Ibrahim Traoré, Bassirou Faye e a 3ª Revolução Africana _ Parte 2

OPINIÃO

Os pilares da 3ª revolução africana

Deve apelar-se a todos os jovens revolucionários, os que já tomaram o poder, assim como os potenciais como são os casos do Venâncio Mondlane, de Moçambique, e Julius Malema, da África do Sul, que se não construírem os seus alicerces fora do sistema vigente, não têm como escapar a manipulação, e depois de 10 anos, vamos perceber que são os colonos de novo a mandar.

Devem rever a estrutura das instituições internas, que o colono é que deixou, e devem rever a relação com as instituições externas, Banco Mundial, FMI, FAO, OMS, etc. Rever os acordos de cooperação, económicos e de exploração de recursos, para não se tornar novo cliente do sistema ocidental, tal são as artimanhas de suborno e bullying que eles usam. Veja o que fizeram com o Mateus Magala, eles conseguem dobrar os nossos homens mais fortes e íntegros, a entrar em esquemas de fraude ou clientelismo institucional.

Internamente, em Moçambique, deve haver um debate e acabar com as vinganças entre líderes e regimes, com os esquemas de comissões e clientelismo institucional, em instituições centrais como os tribunais e até a nível partidário, para não ficarmos para trás neste momento particular de África. É tempo de trabalharmos juntos para protegermos a nossas gerações vindouras. A relevância que os partidos da extrema direita estão a ganhar na europa, como são o caso do CHEGA em Portugal, é um alerta vermelho para não distrairmo-nos com brigas domésticas, e olharmos para a guerra eminente à frente, e unirmos forças.

Na sua maioria, o povo não está com a actual liderança africana, e se mantém vivo na esperança do aparecimento de um revolucionário, numa perfeita imagem da frase explorada pelo Paulino Intepo, de Cabo Delgado, no seu artigo “sobreviver hoje, para continuar a lutar amanhã”. Qualquer revolucionário que aparecer a fazer golpe de estado, o povo vai apoiar, ou se pressionar os tribunais e a CNE para tomar validar a verdade eleitoral, o povo vai apoiar também. Como afirmamos anteriormente, estes são 2 caminhos possíveis de arrancar o poder aos africanos-europeus, que já esqueceram porquê seus pais, e eles próprios em alguns casos, lutaram contra o branco, e acreditam que o povo africano é que é seu inimigo.

África não precisa mais do que 5 anos para mudar a sua situação de pobreza, e converter-se em nações prósperas com um padrão social alto para todo o seu povo, se retirar a influência ocidental dos seus recursos e da sua política. Mesmo nas condições actuais, se os líderes africanos não levassem dinheiro público para si, e exportassem para as “suas terras” na europa, há dinheiro suficiente para um desenvolvimento e crescimento económico razoável, e pelo menos dar comida, água potável e saneamento para toda gente.

Os pilares, que devem ser tomados em conta nesta 3ª revolução africana, para evitarmos erros do passado:

  1. Defesa e segurança

A geopolítica internacional é um exercício de conquistas e concessões, baseados na defesa dos altos interesses nacionais, que são os pontos de vantagem competitiva, que o país define em função de factores como a sua localização, recursos, população, história, etc. A África no geral precisa primeiro resolver esta equação de interesse nacional, com apropriação popular, e depois passar pela preparação da sua FORÇA, que é a combinação estratégica dos factores acima, para poder negociar em pé de igualdade na plataforma internacional da geopolítica. Não há nada que substitua a FORÇA, na geopolítica internacional.

Promoção de exércitos regionais, colaborativos, que actuam através de comandos coordenados, com não menos que 4 países. Exemplo, Africa do Sul, Moçambique, Swazilândia, Lesotho, Zimbabwe, Madagáscar, Ilhas Reunião, Maurícias e Comores, podem perfeitamente ter um exército único. Isso permitiria criar blocos de segurança que iriam inibir o bullying dos imperialistas europeus e americanos, conflitos regionais e desencorajaria o terrorismo e insurgências.

Se não podemos ainda materializar a união política e a união económica, precisamos conseguir esta união militar e da defesa, que é crucial para a nossa sobrevivência. Isso significaria revogar todas as cooperações militares que os países têm individualmente com os estados unidos, europa e China.

Cooperação com países alternativos como a Rússia, a China e a Coreia do Norte são uma excelente opção transitória, para travar o sentimento imperialista europeu de recolonizar África, por um lado, e por outro, para garantir que os colonos respeitem as nossas decisões de mudanças, desde que não permitamos que estes novos parceiros se metam mais do que o necessário. Não há nada de errado em pagarmos estes países com ouro ou urânio, este é o nosso dinheiro, e é como negociávamos no passado. Dinheiro de papel é coisa dos outros, hoje uma das principais armas do europeu.

