- Em plena semana que se assinala a passagem de cinco anos desde o primeiro ataque
- Cinco crianças desaparecidas há uma semana no distrito de Chiúre
- Regressados foram recebidos com fogo nas zonas de origem e voltaram a fugir
Numa semana em que foi assinalada a passagem de cinco anos desde o primeiro ataque terrorista conhecido em Moçambique, os insurgentes voltaram a elevar a fasquia do terror lançando ataques em vários povoados, em pelo menos quatro distritos. No distrito de Chiúre, cinco crianças são tidas como desaparecidas desde o dia 02 de Outubro, depois de terem saído para a mata com o objectivo de caçar animais de pequeno porte, o que faz aumentar os temores de que o pior aconteceu.
Evidências
É uma notícia que está a chocar os residentes da vila de Chiúre, deixando não só as famílias em desespero total, como também parte da comunidade. As autoridades dizem não ter pistas, uma semana depois do seu desaparecimento.
Trata-se de quatro menores e um adolescente, com idades entre 10 e 15 anos de idade, que naquele domingo (2), despediram os país e seus encarregados de educação alegando que iam à mata caçar animais de pequeno porte, uma prática comum nalguns povoados de Cabo Delgado.
Além de estarem acompanhadas de um cão, os meninos teriam levado consigo alimentos como arroz e farinha de mandioca seca, e outros instrumentos de caça, mas volvidos mais de sete dias ainda não regressaram às suas casas, para o desespero dos pais que alertaram imediatamente a polícia.
Desesperadas, as famílias iniciaram as buscas na mata, no entanto até aqui sem sucesso. Uma das mães dos jovens, acompanhada de familiares, chegou a permanecer cinco dias na mata, mas foi debalde.
Celestino Mário, um morador da vila de Chiúre, conta que a medida que o tempo vai passando o desespero toma conta das famílias e da comunidade que aventa já a possibilidade de terem sido raptados, assassinados ou mesmo devorados por felinos, mas esta última é uma possibilidade remota, pois dificilmente cairiam os cincos na mesma emboscada.
Dois raptos e vários deslocados em Muidumbe
Ainda que tenham reduzido as incursões na maior parte dos distritos da província de Cabo Delgado, os terroristas continuam activos no distrito de Muidumbe, concretamente nas zonas baixas das aldeias Litapata, Mandela, Naida e Mandava.
Além de terem sido vistos a circular nessas áreas, os terroristas centraram as suas acções na aldeia Mandela, onde provisoriamente ocuparam, até que foram escorraçados pelas forças locais e rumaram às zonas de Naida, onde queimaram palhotas da população e na zona baixa da aldeia Mandela raptaram duas pessoas, sendo uma mãe e seu filho, na última quinta-feira.
O comandante-geral da PRM tinha admitido à jornalistas na cidade de Pemba, no balanço das acções de combate ao terrorismo nos últimos cinco anos, em Cabo Delgado, que pequenos grupos tinham se refugiado nas matas de Nkoe, em Macomia, e baixas de Litapata, no distrito de Muidumbe.
Famílias deslocadas sem assistência
As frequentes movimentações dos terroristas na semana passada, nas baixas do distrito de Muidumbe, obrigaram várias famílias, na sua maioria recém-regressadas de locais onde desde 2020 tinham se refugiado a abandonar mais outra vez, para zonas ainda consideradas seguras no distrito de Muidumbe.
Assim, muitas famílias estão acolhidas em casa de familiares nas aldeias de Muambula, Namacande, Miteda e Matambalele, entretanto ainda sem assistência alimentar ou de qualquer outro tipo por parte das autoridades competentes.
Manuel Zito, residente de Matambalele, contou ao Evidências que ” chegaram muitas famílias saindo lá na zona baixa e até outras foram à Mueda para descansar. Não tem apoio aqui, as pessoas estão a viver assim mesmo”.
Evidências tem indicações que, em finais de Setembro, o mesmo grupo teria atravessado o limite de Muidumbe até Mueda, o centro das operações do Teatro Operacional Norte, atacando a aldeia Omba, cerca de 50 quilómetros da vila sede, onde um elemento das forças locais foi degolado.
Na sequência da última sexta-feira (7), os meios de propaganda do Estado Islâmico espalharam uma reportagem fotográfica em que ilustram seus homens decapitando o referido elemento da força local, queimando casas, uma viatura e destruindo uma estátua do herói nacional Eduardo Mondlane.
Dois ataques em um dia no distrito de Macomia resultam em um morto
As aldeias Nguida, no posto administrativo de Macomia-sede e Litandacua, no histórico posto administrativo de Chai, no distrito de Macomia, foram mais outra vez atacadas na noite do último sábado, 8 de Outubro. A acção é atribuída aos terroristas, que se acredita terem já fixado uma nova base próximo daquelas aldeias.
Os dois ataques aconteceram em simultâneo, segundo as fontes do Evidências, por volta das 20 horas, enquanto os residentes preparavam-se para dormir, de repente vários disparos foram ouvidos e a população entrou em pânico e fugiu para a mata.
De acordo com relatos, em Nguida, os terroristas antes de queimarem casas, lançaram vários disparos. Alguns residentes disseram que era uma estratégia para certificarem-se da presença ou não das Forças de Defesa e Segurança nas proximidades. Sem resposta entraram e geraram terror.
Nguida não está longe de Nkoe, onde em Setembro findo pelo menos 16 militares foram mortos em um assalto ao quartel pelos terroristas, que supostamente se vingaram da morte de seus líderes pelas FDS, à 7 de Setembro, num ataque contra a sua base.
Em seguida, os terroristas queimaram 13 casas, enquanto saqueavam bens da população, que estava em fuga como produtos alimentares, e animais domésticos, com destaque para galinhas, e num período de 30 minutos abandonaram a aldeia.
Um pequeno comerciante local disse que a população estava em fuga e que ao amanhecer deste domingo alguns já tinham abandonado às aldeias Licangano e Liúkwe, enquanto outros populares esperavam por viaturas de transporte público.
O comerciante local informou que o medo tinha tomado Nguida, uma das poucas aldeias de Macomia, que não tinha sido abandonada totalmente. No dia 2 de Outubro, os terroristas tinham atacado a aldeia Nguida, onde queimaram cinco casas e um celeiro.
De acordo com as fontes do Evidências, na aldeia Litandacua, o outro grupo de terroristas queimou diversas casas e uma pessoa foi morta durante os disparos. Também houve saque de bens da população, que igualmente está a abandonar a região para a vila de Macomia.
Na semana passada, o Comandante-Geral da PRM, Bernardino Rafael, tinha dito que grupos terroristas expulsos da base Kathupa, nas proximidades do rio Messalo, já tinham se refugiado à zona de Nkoe, ainda no distrito de Macomia.
Nkoe faz parte de uma serra denominada Muapé, caracterizada por grandes árvores, na qual se acredita que os insurgentes estão fixados. Nas proximidades da serra estão as aldeias Nguida, Nkoe, Nova Zambézia, Liukwe, Litamanda e Licangano.
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