Sucessão na Frelimo: Recolha de assinatura nas vésperas do CC pode significar algum braço de ferro

DESTAQUE POLÍTICA

Alguns candidatos aparentemente já convencidos de que não tem chance de ser endossados pela Comissão Política, que reúne hoje (02/04) e poderá finalmente divulgar a short list, estão a levar a cabo um duro trabalho de busca de assinaturas no seio dos membros do Comité Central, nas províncias, numa tentativa de forçar entrada na lista dos pré-candidatos via Comité Central. Por exemplo, nesta semana, Basílio Monteiro, esteve a trabalhar na província da Zambézia, onde buscava assinatura dos integrantes do órgão para apoiarem sua candidatura directa. Mas ele não está só.

De acordo com os estatutos, a indicação dos pré-candidatos é exclusivamente da Comissão Política (CP), que está reunida esta quinta-feira, para analisar o processo de sucessão, um dia antes da sessão extraordinária do CC, cabendo, porém, ao Comité Central, “apreciar e aprovar as propostas da Comissão Política (CP) referentes as candidaturas da FRELIMO ou por ele apoiadas a Presidente da República”, le-se na alínea L) do Artigo 79 dos Estatutos da Frelimo, actualizados e aprovados no XII Congresso, para tentar contornar o que aconteceu em 2014.

A luz dos novos estatutos, aprovados sob batuta de Filipe Nyusi, no caso de não concordar com a proposta da CP, a nível estatuário, o CC tem apenas que chumbar, mas sem a prorrogativa de propor seus nomes, salvo nos casos em que há arranjos, como no último processo de sucessão de Armando Guebuza, em que a Comissão Política, apesar de resistência, optou por abrir uma exceção e incluir mais dois nomes que se vieram juntar aos três indicados pela CP. Este processo foi em reação as opções apresentadas pela CP, de 2014, e a recolha de assinaturas foi posterior à indicação dos nomes pelo órgão com exclusividade para o efeito.

Desespero ou não, num contexto em que se assiste à proliferação dos pré-candidatos à candidato da Frelimo para as eleições gerais de Outubro, em que os vários grupos de interesse vão munidos para fazer vincar suas opções, e num cenário de estrema pressão do calendário eleitoral avizinha-se um cenário de sucessão bastante conturbado, ameaçando a própria Frelimo, no caso de desrespeito pelos órgãos.

E a recolha de assinaturas, pode não ser por distração na interpretação dos estatutos, mas sim um prenúncio de uma afronta aos órgãos da Frelimo, principalmente a Comissão Política. Afinal, é exibição da força própria, uma estratégia idêntica à de José Pacheco, que vem apostando num marketing voltando às massas.

Apesar do reconhecimento das competências exclusivas da Comissão Política, de propor os nomes, divergem as opiniões na interpretação face a qualquer possibilidade de entrada de mais nomes de forma directa. É que, apesar de competir à CP propor os nomes, “não pode o CC devolver o processo a um órgão inferior quando pode propor uma solução”, disse uma fonte, que foi de imediato refutada por outra: “seria usurpação de competências caso CC apresenta-se qualquer ‘solução’. É para manter a disciplina partidária que a CP se reúne em meio as sessões, até nos intervalos, e havendo necessidade de ser o CC a propor deve ser a CP a deliberar”. Esta última é uma observação com conforto estatuário.

Sobrevivência em meio às incertezas

A menos de um dia para indicação do sucessor, este deverá ser a sucessão mais incerta da história e ao mesmo tempo, insólita. É que, nos bastidores constam nomes de grupos que apoiam pessoas que, afinal, estão conscientes da impossibilidade de chegar longe, tais são os casos de Samito (Samora Machel Jr), que ao mesmo tempo que partilhava o seu manifesto, negociava apoio a outros potenciais candidatos em troca do cargo de secretário-geral do partido.

Especula-se mesma postura de Fernando Faustino, pretenso pré-candidato, que é conotado como apoiante de Basílio Monteiro, ao mesmo tempo que não esconde apoio a outros potenciais candidatos. São nomes que lutam pela sobrevivência em meio a incerteza. Aliás, o mais importante não é chegar a número 1, é estar em posição de influenciar o sucessor de Nyusi.

A extensa lista de potenciais e aspirantes a pré-candidatos inclui para além dos que pululam nos bastidores em busca de apoio, figuras como Hama Thay, Gabriel Júnior, que já manifestaram publicamente, e outros mais reservados, como Aires Aly, Luísa Diogo, Celso Correia, Amelia Muendane, os dois últimos envolvidos numa estratégia que lhe coloca cada vez mais fora de radares. Carlos Mesquita, apesar de conotação, consta que se tiver que escolher, prefere sua vida privada e não esconde o desejo de voltar “a cuidar da vida particular”.

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