Um dia depois do arranque da segunda fase da vacinação, o Observatório do Cidadão para a Saúde (OCS) defende que o Governo deve explicar aos moçambicanos porquê decidiu ignorar as polémicas em torno da vacina da AstraZeneca e prosseguir com a administração da vacina produzida pelo Serum Institute da Índia.
No seu boletim desta terça-feira (20), a OSC lembra que há países que decidiram suspender a vacinação com a AstraZeneca e outros optaram por administrar em pessoas com 60 anos e ou mais, por se revelar eficaz e sem efeitos colaterais nas mesmas.
O ministro da Saúde, Armindo Tiago, disse em Março, que a avaliação do Centro de Controlo de Doenças (CDC-África), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Sociedade Europeia de Medicamentos mostrou que a vacina tem eficácia e o seu uso pode ser continuado em qualquer país.
Diferente de outros países, que mostram cepticismo em relação à vacina e que estão a realizar estudos (com participação das respectivas comissões científicas), Armindo Tiago preferiu assumir o uso da AstraZeneca.
OCS diz-se preocupado com a forma como o ministro da saúde tratou a questão da vacina da AstraZeneca, ignorando todas as tendências internacionais de encontrar explicações científicas e seguras de utilização da vacina.
“O silêncio de Moçambique com relação a este assunto é deveras preocupante. Moçambique devia tomar um posicionamento com relação a este assunto que a nível do mundo tem estado a trazer problemas”, lê-se no documento partilhado com a redação do Evidências.
Moçambique já recebeu 384 mil doses de vacina da farmacêutica AstraZeneca doada através do mecanismo COVAX, que deverá apoiar, segundo as autoridades no acesso equitativo de imunizantes contra a Covid-19.
O cepticismo sobre a AstraZeneca espalha-se a nível global. Na Europa, vários países, incluindo a Alemanha, anunciaram a suspensão temporária da administração da vacina na sequência de relatos de efeitos colaterais – como formação de coágulos no sangue e mortes.
Mais de 20 países da Europa, Ásia e América já suspenderam a aplicação da vacina da Oxford/AstraZeneca contra a Covid-19, após relatos de formação de coágulos sanguíneos em pacientes que receberam doses.
A Áustria foi o primeiro país a suspender o uso da vacina, no dia 7 de março. Noruega e Dinamarca seguiram o exemplo austríaco quatro dias depois. No dia 12, a Tailândia se tornou o primeiro país não-europeu a suspender a vacina.
Alguns países, como é o caso da Itália, utilizam a vacina preferencialmente em pessoas com mais de 60 anos de idade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), foram constatados apenas 86 casos de trombose em uma população de 25 milhões de imunizados na Europa até 22 de Março, o que significa 0,0003% do total.
Em África, a República Democrática do Congo (RDC), que ainda não iniciou a sua campanha de vacinação, mas foi o primeiro país a conter o uso da AstraZeneca/Oxford.
Cabo Verde seguiu o mesmo caminho. O Ministério da Saúde arrancou com a vacinação, por precaução, apenas com vacinas da parceria entre as empresas Pfizer e BioNTech, enquanto são aguardados esclarecimentos sobre a segurança das da AstraZeneca.
Nos Camarões, onde ainda não chegou o primeiro lote de vacinas, a decisão é a mesma.
“O conselho científico sugere que não utilizemos esta vacina até que as investigações preliminares estejam concluídas. Receberemos as doses planeadas, mas mantê-las-emos até que as diretrizes sejam claras”, esclareceu o ministro da Sáude camaronês, Manaouda Malachie.
Em Moçambique, a administração da segunda dose da vacina contra o novo coronavírus terminou no dia 2 de Abril e abrangeu mais de 60.000 profissionais de saúde.
Além dos profissionais de saúde, foram também abrangidos idosos em lares, trabalhadores em morgues e coveiros, grupos que tomaram a primeira dose da vacina entre 08 e 12 de março, quando foi lançada a campanha de vacinação no país.
Moçambique espera receber, até maio, mais de 1,7 milhões de vacinas no âmbito da iniciativa Covax, lançada pela Organização Mundial da Saúde para garantir o acesso às vacinas pelos país mais pobres.
O país espera vacinar 17 milhões de pessoas até 2022, excluindo-se os menores de 15 anos e as mulheres grávidas. Moçambique recebeu até agora 200.000 vacinas da China, outras 384.000 doadas no âmbito da iniciativa Covax e 100.000 pela Índia.
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