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Tomás Matola revela impacto severo do El Niño e detalha estratégias de gestão e reafirma visão ambiciosa de expansão em conferência de 50º aniversário da Hidroeléctrica
A Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), pilar estratégico do sector energético moçambicano, está a enfrentar a seca mais severa dos últimos 40 anos na bacia do Zambeze, uma situação que tem comprometido significativamente a sua produção energética. A revelação foi feita pelo Presidente do Conselho de Administração (PCA) da HCB, Tomás Matola, esta quarta-feira, 21 de maio de 2025, em Maputo, por ocasião da conferência internacional que assinala o quinquagésimo aniversário da empresa. O evento, que decorre sob o lema “HCB: Ontem, Hoje e o Futuro – Empresa Estruturante e Estratégica”, reúne especialistas e personalidades do sector para debater o papel das hidroeléctricas e os desafios impostos pelas mudanças climáticas.
Luisa Muhambe
Tomás Matola abriu a conferência sublinhando a importância de reunir os diversos atores do sector energético para debater temas críticos que afectam tanto a economia moçambicana quanto a regional. Ele destacou que a iniciativa visa reflectir sobre dois pontos cruciais: o papel fundamental das centrais hidroeléctricas no desenvolvimento dos países e da região, e a gestão da produção hidroenergética num contexto de eventos climáticos severos, como as secas prolongadas e as cheias. Este diálogo é considerado essencial para o futuro da segurança energética.
Abordando o cenário actual, Tomás Matola fez uma declaração contundente sobre as condições climáticas que afectam a operação da HCB. Ele descreveu a situação como um “momento muito crítico”, referindo-se à seca que assola a bacia do Zambeze desde o final de 2023 e o início de 2024, impulsionada pelo fenómeno El Niño. Esta condição hidrológica adversa não se limita apenas à HCB, mas também impacta outras barragens importantes a montante, como Kariba e o sistema de Kafue, forçando a HCB a fazer compromissos complexos com os seus clientes devido aos reduzidos níveis de armazenamento de água.
Matola aprofundou o impacto sem precedentes desta crise hídrica na região, destacando a sua gravidade histórica e as implicações directas para a capacidade de produção de energia. Ele assegurou, no entanto, que a HCB está a empreender esforços máximos para manter a estabilidade operacional e o fornecimento essencial aos seus clientes, mesmo em condições tão desafiadoras.
“Esta é a seca mais severa dos últimos 40 anos. Nós, Hidroeléctrica do Cahora Bassa, e as barragens a montante, nomeadamente Kariba e o sistema de Kafue, todas essas barragens, incluindo a HCB, têm estado a enfrentar desafios significativos, em virtude do baixo nível de abastamento de água, porque não chove já há bastante tempo. O que temos a fazer, de acordo com modelos científicos, equipamentos científicos de água, de energia, que nós utilizamos para a gestão de água da barragem, eles têm que nos indicar quais são as quantidades de energia que nós temos que produzir, que nos vão permitir continuar a produzir, ainda que seja em baixas quantidades, e fornecer energia até a normalização da situação.”
O PCA detalhou a estratégia de gestão da HCB face à escassez de água, sublinhando que a empresa adopta uma abordagem estritamente científica na operação da barragem. Esta metodologia permite determinar as quantidades de energia a produzir que garantam a sustentabilidade do fornecimento, mesmo em condições de baixo volume. Matola deu como exemplo a decisão de reduzir a produção no ano passado para garantir a continuidade até à época chuvosa, com base em previsões meteorológicas. Ele fez questão de reforçar a transparência e a base técnica da gestão da HCB.
“Apesar de alguns comentários que têm havido por aí relativamente ao nível de abastamento da água, nós fazemos uma gestão da barragem de forma científica e não usamos uma fórmula de energia económica, estamos usando poderes científicos do equipamento como nós fazemos em desenvolvimento, que nos diz o que é que é preciso fazer em cada momento. E fazemos uma medição diária, às zero horas de cada dia, nós fazemos um registro e publicamos.”
Para além dos desafios atuais, Tomás Matola ressaltou o papel crucial da HCB como um dos maiores contribuintes para o Estado moçambicano. A empresa tem demonstrado uma consistente capacidade de gerar receitas e impostos, reforçando a economia nacional e a sua posição como um activo estratégico para o desenvolvimento do país.
“Naturalmente, depois da produção, depois do início da economia, sobre o imposto de taxas, desde 2007 até 2014, a empresa contribuiu com cerca de 150 bilhões de meticais. Sobre o período de dois anos, de 2023 até 2024, a empresa já impôs ao Estado cerca de 37 bilhões de meticais, o que expõe a 32% da produção de fogo no período depois da produção. Portanto, entendemos que a empresa é o grande contribuidor nacional e foi o que levou a esse ano, pela segunda temporada, o maior contribuidor individual.”
Olhando para o futuro, o PCA Matola delineou uma visão ambiciosa para a HCB, que envolve a modernização e a expansão de sua capacidade de produção. Ele reconheceu que o parque gerador da empresa está obsoleto, mas destacou que projectos de reabilitação já foram concluídos, incluindo a central de geração, a subestação e as linhas de transporte. A visão estratégica da HCB, conforme Matola, é de crescimento significativo para atender à crescente demanda de energia na região.
“A nossa visão, do nosso plano estratégico de 2020-2024, é de atingir, até 2034, uma capacidade máxima de 4 mil megavolts, para tornar Moçambique uma das maiores produtoras de energia da região.”
Esta expansão incluirá projectos como a central de Mphanda Nkuwa, que deverá adicionar 1.500 MW à capacidade da HCB, além de outras fontes de energia renováveis como a solar e o gás. A HCB, demonstra assim uma dupla aposta: enfrentar os desafios climáticos com rigor científico e, simultaneamente, consolidar a sua posição como um líder incontornável na produção de energia, contribuindo significativamente para o desenvolvimento económico e social de Moçambique e da região.

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