Apesar de ganhar a votação, Alberto Ferreira “não foi querido para poder se querer”

DESTAQUE POLÍTICA
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  • Em eleições à moda Roque Silva, PODEMOS muda as regras no meio do jogo
  • Ferreira ganhou por maioria simples e foi surpreendido por uma regra que não existe
  • Estatutos não falam de maioria de 50+1. Invenção ocorreu após Ferreira ganhar
  • Após confusão, segunda volta está marcada para daqui a duas semanas em Maputo

O que parecia ser um momento de festa e demonstração de crescimento por parte do PODEMOS, terminou, este domingo, em escaramuças, com membros divididos e a trocarem insultos e acusações entre si, após a direcção do partido ter decidido mudar as regras no meio do jogo para impor uma polémica segunda volta, não prevista nos estatutos, após uma eleição ao cargo de secretário-geral ganha pelo académico Alberto Ferreira. Evidências apurou que a eleição do ex-deputado da Renamo, que recentemente regressou ao partido que ajudou a fundar, terá baralhado as contas da liderança do partido que já tinha um candidato predestinado, tendo, por isso, de forma providencial decidido simular um debate baseado no facto de os estatutos serem omissos em relação ao facto de nenhum candidato ter conseguido 50% dos votos.

Elísio Nuvunga

A eleição para o novo Secretário-Geral, realizada na cidade da Matola durante a 11ª Sessão do Conselho Nacional, terminou sem vencedor, marcada por confusões, desistências e protestos que revelam fragilidades na estrutura organizacional e estatutária da força política.

A eleição tinha como principal objectivo substituir Sebastião Mussanhane, actual deputado e chefe da bancada parlamentar do PODEMOS na Assembleia da República (AR), mas a votação acabou por ser interrompida antes de se encontrar um sucessor. Dos quatro candidatos que se apresentaram, nenhum conseguiu atingir os 50% exigidos, de acordo com as normas partidárias.

Alberto Ferreira foi o mais votado, com cerca de 38 votos e já se considerava o novo secretário da agremiação, seguido por Stélio António com 28 votos. Ferreira até chegou a festejar e partilhou com a imprensa as linhas que iriam orientar a sua liderança.

“Enquanto secretário-geral do partido PODEMOS agradeço a todos membros que me apoiaram e fizeram de tudo para, que eu ao voltar ao PODEMOS pudesse dar mais força ao PODEMOS. Agora vencemos. Venceu o bem, o que quer dizer que é preciso restruturar e reorganizar. Nós queremos que o PODEMOS seja o maior e firmar-se como partido porque vamos precisar em todo este processo tornar o PODEMOS mais forte, sólido e unido. Todos aqueles que querem apoiar o PODEMOS, nós estamos de mão abertas. Até Venâncio Mondlane há-de vir e vamos fazer uma força única para irmos mais adiante”, declarou Ferreira visivelmente feliz.

Mas, debalde. A sua felicidade foi efémera. Ainda mesmo a falar à imprensa foi informado de que os resultados não eram definitivos. No reatamento da sessão, os delegados foram informados de que, apesar de não estar previsto nos estatutos qualquer obrigatoriedade de a eleição ser por maioria de 50+1, haveria uma segunda volta.

Frustrado por ver o campo inclinado e vendo movimentações, incluindo uma declaração de apoio dos outros candidatos ao seu directo perseguidor, que amealhou 28% dos votos, Alberto Ferreira, que tinha vencido o pleito mas não foi querido, alegou falta de clareza nas regras do jogo e manobras nos bastidores que ameaçavam a sua eleição, caso se fosse à segunda volta.

“Os estatutos não são bastantes claros desde o início. Como não são claros, isso significa que a pessoa que ganha, ganha com a maioria simples porque, se não fosse o caso, a Comissão de Eleições teria dito anteriormente quais são as regras, e as pessoas poderiam esperar para fazer a segunda volta, caso isso se sucedesse. Quando não se pretende a maioria absoluta, o que se faz é a maioria simples, então se não se disse nada sobre a maioria simples ou absoluta, por que mudar agora?”, indagou.

E porque os estatutos não são claros, Ferreira decidiu retirar a sua candidatura para o seu bom nome e imagem. Aliás, Ferreira afirmou sentir-se traído e denunciou gestos de manipulação interna.

“Eu preferi retirar-me porque há uma tendência, há quem tem o seu candidato e esse candidato não deve ser Ferreira. Houve gestos ou manipulações. Isto é Moçambique e funciona assim porque não há clareza na vitória de todas as coisas. Aqui não é questão da CNE, é também uma questão de integridade que começa a partir das organizações, portanto a democracia deve começar no partido ”, referiu.

Haverá segunda eleição dentro de duas semanas

Depois da confusão e retirada da candidatura por parte de Alberto Ferreira, o presidente do partido PODEMOS, Albino Forquilha, comunicou que a 11ª sessão do partido será retomada dentro de duas semanas para a realização da segunda volta e conclusão da agenda.

“Foram muitas questões discutidas e não conseguimos concluir toda a agenda. A decisão da sessão foi retomar os trabalhos dentro de duas semanas, continuando exactamente do ponto onde parámos”, explicou Forquilha.

Entre os assuntos pendentes está o processo eleitoral interno, que não chegou a uma conclusão definitiva. Segundo o líder do partido, nenhum dos quatro candidatos obteve mais de 50% dos votos, o que impossibilitou a proclamação imediata de um vencedor.

“Como nenhum dos quatro candidatos conseguiu alcançar a maioria absoluta, decidimos avançar para uma segunda volta, que contará com os dois candidatos mais votados: Alberto Ferreira e Stélio António”, revelou, reconhecendo, no entanto, que “o estatuto é omisso quanto a isso. Somos um partido jovem, em construção, e ainda não temos um regime eleitoral interno bem definido. Por isso, baseamo-nos no regime geral e na soberania da sessão deliberativa”, esclareceu, subscrevendo a posição da ala dominante.

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