agora se vê sem respostas, sem rumo e, pior ainda, sem justiça para os que tombaram nas ruas.
É importante reconhecer que VM7 representou mais do que um indivíduo: foi, por um tempo, a personificação de uma juventude que se recusa a aceitar o status quo. No entanto, liderança implica responsabilidade e consistência. Desaparecer num momento de incerteza é, no mínimo, uma quebra de confiança para com aqueles que arriscaram tudo por um ideal.
Se a sua ausência for parte de uma estratégia bem pensada talvez para reestruturar, recuar temporariamente ou reposicionar-se, então será necessário comunicar isso aos seus apoiantes de forma clara e honesta. O silêncio, neste contexto, é corrosivo. Abre espaço para especulações, para o descrédito e para o esvaziamento de uma energia colectiva que poderia ter sido canalizada para formas mais estruturadas de intervenção cívica.
Por outro lado, se o desaparecimento for fruto de medo, cansaço ou falta de plano, então teremos de encarar a dura realidade de que o movimento foi sustentado mais por emoção do que por uma base sólida. A política não se faz apenas com coragem e carisma. Exige estratégia, estrutura, persistência e capacidade de manter a ligação com as massas, mesmo nos momentos mais difíceis.
Seja qual for a explicação para o sumiço de VM7, uma coisa é certa: o impacto do seu aparecimento e agora do seu desaparecimento marcará para sempre uma geração de jovens moçambicanos. Aqueles que acreditaram nele precisam de respostas. Precisam de liderança. E, acima de tudo, precisam de não perder a esperança.
Porque, afinal, os verdadeiros líderes não desaparecem quando os holofotes se apagam.

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