A zona de conforto

OPINIÃO

Por: Afonso Almeida Brandão

 (para o Luca Bussotti, coma coragem que tem demonstrado para abordar temas por vezes inconvenientes, com apreço e estima)

Encontrar a sua zona de conforto no trabalho e na vida é uma ambição legítima de qualquer pessoa. Por vezes, torna-se mesmo obsessão. Mas se a esmagadora maiora se refugia receosa e egoísta na sua zona de conforto, as coisas complicam-se para todos. Principalmente, quando nos comparamos com outras gentes, outras economias e quando vivemos uma alteração de paradigma sem precedentes.

São poucos aqueles que convivem bem com o risco e com o desafio e que resistem à dependência de uma umbrella protectora. A maioria vive funcionalizada e escravizada. Esta lógica deprimente é de tal forma assustadora que todos os que não funcionarem “na mesma onda” correm o risco de ser entendidos como “loucos”.

Isto tem a ver com a nossa natureza, a nossa história e com o sistema de ensino. Para se conseguir um emprego — ou melhor, uma zona de conforto! — pede-se a tudo e a todos, movem-se influências pela “cunha” salvadora. Mesmo na família considera-se que pedir um emprego para um filho faz parte do sistema. É um património de que se vão sempre orgulhar: «por um filho faz-se tudo», comentam triunfais.

São poucos aqueles que mostram desígnio e coragem para assumirem riscos e desafios. E por vezes tudo começa com uma simples crónica de opinião como acontece com o escriba a quem dedico o artigo de hoje. A maioria não consegue lidar com o mundo de tensão e competição que nos rodeia e prefere que sejam outros a comandar-lhes a vida e o futuro. Em vez de coragem e ambição, a maioria vive deprimida e fragilizada entre dois conceitos caducos: Segurança e Estabilidade.

Se conseguem, por exemplo, entrar para os quadros do Estado ou de uma grande empresa, incorporam de imediato o espírito de emprego para a vida. Podem ser humilhados, viver infelizes, passar os dias em guerras internas fúteis, sofrer nos ciclos alternantes das lideranças, mas dignidade ou coragem são conceitos que não fazem parte do seu vocabulário. Encolhem os ombros indiferentes e resignados.

Para a maioria, ter segurança e estabilidade pode justificar mesmo a perda da dignidade e do respeito por si próprios. Este é um problema sério que está a corroer a economia moçambicana e as oportunidades que surgem, amiúde — e também algumas economias europeias, americanas e asiáticas —, porque não dizê-lo abertamente e reconhecer este facto?

As famílias e as escolas continuam a formar numa lógica de emprego. Dependência e subserviência. Não ensinam ambição nem competição. É vulgar ouvirmos muitos pais satisfeitos por os filhos já estarem “encaixados”. Isto significa que conseguiram segurança e estabilidade. Ou seja, a tal zona de conforto! Meritocracia, competição, desafio ou talento não contam. A Cultura de ambição e do risco não é incontida nos Jovens. Pelo contrário, é facilmente asfixiada pela vergonhosa subserviência à economia do funcionalismo.

Um estudo recente concluiu que 35% dos nossos jovens universitários pretendem criar o seu próprio negócio. Leitura terrívelmente angustiante. A notícia é o contrário: 65% dos estudantes universitários lamentavelmente ainda estão focados na conquista da sua zona de conforto.

Pouco mudará em Moçambique — ou no resto do Mundo — enquanto a economia do medo, da resignação e do funcionalismo for superior à economia do risco, da ambição e do empreendedorismo. O resto não passa de “balelas”. Acreditem que é verdade!   

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