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A política de Guebuza

Dionildo Tamele

A audição do antigo chefe do Estado, Armando Emílio Guebuza, na tenda das revelações, desiludiu aos moçambicanos, não deixando de modo algum o papel do tribunal que esteve além daquilo do que devia ter sido um tribunal independente, o que não se fez nesta audição. Não é a nossa intenção atacar o antigo chefe do Estado, muito menos o trabalho do tribunal na procura da verdade material.

Entende-se a tentativa deste de lavar a sua imagem perante a sociedade, que já estava suja por causa deste escândalo financeiro que colocou o país numa situação deplorável ao nível doméstico e internacional no tange ao sistema financeiro.

Mas não se pode deixar de dizer que o nosso senso comum está além da compreensão e do alcance da locução do antigo chefe do Estado, teriam dito que a da Procuradoria da República e o juiz não estavam preparados para o interrogar, como se isso respondesse a ansiedade dos moçambicanos, não obstante trazer a justiça e muito menos a responsabilização dos culpados. Até porque o antigo chefe do Estado tem culpa no cartório, mesmo quando ele diz que assumia a responsabilidade enquanto chefe do Estado e depois deixava toda a responsabilidade ao chefe do comando operativo, o que mostra claramente que ele apenas mente para a sociedade sem sentir vergonha e pena da situação em que a economia está.

Na verdade, o que se pode depreender da ida de Guebuza ao tribunal são dois aspectos. Primeiro, ele tentou ludibriar os moçambicanos, e como já havíamos dito no início do texto que estes moçambicanos chegaram a dizer que o tribunal e a procuradoria não estavam preparados da melhor maneira para ouvir a fonte, não obstante o declarante ser de luxo e ter se apropriado, na sua comunicação, da dialética para contrapor ao tribunal e aos restantes sujeitos processuais.

Um outro aspecto de extrema importância está relacionado ao facto dele ter mentido diversas vezes, desde a falta de memória e o esquecimento, até a não conhecimento do amigo íntimo do filho.

Eu, particularmente, acho que o antigo chefe do Estado é sobrevivente político no sentido mais lato da nossa política. Quem se desafiar um pouco para poder fazer um mero exercício de uma mera radiografia do percurso histórico de Guebuza vai ter de concordar comigo, que ele é apenas um sobrevivente na arena política nacional.

Se partirmos das premissas levantadas pelo ícone do jornalismo investigativo moçambicano, Carlos Cardoso, morto em 2000, no seu artigo escrito em 1997, com o seguinte título “Guebuza não”, o seu argumento central é que esta figura era incompetente, corrupta, metia medo nas pessoas, não esquecendo o facto da mesma figura ora em análise ter sido muito combatido quando Samora governava o país, para além de dizer que no partido Frelimo há outros sucessores possíveis para Chissano, apesar de nenhum deles, depois da morte de Samora Machel, ter defendido o país contra a pilhagem desenfreada das nossas riquezas, tem no seu CV muitos mais méritos do que Guebuza para o cargo do PR. Não se pode negar que alguns factos abordados por este jornalista são reais, mas não deve negar a capacidade visionária de Guebuza enquanto chefe do Estado, desde o conceito do empreendedorismo, que passou a ser a música dos jovens e de todo os moçambicanos, tenho mais reservas no que tange a incompetência do Guebuza, se partirmos de factos da suas realizações, comparado com o anterior a ele e depois o seu sucessor que o país verificou.

Para os cultores de ciência política ou sociologia política devem saber que ler o livro de Maquiavel, com seguinte título “Princípio”, o argumento central é compreensão da política de forma profunda, o que no sentido de política não é o dever ser, mas aquilo que se vive na realidade, desde os problemas de transportes, pão, habitação que preocupa os jovens, emprego, o acesso ao ensino primário até ao superior, a escala nacional, o que constitui ainda uma grande preocupação da sociedade moçambicana.

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