Afonso Almeida Brandão
Neste meio século de Jornalismo exercido, initerruptamente, em diversos Órgãos de Informação Portugueses, Moçambicanos e Ingleses, em algumas cidades de Moçambique, Portugal, Inglaterra, EUA e na Irlanda, quer nas áreas da Imprensa Escrita, Radiofónica e Televisiva, posso assegurar que tem sido até hoje uma experiência incrível e muito enriquecedora. E posso afirmar, seguramente, que tenho ainda muito para dar de mim aos Nossos Leitores, estejam eles onde estiverem.
Há um princípio do Jornalismo que me tem feito pensar muito e, ao mesmo tempo, me tem obrigado a confrontar com o Evangelho (imagem!), embora tenha sido baptizado ainda criança e não seja hoje uma pessoa crente como adulto. Contudo, há vários critérios para a Agenda Mediática: Um dos critérios ajudou-me ao longo destes 52 anos de profissão a compreender a necessidade do desenvolvimento do Evangelho na Sociedade Contemporânea, seja ela de que Latitude for.
Como é que a Agenda Mediática elege uma Notícia? Um dos principais critérios é o seguinte (como dizem os ingleses): “Bad news are good news and good news are no news” (Más notícias são boas notícias e boas notícias não são notícias). Este princípio é transversal a toda a Agenda Mediática, em minha opinião. Se repararmos, são poucas as notícias que anunciam algo de BOM e de MARAVILHOSO para a Vida do Homem. Sempre que existe um desastre, uma morte, uma guerra, um erro, um escândalo, as notícias movimentam-se para aí. É só lermos o que é publicado na Informação Moçambicana, a título de exemplo.
Temos várias desgraças em mãos — a Guerra em Cabo Delgado, no Norte do nosso País, e a Guerra na Ucrânia, com a Invasão da Rússia a um País Livre e Democrático.
Mas, paralelamente, vemos que por cá a Corrupção a aumentar, o Roubo Vergonhoso de alguns Governantes também em crescimento e ex-Responsáveis do anterior Governo — onde se incluiem dois Presidentes da República — Guebuza (no Passado) e Nyusi (no Presente), além de Quadros Superiores de Instituições do Estado Moçambicano implicados na “marosca” — como é o caso do Ex-Governador do Banco de Moçambique, Ernesto Gouve…
E a Miséria continua a imperar na maior parte do nosso Povo, com a particular incidência em áreas como a Educação, a Saúde, a Segurança dos Cidadãos (por falta de Policiamento) e também na Falta de Emprego que continua a ser o maior flagelo dos Moçambicanos…
Ou seja, com tudo isto, as duas Guerras de que falamos acima acabam por passar para o segundo plano, porque nos é mais próximo o Julgamento da “cambada” envolvida no Desvio de Milhões de Dólares USD, a decorrer na BO — apesar de se tratar de um caso que “não ata nem desata” — e assim só nos resta esperar, alegremente, por dias melhores e pelo desfeixo deste caso que tarda por “compadrio” do Tribunal que não tem feito outra coisa senão adiar sucessivamente o seu resultado final há muito aguardado…
Chegados aqui questiono a razão por que será que este princípio me ajudou a compreender o Evangelho? Exactamente porque o Evangelho é uma boa notícia e, portanto, contrária ao princípio da má notícia inerente à Agenda Mediática atrás mencionada.
Esta enxurrada de más notícias provoca, seguramente, um impacto negativo e depressivo em todos nós. É evidente que quem ouve as notícias diariamente há-de pensar que estamos a caminhar para o Precipício — e de certo modo talvez estejamos. Acontece que o Mundo é feito de uma enormidade de coisas e de gestos às vezes até heroicos, mas que ninguém fala.
Este impacto negativo das más notícias cria, no nosso interior, diferentes sentimentos. Algumas vezes sentimo-nos revoltados. Outras vezes sentimos ódio. Outras ainda desejamos a morte a tanta gente.
Estes ataques dos insurgentes a Cabo Delgado, sabe-se Deus “a mando de quem” — e a Invasão da Rússia no território da Ucrânia — têm ido buscar os melhores e os piores sentimentos que coexistem no meu interior. Vejo muitas vezes tanques russos a serem destruídos pelo Exército ucraniano e à matança indiscriminada dos insurgentes, em Cabo Delgado, às populações moçambicanas civis inocentes, envolvendo a morte de crianças, mulheres e velhos; bens saquiados, destruição de casas e estabelecimentos comerciais, em suma, um horror indiscritivo.
Se por um lado o meu interior me diz que a Justiça está a acontecer, dou comigo muitas vezes a pensar que dentro daqueles tanques russos e habitações pobres de cidadãos moçambicanos estão crianças, mulheres e homens como eu.
É verdade, dentro dos tanques russos estão homens e mulheres como todos nós, que, seguramente, queriam viver e constituir família, mas que com aqueles bombardeamentos vão desaparecer da face da Terra para sempre. O mesmo acontece em Cabo Delgado com os tiros e “a matança” indiscriminadamente…
É necessário pensar que os russos e os moçambicanos são homens, como nós! Se não pensarmos que os Moçambicanos e os Russos são homens como nós, perdemos a nossa Humanidade. Somos muitas vezes levados a olhar para estes dois conflitos como uma espécie de jogo de computador de uns contra os outros e que quando abatemos os inimigos rejubilamos.
Na realidade, isto não é um jogo… isto são pessoas. É evidente que a Ucrânia tem de exercer o seu Direito de Legítima Defesa. Não tenho a menor dúvida. É evidente que a Rússia está a invadir um Território Soberano. Também é evidente que há atrocidades que foram cometidas pelo Exército Russo que não podem ser ultrapassadas de ânimo leve e que, em relação a Cabo Delgado, os “interesses mesquinhos” são outros comandados, sabe Deus por quem. Lá, como Cá, os horrores da Guerra continuam e estão para durar. Infelizmente!
Os dircusos estão todos enviesados e todos temos noção disso. Quer o que acontece por lá, quer com o que acontece connosco. Dizem os russos que os ucranianos estavam a maltratar os russófonos e era preciso defendê-los.
Como é que eles os foram proteger? Destruindo-lhes as casas! Então, agora temos “os falantes” de russo na Ucrânia protegidos pela Rússia, mas sem abrigo. E que podemos dizer sobre a População Moçambicana e dos motivos que levam os insurgentes a matar, a destruir, a roubar e a violar as nossas Mulheres e Crianças?
Apesar de tudo isto, temos de pensar que dentro de cada taque (no caso dos Russos) e de cada habitação destruída (no caso da Popução Moçambicana) não estão bonecos, soldados ou civis simplesmente. Dentro de cada tanque e de cada casa moçambicana estão homens, mulheres, jovens e crianças que irão perder as suas Vidas para sempre.
Será que ninguém tem consciência desta desgraça…?!

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