Venâncio Mondlane acusa embaixador da União Europeia de falsidade e classifica diálogo político como “palhaçada”

POLÍTICA
Share this
  • Líder da ANAMOLA com aparentes sinais de incoerência, e arrisca-se, por outro lado, a ser isolado por parceiros externos
  • Viu negado pedido de fazer parte da Comissão Técnica e recebeu só recados sobre a sua carta

Depois de ouvir da boca do Presidente da República, Daniel Chapo, que “Ninguém precisa de cartas para participar no diálogo nacional inclusivo”, numa referência à sua missiva para a integração do seu partido da Comissão Técnica,  o ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane (VM) elevou o seu tom de críticas ao processo de diálogo político cuja fase de auscultação mais abrangente foi lançada na passada quarta-feira. O polótico foi mais longe acusando o embaixador da União Europeia (UE), Antonino Maggiore, de falsidade e denunciando o que considera ser uma “encenação” sem legitimidade.

Evidências

Em declarações públicas, Mondlane afirmou que não pode haver diálogo credível enquanto persistirem casos de tortura, prisões arbitrárias e interferência político-partidária no sistema judicial.

“São torturadas pessoas, fabricam-se provas falsas e há interferência político-partidária no sistema de justiça. Então, que diálogo é esse sem haver reparação disso? É tudo uma falsidade”, afirmou.

O opositor mostrou-se indignado com o posicionamento do embaixador da União Europeia, a quem chamou de “falso e irónico”. Segundo Mondlane, o diplomata declarou que os 27 Estados-membros da União Europeia apoiam as iniciativas do Governo moçambicano, mas essa afirmação, na sua leitura, não corresponde à verdade.

“O diálogo é falso totalmente. Esse senhor é um falso, um irónico, porque nenhum Estado europeu está de acordo com um governo que mantém presos políticos por um ano, que se envolve em sequestros e crimes”, acusou.

Mondlane disse, ainda, que, durante a sua passagem pelo Parlamento Europeu e por parlamentos nacionais de Estados da UE nunca encontrou respaldo para as práticas que associa ao Governo moçambicano. Criticou também o silêncio do embaixador europeu sobre questões de direitos humanos, como abusos policiais, detenções arbitrárias e assassinatos.

Visivelmente agastado, o político insistiu que o actual modelo de concertação é “um diálogo de faz-de-contas, de hipócritas e burladores”, defendendo que só um processo inclusivo, com respeito pela dignidade dos cidadãos e justiça para as vítimas, pode abrir caminho para a reconciliação nacional.

Curiosamente, Mondlane manifestou em várias ocasiões o interesse em integrar a Comissão Técnica do Diálogo, pedido que acabou recusado. O argumento oficial foi claro: apenas os signatários do compromisso político que deu origem ao diálogo têm assento nas instâncias formais do processo, critério consagrado na lei e publicado em Boletim da República. Ou seja, a exclusão de Mondlane não decorreu de simples arbitrariedade, mas de um quadro normativo previamente estabelecido.

É neste ponto que as críticas de Mondlane parecem colidir com a sua própria narrativa. Se por um lado deslegitima o processo, classificando-o de “fantochada” e “grandíssima palhaçada”, por outro já havia demonstrado vontade de nele participar, mesmo reconhecendo as regras que delimitam quem tem assento à mesa. Essa oscilação fragiliza a força do seu discurso, deixando margem para acusações de incoerência política.

Do ponto de vista diplomático, os ataques directos ao embaixador da União Europeia soam ainda mais arriscados. A UE tem sido um dos principais parceiros de Moçambique em áreas cruciais como apoio orçamental, programas de desenvolvimento e financiamento de missões de paz. Ao transformar divergências políticas internas em confronto aberto com a representação europeia, Mondlane corre o risco de isolar-se no mesmo terreno em que pretende projectar influência.

Ao radicalizar o discurso e ao mesmo tempo já ter manifestado interesse em estar dentro do próprio processo que agora descredibiliza, Mondlane enfrenta uma contradição que enfraquece a sua posição de crítico e pode ser explorada pelos seus adversários políticos.

Promo������o
Share this

Facebook Comments