Há filhos e enteadosnas medidas

POLÍTICA
  • Participaram mais de 20 pessoas no Velório e funeral do General Mussa, vítima da Covid-19,

O Presidente da República, Filipe Nyusi, violou o Decreto 2/2021 do Conselho de Ministros, por ele próprio anunciado, ao orientar as cerimónias do último adeus ao falecido chefe do Estado Maior General, Eugénio Mussa, com um número de participantes muito acima do recomendado, o que está a gerar uma percepção de que há filhos e enteados na implementação das medidas do Estado de Calamidade.

E que, tanto no Estado Maior General, assim como na sua última morada, o General Mussa, que, ao que consta, morreu de Covid-19, foi “acompanhado” por mais de duas dezenas de pessoas, entre membros da família, membros do governo, chefias militares e colegas das fileiras.

No entanto, no seu artigo 19, o Decreto 2/2021 do Conselho Ministros que revê as medidas de combate à Covid-19, refere que ”enquanto vigorar a situação de Calamidade Pública, o número máximo de participantes na realização de velórios e cerimónias fúnebres é de 20 pessoas.

Essa situação é agravada pelo número 2 do mesmo artigo, que estabelece que “o número de participantes em velórios e cerimónias fúnebres de óbitos de Covid-19 não deve exceder 10 pessoas.

No entanto, como que a pontapear o decreto aprovado pelo Conselho de Ministros e por ele anunciado, o Presidente da República, Filipe Nyusi, orientou, semana finda, três momentos das exéquias fúnebres do falecido chefe do Estado Maior General, Eugénio Mussa, nomeadamente; um velório no Estado Maior General, o enterro em Moma, sua terra natal, e um pequeno encontro com familiares mais chegados do general.

Em todos os momentos, apesar do distanciamento social, foi visivelmente excedido o limite máximo de participantes permitidos em cerimónias fúnebres à luz do novo decreto do Conselho de Ministros.

Depois de terem circulado rumores de que General Mussa morreu de Covid-19, o Ministério da Defesa, no seu comunicado, tratou de esconder a verdadeira razão da sua morte, contudo, tudo iria ficar cristalino no dia do seu enterro.

É que, aqui, a causa da morte ficou indisfarçável, pois os militares, que carregaram a urna, estavam equipados com o macacão branco de biossegurança, usado para a protecção da Covid-19, assim como máscaras, luvas e viseiras.

Corpo com direito a tratamento como mandam ditames do islão

Ao que o Evidências apurou, antes de ser embalsamado, o corpo de General Mussa, que encontrou a morte um dia antes de completar 20 dias como chefe do Estado Maior General, foi tratado consoante os ditames da religião islâmica, ou seja, lavagem e madume.

Trata-se de um ritual de preparação que precede o sepultamento, em que se tira a roupa do morto, cobrindo-se apenas as suas partes íntimas com um tecido. Depois, diferentes movimentos são feitos com as mãos, pressionando levemente seu abdómen, para que os fluidos restantes saiam do seu corpo.

Em seguida, faz-se uma ablução no morto e depois seu corpo é lavado por inteiro, com água e sabão, antes de ser perfumado. Em todos os momentos há contacto muito próximo com o cadáver.

Este tratamento do corpo de Mussa, uma vítima da Covid-19, difere completamente daquilo que tem sido prática noutros casos, em que os familiares são impedidos de terem acesso ao corpo, que, regra geral, vem lacrado em sacos plásticos.

Coitado do “enteado” Calane e outros anónimos

Mesmo havendo Evidências de que o General Mussa morreu de Covid-19, tal como atestam as imagens abaixo, o número de acompanhantes do Chefe de Estado supera largamente os 10 permitidos pelo decreto.

Em todos os círculos a pergunta que não quer calar é: será que a lei aplica-se para alguns e para os outros filhos da pátria não?

A família de Calane da Silva queria sepultar seu ente querido na sua reserva no Cemitério de Lhanguene, mas porque as novas regras impõem igualdade de tratamento, Calane da Silva, apesar da sua dimensão, foi empurrado para o cemitério de Michafutene, local reservado para as vítimas da Covid-19.

Tal como acontece com outras vítimas da Covid-19, o seu corpo foi transportado da Morgue directamente para o hospital, sem direito a velório e os seus mais chegados nem sequer puderam se despedir do corpo.

No cemitério, apenas 10 pessoas foram permitidas a assistir a descida à última morada daquele que é um dos embondeiros da cultura moçambicana e um dos combatentes na clandestinidade da luta de libertação nacional.

Entre os presentes, não estava nenhum membro do governo, aliás, as mensagens fúnebres de altos dignatários da nação, incluindo da própria Ministra da Cultura, só saíram dois dias depois do seu sepultamento, após uma onda de contestação pública, através das redes sociais.

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