Instituições de ensino engavetam denúncias de assédio sexual na província de Manica

DESTAQUE SAÚDE SOCIEDADE
  • “Em muitas escolas ao nível da província de Manica há mulheres que são vítimas de assédio sexual e preferem sofrer no silencio porque sabem que as escolas vão sempre proteger os agressores”
  • Associação Juntos pela Comunidade organizou uma manifestação para repudiar o assédio nas escolas na província de Manica

O assédio sexual é apontado com um dos factores que minam a retenção da rapariga nos estudos. Ao nível da província de Manica, muitas são as raparigas que foram obrigadas a mudar de escola por terem sido assediadas pelos professores. Algumas até tiveram a coragem de denunciar os prevaricadores, mas as instituições de ensino optaram em engavetar o processo. Na última semana, ou seja, no dia 23 do mês em curso, a Associação Juntos pela Comunidade organizou uma manifestação para repudiar o assédio nas escolas naquele ponto do país.

Texto: Duarte Sitoe

A pobreza, uniões prematuras e gravidezes precoces constam do rol dos factores elencados pelo Executivo para o abandono escolar por parte da rapariga. Entretanto, em alguns pontos do país o assédio sexual é apontado como uma das causas do abandono escolar por parte da rapariga.

Na província de Manica, zona centro do país, muitas são as mulheres que foram obrigadas a mudar de escola por terem sido assediadas pelos professores.  Nilza Inês, de 20 anos de idade, depois muitos meses a sofrer no silêncio decidiu mudar de escola devido ao assedio que era alvo por parte dos professores.

Ao Evidências a sobrevivente contou que por vezes ficava em casa por medo de encarar os professores que a assediavam. “O passei naquele instituto politécnico não desejo a nenhuma mulher. Foi assediada por quase todos os professores.  Felizmente consegui ser forte mesmo com as constantes ameaças de que ia repetir de ano. No ano passado consegui resistir, mas no presente decidi mudar de escola porque o comportamento dos professores já estava a influenciar o meu aproveitamento pedagógico. Agora estou num instituto da Igreja Católica e aqui não há casos de assédio sexual”.

Fatigada pelo assedio que era alvo por parte dos professores, Inês ganhou a coragem de denunciar o caso a direcção da escola, mas para o seu azar o caso foi engavetado os prevaricadores continuaram impunes.

“As minhas colegas me incentivaram a denunciar os professores a direcção da escola. Depois de muitos meses a sofrer no silencio decidi fazer a denúncia, mas para o meu azar a direcção da escola não fez nada e os professores continuaram impunes. Foi um duro golpe para as minhas aspirações porque pensava que a direcção ia sancionar exemplarmente os professores. Em muitas escolas ao nível da província de Manica há mulheres que são vítimas de assédio sexual e preferem sofrer no silencio porque sabem que as escolas vão sempre proteger os agressores”.

Irene Marcos, de 19 anos de idade, foi assediada pelo seu professor de Matemática quando frequentava a 10ª classe.  Marcos teve a coragem de denunciar o caso a direcção da escola, mas, debalde, o caso foi trancado a sete chaves.

No presente, a vítima frequenta o segundo ano do curso de Administração Publica numa instituição do ensino superior ao nível da província de Manica e contou ao Evidências que já viu muitas mulheres a desistirem dos seus sonhos devido aos casos de assédio sexual nas escolas.

“Infelizmente, aqui na província de Manica uma mulher bonita não poder ir à escola porque será assediada pelos professores.  O mais inquietante é que quando denunciamos casos de assédio sexual a escola protege os professores. Conheço algumas mulheres que não terminaram os seus cursos por culpa do assédio que eram alvo por parte dos professores. Pedimos a quem é de direito acabar com o assédio sexual nas escolas ao nível da província de Manica”.

Uma manifestação para dizer basta aos casos de assédio sexual nas escolas

Ao contraio da capital do país onde apenas são permitidas manifestações da OJM e OMM para saudar os feitos do actual Presidente da República, a província de Manica mostrou não ser alérgica a manifestações.

Na última semana, a Associação Juntos pela Comunidade organizou, na Cidade de Chimoio, uma manifestação para repudiar o assédio nas escolas naquele ponto do país. De acordo com Sidia Neves, uma das organizadoras do evento, a manifestação, diga-se, pacifica, visava combater o assédio sexual nas escolas e ao mesmo tempo prevenir possíveis casos.

“A vítima pode pensar que eu passei por isso e que se eu denunciar ninguém vai acreditar em mim.  Com esta manifestação queremos fazer perceber as raparigas que já passaram por isso que elas não estão só. Estamos a combater e ao mesmo tempo estamos a prevenir, uma vez queremos mostrar as outras que ainda não passaram pela mesma situação que podem prevenir. Há prevalência de casos de assédio sexual nas diversas instituições de ensino ao nível da província de Manica e os agressores não são punidos. Eu nunca vi nenhum caso que alguém foi levado a barra da justiça porque cometeu assédio sexual, mas já vi raparigas que mudaram de escola porque foram assediadas pelos professores. Queremos repudiar este tipo de casos”

Nas entrelinhas, lamentou o facto dos das instituições do ensino ao nível da província de Manica não darem o devido seguimento as denúncias de assédio sexual. 

Não há nenhum seguimento e por isso os casos atingiram números alarmantes porque o agressor sabe que nada vai ser feito. Em 2021, uma rapariga denunciou um caso de assédio, mas ninguém fez nada.  As pessoas ainda têm medo de encarrar esse tipo de situação e são estamos instituições de ensino de renome. Em certas famílias a menina é tida como um instrumento para fazer os trabalhos domésticos e ter filhos. Quando esta menina consegue superar estas barreiras e quando chega no ensino técnico encara a situação de assédio sexual é constrangedor e isso contribui para a desistência da mesma na escola”.

Por sua vez, o psicólogo Armando Tivane referiu que o assédio sexual pode influenciar no aproveitamento pedagógico das vítimas, tendo por isso defendido um tratamento especial para com as mesmas. “Infelizmente, o assédio sexual é uma realidade nas diversas instituições de ensino espalhadas pelo país e isso influencia no aproveitamento pedagógico das vítimas. Muitas raparigas sofrem no silêncio, mas elas precisam de acompanhamento psicológico para superar os traumas do passado”.

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