  1. União nacional, regional e continental, incluindo os sistemas e as instituições

Disse Albert Einstein, “insanidade é fazer continuamente a mesma coisa, e esperar resultados diferentes”. O europeu não tem um sistema alternativo ao imperialismo ladrão. Ponha-se no lugar deles, mudar significa trazer fome e sofrimento para casa, e acabar com a paz social que eles muito prezam para o seu povo.

Quem deve mudar de comportamento somos nós, africanos. Temos que agir de forma contundente e em bloco, a todos os níveis, e não pedir permissão ao inimigo para introduzir mudanças.

Os sistemas e as instituições determinam o bom funcionamento de uma sociedade. A união dos povos em Africa, permitiria a uniformização dos seus sistemas, de justiça, de educação, e outros, e também das suas instituições. Na sua essência o povo africano é um só, as diversidades seriam acomodadas nas especificidades de cada região. Acções conjuntas como sanções económicas dos ocidentais contra África, devem ser tratadas em conjunto , Mandar levantar todas as sanções contra países africanos ou África toda vai sancionar economicamente o ocidente: suspender as operações das multinacionais ocidentais em África, suspender importações do ocidente, suspender exportações de recursos minerais e outras matérias primas para o ocidente, enfim, suspender o comércio com aqueles por de traz das sanções. É verdade que vai haver sofrimento, mas o sofrimento maior será do lado do ocidente, e eles não aguentarão seis meses. Não podemos permitir mais que nenhum país africano seja sancionado pelo ocidente, e muito menos por nossas próprias organizações, como o ECOWAS fez recentemente ao Níger.

Suspender ajuda orçamental que a união africana está a receber da união europeia, isso é inadmissível.

Em Janeiro de 2021, começou a implementação do mercado livre africano – AfCFTA, uma ferramenta que torna África o maior bloco mundial de comércio livre. Deve ser um fato bem conhecido que um grupo que não pode se proteger economicamente sempre será escravo dos outros, e irá servir aos outros até na sua própria casa. A União Africana funcional é a única saída para os africanos, e é onde se deveria investir toda a energia da liderança africana, mais até do que as organizações regionais como ECOWAS, SADC, etc.

A educação deve ser uniformizada naquilo que é essência, como costumes, economia dos recursos naturais, história de África, historia mundial, etc., e deve ser prática, de coisas da terra. Não podemos continuar a ensinar a história que o colono contou-nos sobre nós, e muito menos as teorias vãs que não ajudam.

  • Sistemas democráticos e culturais

Os termos certos de mandatos governamentais em África, abrem espaço para a corrupção, ditaduras e governos fracos. Ao contrário, permanência no poder por longo período, por autodeterminação da própria sociedade, permite a consolidação de um projecto de nação, como temos assistido no Ruanda. Este caso não pode ser comparado aos casos de autoimposição, como são os casos dos Camarões, Gabão, etc., em que a sociedade não concorda com a permanência, pois não há um projecto de nação em construção, mas sim servitude de nações estrangeiras.

O sistema político em África não protege o “ex-presidente”, ele começa a tentar proteger-se usando as ferramentas do poder, que pode ser permanecer mais tempo no poder, eliminar adversários, roubar do estado para criar alguma reserva económicas, entre outras coisas. Isso abre uma reflexão importante, no sentido de, se não teríamos que construir um ambiente mais seguro para o nosso líder, onde a sociedade faz uma avaliação justa do seu desempenho, e dá garantias para depois do final do seu mandato, que seria pão, tecto, cuidados médicos, staff básico, renda vitalícia e imunidade legal. Como sociedade, se continuarmos a actuar na pele do branco, procurando ser incluídos, e como estado, se continuarmos a optar por trabalhar no sistema colonial, não resta dúvida que a conclusão óbvia é esta, que a “metodologia colonial é que estava certa”. Não há como tentar correr a máquina colonial, com métodos sociais africanos, não resulta.

A espiritualidade deve ser tomada com muita seriedade a nível do estado, atendendo que já é evidente que a religião está a prejudicar o nosso povo, e a mentira está misturada com a verdade. Enquanto não descortinámos as mentiras das verdades religiosas, nossa gente está a morrer nos hospitais por conta de ignorância, a tentar resolver doenças espirituais. A medicina ocidental ainda não tem este alcance.

Nossas pessoas têm vida social, financeira e conjugal destruídas, e não entendem que é ataque espiritual, e vão tentar estudar mais, buscar psicólogo ou mentor. Muitas vezes a família é que está a gerir os ataques espirituais, por conta da burla mental resultados da religião. Não é uma luta fácil, mas é necessária.

O seu comentário e contribuição serão bem-vindos. Obrigado pelo seu suporte ao movimento SER ESPIRITUAL  https://web.facebook.com/serespiritual.mz/

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