Biografia, um género esquecido em Moçambique (2)

OPINIÃO
  • Sobre Jornalismo Cultural

Teodósio Camilo

Os biografistas culturais são, por excelência, críticos de arte ou de obras pictóricas. Formula-se desde já a análise de pelo menos duas ou três obras do biografista e crítico de arte de todos os tempos, o luso-moçambicano Afonso Almeida Brandão.

A essência da biografia é a satisfação do instinto natural e comemorativo humano em razão da pertinência da crítica e interpretação de factos apresentados nos quadros de arte. A biografia crítico-interpretativa baseia-se em diversas fontes literárias, pessoas, objectos ou determinado contexto ou ambiente. O autor adopta algum estilo no acto de produção na narrativa ou relato da vida de uma pessoa retratada sobre as suas vivências, experiências e o seu contributo ao longo da carreira profissional.

Em Moçambique, a biografia não é de domínio de muitos jornalistas. Poucos jornalistas têm conhecimento das fases de produção de uma biografia. Actualmente, no continente Europeu e no Americano, a biografia está cada vez mais a ganhar nova dinâmica devido a sua interdisciplinaridade com os diferentes campos de saber, associado ao surgimento de novas técnicas de artes plásticas.

Porém, as artes plásticas também estão a ganhar nova roupagem. Novas técnicas de produzir os quadros de arte descortinam-se. Assim, o subcapítulo seguinte reserva-se a discussão sobre a técnica de produção de quadros denominado Minimal Art.

Minimal Art

Literalmente, o termo Minimal Art pode-se erradamente associar a algo pequeno, ínfimo, medíocre ou sem grande valor. Contrariamente, Minimal Art está distante de todas estas concepções. Minimal Art, também denominada Minimalismo, é uma técnica aplicada na pintura de telas baseada na abordagem artístico-geométrica, desvendou-se nos anos 60, forjado por alguns artistas que se distanciaram das técnicas vulgares do então de fazer a arte, primaram pela valorização de figuras geométricas, dando origem a esta técnica extremamente interessante que é Minimal Art.

Vislumbrando os mistérios de Minimal Art da Leonor Veigas, artista minimalista contemporânea, Brandão (2022) desvenda que as obras de Leonor Veigas carregam consigo diversas informações sobre a alma, problemas de existência social, sofrimento, perseguição, sonhos e do repouso do corpo do longínquo pulsar das têmporas expressas em formas de figuras geométricas, bem como retrato da beleza do ambiente.

O crítico de artes plásticas, Brandão (Op.cit.), revela que alguma das experiências da arte que constituíram perfeitas contribuições e decisivas para o progresso das ciências naturais vieram de ateliers de artistas, forjaram as ciências de observação ou de descrição, tais como a Zoologia, a Botânica, a Paleontologia, a Física, entre outros campos de saber científico, tanto que o Renascimento quebrou a divisão entre os dois campos de saber.

O movimento literário Renascimento estabeleceu condições prévias à nova ordem da era Clássica, aproximou a ciência e a arte, outrora, estas duas áreas de saber eram separadas. Nesta óptica, as observações sociais dos artistas, mesmo pertinentes, não eram assimiladas pelos cientistas do então.

Porém, com o advento do minimalismo facilita-se compreender a interdisciplinaridade entre as artes plásticas e arquitectura, influência à observação, à estética de produção de projectos arquitectónicos refletidos nas obras pictóricas. Um artista minimalista traz uma radiografia artisticamente expressa, capta o ângulo do belo das paisagens de cidades e vilas, trata-se de uma transfiguração geometricamente exposta no plano artístico.

As observações de telas de artistas minimalistas estabelecem a base em prol da percepção das qualidades narrativas biografistas apoiadas em teorias construcionistas. A teoria construcionismo versus desconstrucionismo são correntes literárias que se contrapõem.

Desta forma, pode-se compreender o papel que um jornalista biografista desempenha na construção de realidades expressas em telas artísticas para o plano literário, associando-as às conjunturas sociais da época em que os artistas plásticos vivenciaram determinados factos sócio-culturais.

A pura realidade é: a pintura Minimal Art é pouco conhecida e desenvolvida em Moçambique. Todavia, ganha relevância em alguns países como França, Inglaterra e Estados Unidos da América e Portugal.

Minimal Art permite o empréstimo do conhecimento da arquitectura às artes plásticas, o que significa que as narrativas biografistas se acasalam como jornalismo que preconiza a produção de artigos de pesquisa científica – jornalismo investigativo – não somente se limitar em produzir notícias tradicionais.

A ruptura da barreira, ou seja, o reencontro entre a Ciência e a Arte, na fase renascentista, permitiu uma riquíssima troca de conhecimento, o que Brandão (2022) apelida de recompartimentação. A ciência, munida de todas as conotações mágicas e místicas, assumiu-se como ferramenta de interpretação estritamente quantitativa da natureza, rompe-se com a erudição humanista, filosófica e surge assim um novo vector- ciência-arte.

Os campos da ciência – a Antropologia e a Psicologia- na concepção de Brandão (2022), reservam-se apenas aos esquemas culturais, compreendendo as vivências e as relações do homem e a sociedade. A psicologia dedica-se na compreensão psíquica do sujeito humano, afastando-se da interpretação da natureza. Estas interpretações passam também a ser objecto de análise no mundo artístico plástico.

Alguns objectos constituem matéria de trabalho para os minimalistas, associando-os à estética geométrica. Isto é possível graças à atitude óptica, intelectual face às visões do mundo, a ligação dos olhos com a alma na interpretação de objectos ou realidades retratadas na esfera de arte (Brandão, 2022).

Relação entre a Literatura e Artes Plásticas 

Influenciados pelas correntes literárias, o naturalismo, o fauvismo, o impressionismo, o simbolismo e o romantismo, os artistas plásticos produziam obras que refletissem o pensamento cultural do período. Deste modo, faziam a sua aparição na pintura, tal como a corrente naturalista preconiza a radiografia do real, algo que pudesse levar o apreciador das artes pictóricas a sentir a aproximação com a natureza.

Deste modo, o biografista cultural encontra uma oportunidade de visitar as obras pictóricas, apreciar o belo apresentado, realizar uma leitura do mundo intangível que é apresentado em forma de tela e relacionar com as tendências de correntes literárias.  Porém, toda a obra, quer pictórica ou literária, carrega consigo informação intrínseca de forma peculiar de cada artista influenciado pelo pensamento cultural da época. Há que compreender que um escritor também é um fazedor de arte no plano escrito, enquanto o artista o faz em forma de telas pictóricas, daí a relação entre a literatura e as artes pictóricas.

Brandão (2016), na sua biográfica sobre o artista plástico Pedro Olayo, refere que o artista procurou apresentar as suas vivências dos sítios onde visitou, demonstrando o exotismo por onde passou, explica ser algo mais importante do que magia artificial, imaginário que não reflete a realidade. Formula-se desde já a análise profunda da relação entre a literatura e artes plásticas, nos próximos árticos, por esta ser uma área rica que biografistas culturais podem explorar.

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