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- Chapo cumpre promessas?
- “Para já, Daniel Chapo conseguiu reabrir a janela, mas a confiança dos moçambicanos — essa não se compra em Washington. Constrói-se todos os dias, com justiça, transparência e inclusão.”
A visita do Director-Geral Adjunto do Fundo Monetário Internacional (FMI), Bo Li, a Moçambique, e os elogios públicos à governação do Presidente Daniel Chapo, não foram apenas actos diplomáticos. Representam uma avaliação positiva da trajectória recente do País e indicam o início de uma nova fase nas relações entre Moçambique e os parceiros financeiros internacionais.
Durante a sua campanha no contexto das eleições de 9 de outubro de 2024, Chapo comprometeu-se com uma agenda de reforma: redução da burocracia, meritocracia no recrutamento, reorganização ministerial e racionalização do aparelho do Estado. Estas promessas foram reiteradas no seu discurso de tomada de posse, no qual defendeu um “Estado funcional, próximo das pessoas e livre de clientelismo”.
A nota informativa divulgada pela Presidência, no último sábado, 17 de maio, refere que o FMI destacou “avanços em matéria de governação e reformas estruturais”, incluindo a “racionalização da máquina governativa” e um “combate vigoroso à corrupção”. Estes elogios ocorreram no âmbito da quarta missão de revisão do acordo de Facilidade de Crédito Alargado (ECF) 2022–2025, embora as partes tenham, entretanto, optado por não concluir as revisões restantes e iniciar negociações para um novo programa mais alinhado com a agenda do actual Governo.
Entre as acções da ‘Administração Chapo’ nestes primeiros meses, que se espera sejam marcadas por mudanças e transformações sustentáveis em prol dos moçambicanos, grande parte vivendo nas zonas rurais e nem sempre com as básicas três refeições diárias, ressalta o seguinte: A suspensão do negócio para aquisição de aeronaves pela LAM, marcado por falta de transparência; a demissão do conselho de administração da transportadora estatal; o lançamento de auditorias funcionais em vários departamentos; a revisão de subsídios e benefícios indevidos; e aposta na digitalização da administração pública.
Estas medidas foram recebidas, segundo apurámos, como sinais de compromisso com a boa governação e reforçaram a confiança do FMI, que funciona como uma espécie de PIN de acesso aos mercados.
O contraste com os últimos 10 anos é evidente. Durante esse período, os escândalos de corrupção, a má gestão das empresas públicas e a deterioração da relação com os parceiros internacionais tornaram-se traços marcantes. A confiança foi substituída por vigilância. O actual Governo tenta, em poucos meses, reconstruir essa ponte, que este jornal acredita, e espera, não ser sol de pouca dura.
Reformar a função pública e conter a dívida, os dois, exigem mais do que actos simbólicos. Será necessário enfrentar resistências internas, reorganizar estruturas de poder e assegurar que os ganhos de eficiência se traduzam em serviços públicos de melhor qualidade.
E é aí que reside o verdadeiro teste: não basta satisfazer os indicadores técnicos do FMI. É preciso traduzir confiança externa em melhorias concretas para os cidadãos. Afinal, a estabilidade económica só será sustentável se o professor estiver na escola, o medicamento no posto de saúde, e o pão ao alcance do bolso do mais pacato cidadão.
Para já, Daniel Chapo conseguiu reabrir a janela, mas a confiança dos moçambicanos não se compra em Washington. Constrói-se todos os dias, com justiça, transparência e inclusão.

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